Proposta de Integração dos Arquivos Regionais


O segundo dia do Encontro de Pesquisdadores do Caminho Novo começou com a palestra de José Guilherme Ribeiro, que abordou os padrões existentes para a implantação de uma rede de arquivos e os modelos de funcionamento do Arquivo Online da Califórnia (EUA) e do Portal Português de Arquivos. Informou que o projeto já foi iniciado com duas instituições de Juiz de Fora.
A padronização é essencial para a formação da rede, permitindo a migração das descrições para a internet e o acesso por diferentes meios. Entretanto, a padronização dos arquivos é relativamente tardia se comparada, por exemplo, ao que ocorreu na Biblioteconomia, cujo estabelecimento de normas de descrição e codificação vem de longa data. Na Arquivologia isto começa por volta de 1980 e vai resultar na criação da ISAD (G) – Norma Internacional de Descrição Arquivística, em 1994. Este instrumento fixa as normas como devem ser feitas as descrições e, consequentemente, a criação dos instrumentos de pesquisa em arquivos. Em 2006 é adaptada para a realidade brasileira, surgindo então a NOBRADE – Norma Brasileira de Descrição Arquivísitica.

A NOBRADE fixa um certo número de elementos para a descrição de qualquer unidade de um acervo arquivístico, como título, data, conteúdo e outros que vão constituir a referência das unidades. Dentro do conjunto de elementos, destaca o número mínimo de elementos e normatiza a possibilidade de acréscimo de novos elementos. Além disto, fixa a estrutura hierárquica para os elementos, já que os níveis de descrição arquivística são vistos como uma hierarquia. Por exemplo: o Fundo contém Séries, que por sua vez contém Subséries, as quais contêm itens e assim por diante. Desta forma os elementos ficam organizados numa árvore de hierarquia estruturada. 

Como exemplo da aplicação da norma, o palestrante mostrou duas descrições e explicou os elementos ali presentes. Ressaltou que tanto a NOBRADE como a ISAD não determinam o modo de veiculação das informações, permitindo que o conjunto possa ser utilizado em formato texto, planilha ou html. 

Um dos formatos é sugerido pela EAD - Encoded Archival Description (descrição arquivística codificada), escrevendo as descrições em linguagem xml para divulgação na rede mundial de computadores. Resultado de um projeto iniciado nos Estados Unidos no início dos anos de 1990 que não tinha por objetivo padronizar a descrição arquivística, mas investigar diversas modalidades possíveis de construir um instrumento para descrições em formato digital. Foi iniciado na época da ISAD (G), razão pela qual pretendia ser compatível com ela.  Tem se firmado como padrão internacional, utilizado especialmente no intercâmbio de descrições arquivísticas. 

Todos estes sistemas trazem conceitos importantes, disse José Guilherme. O primeiro deles é que a padronização e a criação de instrumentos de pesquisa modelares facilitam ao usuário final um aprendizado natural do método, permitindo-lhe melhor explorar os acervos. Além disso, a padronização facilita a manipulação dos instrumentos pelos recursos digitais. Outro aspecto beneficiado é a troca de informações, permitindo a formação de bancos de dados unificados. No que se refere à construção de redes, a padronização permite que cada instituição mantenha sua autonomia ao mesmo tempo em que compartilha as descrições, não sendo necessário que o órgão centralizador altere o formato de localização das unidades arquivísticas em cada arquivo participante da rede.

A seguir o palestrante discorreu sobre o Arquivo Online da Califórnia, que reúne mais de duzentas instituições. Vinculado ao projeto EAD, permite acesso às descrições e às imagens digitais dos documentos. Reúne bibliotecas e museus públicos e de universidades. Seu modelo é o de banco de dados centralizado, ou seja, todas as instituições participantes do projeto permitem o acesso on line às descrições através do Arquivo Online da Califórnia. 

Foi projetada a imagem do site do Arquivo Online da Califórnia através da qual José Guilherme explicou as possibilidades de uso de cada seção ali disponível. Declarou que é um modelo simples, que cresceu ao longo do tempo, pela agregação de novas instituições e dos novos padrões que foram sendo normatizados. 

O palestrante ressaltou que os arquivos on line utilizam as convenções de uso da EAD na rede internacional de computadores, aproximando os acervos dos interessados. 
Em seguida apresentou o Portal Português de Arquivos que atualmente reúne cerca de vinte instituições portuguesas. Faz parte da Rede Portuguesa de Arquivos que pretende reunir todas as instituições da Comunidade de Língua Portuguesa. O Portal utiliza a EAD em conjunto com a ISAD (G). Foi explicado que o modelo utilizado baseia-se na exportação de dados de cada instituição para o Portal de modo que, quando o internauta faz a opção por ver detalhes de um determinado documento, terá acesso a outra página do próprio portal. Caso a escolha seja por ver o registro original, o consulente será direcionado para o site da instituição original. 

Concluindo, José Guilherme declarou que a maior dificuldade da constituição de uma rede de arquivos não é a solução técnica, mas fazer com que as instituições dialoguem e trabalhem em parceria, saindo do isolamento e agindo coletivamente. Este é o passo fundamental porque não basta adotar uma norma, mas trocar informações. As normas permitem diversas interpretações, sendo necessário promover adaptações que serão melhor implementadas se realizadas em parceria. 

Declarou que é preciso buscar um modelo simples e, ao mesmo tempo, adequado às necessidades dos integrantes. Não é necessário trazer modelos de fora, mas adaptar à realidade local. É preciso começar com um projeto pequeno que possa crescer e criar raízes, ampliando o número de participantes.
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