Revista Verde

Alguns números desta publicação da cidade de Cataguases, anos 1927 a 1929, estão disponíveis no site Brasiliana. Vale a pena conhecer ou rever. Eis o Sumário do número 1, de 1927:

- A cidade e alguns poetas (por Henrique de Resende)
- É preciso paz na Arte Moderna (por Rosário Fusco)
- Funcção (por Martins de Oliveira)
- Serão do Menino Pobre (por Ascânio Lopes)
- Inquietação (por Emílio Moura)
- Sinal de apito (por Carlos Drummond de Andrade)
- Santinha da Encarnação (Conto) (por Guilherme Cesar)
- Viagem Sentimental (por Edmundo Lys)
- O 7 de setembro e o Coronel José Vieira de Resende e Silva
- Bloco (por Theobaldo de Miranda Santos)
- Nocturno (por Guilherme Cesar)
- Paradoxo (por Martins Mendes)
- O Estranho caso de Matias (por Camillo Soares)
- Ternura (por Francisco Ignacio Peixoto)
- Samba (por Roberto Theodoro)
- Prelúdios de Henrique de Resende
- Literatura (por Emílio Moura)
- Fusco
- Janeiro (Poema)
- Sônia (Poema) (por Fonte Bôa)
- O poema do meu primeiro amor (por Oswaldo Abritta)

Patrimônio e Memória: revista do CEDAP

O volume 6, número 2, da Revista Eletrônica do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa da Universidade Estadual Paulista está disponível neste endereço. Abordando fundamentalmente dois temas - museus e mulheres, o periódico traz artigos que tratam os assuntos de forma bastante variada. No primeiro a autora Célia Helena de Salles Oliveira dá o tom já no resumo, citando 'a noção banalizada de que nos museus de História é possível “visualizar” o passado.'
 
É uma ótima leitura para todos os que se preocupam com a preservação da memória.

Pesquisa sobre o uso de Redes Sociais

Muito interessante a pesquisa realizada por Pew Research Center's Internet & American Life Project. Sugerida pelo Olhar Digital via twitter, está disponível neste endereço.

Destacamos o gráfico a seguir, por apresentar um resultado que remete a comentários que temos recebido de internautas que visitam este blog e o site.

Muitos leitores dizem que não gostam de redes sociais por que as consideram elegia ao narcisismo. Alguns declaram preferir usar os buscadores para encontrar o assunto que lhes interessa do que participar das redes ou seguir blogs.

A leitura da pesquisa acima citada desperta uma reflexão: será que os professores que indicam as redes sociais sob o argumento de que é uma forma de estimular a leitura, estão acompanhando as atividades realizadas por seus alunos?

Sem dúvida alguma a leitura é fundamental e devemos utilizar de todos os meios disponíveis para desenvolver o prazer de ler. Mas... será que todos nós, com nossos blogs, twitters, sites e etc, temos lido o que escrevem nossos pares?

Sugestão de Leitura

Muito bom o espaço de José d'Assunção Barros na Rede Histórica. Conheçam! Hoje foram divulgados dois ótimos textos para reflexão. 

Objetividade e subjetividade no conhecimento histórico: a oposição entre os paradigmas positivista e historicista foi publicado na Revista Tempo, Espaço e Linguagem (TEL), v.1, n.2, maio/ago. 2010, p.73-102

Sobre a noção de Paradigma e seu uso nas ciências humanas  publicado nos Cadernos de Pesquisa Interdisciplinares em Ciências Humanas, Florianópolis, v.11, n.98, p. 426-444, jan/jun. 2010

Moacyr Scliar, uma vida entre a literatura e a medicina

Este vídeo, distribuído pela Saraiva, traz o escritor Moacyr Scliar abordando temas variados como o interesse pela leitura, a imigração, o judaísmo, a medicina e, claro, a literatura.



Histórica: Revista On Line do Arquivo Público do Estado de São Paulo

Já está disponível a edição de nº 45 desta excelente publicação. Difícil destacar qual a melhor matéria.

De Mônica Karaweczyk - Uma paulista na luta pela cidadania política: Diva Nazário e sua tentativa de alistamento em 1922.

De Maria de Fátima A. di Gregorio - Mulheres, Corpos e Pecados: uma discussão sobre a questão da condição feminina no Brasil Colônia.






O povoamento de Dona Euzébia, Minas Gerais

É com prazer que anunciamos a publicação da monografia de Janaína Célia Rodrigues: Silêncio, curiosidades e descobertas: o início do povoamento em Dona Euzébia.

Trabalho de conclusão do curso de História na FIC - Faculdades Integradas de Cataguases, diz a autora:
"Espero que realmente este trabalho desperte curiosidade em meus conterrâneos e que eles o vejam não como uma história pronta e acabada, mas sim como apenas meu ponto de vista a respeito da história de Dona Euzébia. E que também venham contribuir com essa nova visão."

Convidamos para a leitura do texto neste endereço.

Cartografia na Biblioteca Nacional de Portugal

Os mapas e plantas são instrumentos importantes para nossos estudos. Como a imagem ao lado, que destaca a Estrada de Ferro Leopoldina em 1885, extraída da Planta Geral das Estradas de Ferro, de Alexandre Speltz, publicada no Rio por Laemmert em 1885.

Nem sempre é fácil localizar este material. Mais difícil ainda é conseguir uma cópia. Pois a Biblioteca Nacional Portuguesa oferece um bom material, disponível no site.

Além da cartografia, em Biblioteca Digital podemos encontrar diversas obras digitalizadas. Um dos materiais disponíveis é a "Relação da Aclamação que se fez na Capitania do Rio de Janeiro ao Rei Dom João VI , disponível para download neste endereço.
 

Francois Dosse: O Desafio Biográfico

Mais sobre arquivos

No início de novembro foi realizado o III Seminário de Gestão Documental e Tecnologias da Informação pelo Arquivo Público de São Paulo. Notícias sobre o evento podem ser lidas aqui. A programação e apresentações das palestras estão neste endereço.

Questão de Gênero

A todos que se interessem pela questão feminina e que porventura ainda não conheçam a obra, ao final do trabalho Proposições Legislativas sobre Questões Femininas no Parlamento Brasileiro, 1826-2004, publicação do Senado Federal de 2004, encontra-se um índice dos temas e a indicação das proposições apresentadas no período.

O arquivo integral pode ser baixado neste endereço.

Documentário sobre Joaquim Nabuco, produzido pela TV Senado

Os pesquisadores e os arquivos

Todos nós, pesquisadores não profissionalizados, já nos deparamos com situações inadequadas quando visitamos alguns centros de documentação. Seja o arquivo de uma Câmara Municipal, um Arquivo Paroquial ou acervos particulares, não é raro encontrarmos pessoas responsáveis pela guarda e manuseio que demonstram falta de preparo para a função. Não nos cabe discutir as causas. Entretanto, cada um de nós pode contribuir, no mínimo, para a reflexão daqueles que nos atendem nestes locais.

Quantas vezes você, que lê esta postagem, já encontrou documentos municipais empilhados num porão? E por acaso já foi atendido por uma pessoa que molhava os dedos na língua para folhear um raro livro do Cartório de Notas? Ou encontrou Atas de uma Irmandade do século XVII  'remendadas' com fita adesiva?

Se já passou por isso, teve oportunidade de conversar com quem lhe atendia? Por acaso descobriu que documentos fundamentais para a sua pesquisa estavam sob os cuidados de pessoas simples, que ali cumpriam a jornada de trabalho com dedicação mas sem nenhum conhecimento sobre a melhor forma de tratar o acervo?

Se você já teve tal tipo de experiência, está convidado a pensar no que cada um de nós pode fazer para mudar este estado das coisas. Que tal seguir, por exemplo, o twitter do Arquivo do Estado de São Paulo e retuitar as dicas que eles publicam? Se você ajudar a disseminar as informações, muitas outras pessoas poderão se interessar pelo assunto e o conhecimento chegará não só aos abnegados que trabalham em arquivos esquecidos pelo poder público, mas também aos que podem efetivamente promover a mudança.

Diário do Vale: Governo decreta que ‘volta redonda’ do Paraíba não existia

"Embora conhecida antes de 1800 e fotografada antes de 1864, a famosa linha curva do Rio Paraíba que deu nome a Volta Redonda não existia antes de 1867, segundo decisão da Superintendência de Patrimônio da União (SPU). Pior: não existiu até que fosse feito o aterro no bairro conhecido como Aterrado, o que ocorreu cem anos depois, em 1967. Durante todo este tempo, segundo o mapa traçado pela SPU, o rio tinha não o formato de uma ‘volta redonda', mas sim o formato de um "camelo".
Leiam a matéria completa:
Diário do Vale: Governo decreta que ‘volta redonda’ do Paraíba não existia

Livraria do Senado

Uma boa forma de encontrar obras importantes para estudos históricos é a Livraria do Senado. Entre outras, recomendamos a série O Brasil visto por Estrangeiros.

Memória Ferroviária

No momento em que tantos se unem em prol do resgate da memória ferroviária, é com muita tristeza que leio a postagem de Ralph Mennucci Giesbrecht: Anta Perde seu Trem.

Todos nós, que nos interessamos pela fase da Grande Imigração, nos sentimos afetados com a notícia. Na zona da mata mineira é conhecida a opinião sobre a região dever seu desenvolvimento ao braço escravo, ao café e à ferrovia. Pelos trilhos chegaram os imigrantes que substituíram a mão de obra cativa. O café perdeu o lugar de principal ícone da economia. E a ferrovia, marco de uma época, desaparece da memória.

Peter Burke, historiador das ideias

Família Bartoli

Recebemos o convite de Thais Bartoli para conhecer o trabalho que fez sobre sua família. A todos que se interessam pelas famílias leopoldinenses, repasso o convite para visitarem o site da Família Bartoli.

Conversa de Botequim homenageia Clara Nunes

Tributo a Clara Nunes em Leopoldina, dia 13 de novembro.






"Tributo a Mineira Clara Nunes

Clara Nunes, mineira e filha de violeiro e cantador de folia de reis, considerada uma das maiores interpretes do país, marcou seu nome na história da música popular brasileira cantando samba e reverenciando a cultura popular negra e seu folclore. Suas músicas contam, ao seu modo, um pouco da história dos negros no Brasil, sua vinda da África e suas influências na cultura popular. Informam sobre religiões afro-brasileiras com suas principais divindades, as práticas mágicas, locais míticos, comidas de Santos e ritmos da música religiosa. Em 2008, no teatro do CEFET em Leopoldina-MG a reunião entre músicos de gêneros distintos desta cidade e de Cataguases resultou no emocionante show Tributo à Clara Nunes – A Guerreira da Utopia.

Em resposta ao apelo do público, a homenagem será repetida, agora em um novo formato. Dois anos depois, com releituras de clássicos gravados por essa grande artista brasileira, este show homenageará também compositores gravados por ela, como Paulo César Pinheiro, Paulinho da Viola, Candeia, Edil Pacheco, João Nogueira, Chico Buarque, Ataulfo Alves, Romildo Bastos, Toninho Nascimento entre tantos outros representantes da música popular brasileira.

O Tributo a Clara Nunes é parte da Agenda Cultural do Projeto Conversa de Botequim que será no dia 13 de novembro (sábado) no quintal da Casa de Leitura Lya Maria Botelho às 20:00 horas.

Apresentando Thaylis Carneiro e Banda Guerreiros da Utopia.

Produção de Rosane Marques.

Mesas e ingressos à venda pelo tel: 32 8855-6567 (Rosane Marques)"

Escolha de nomes: preferência de uma época

Texto publicado pela primeira vez 1985 acaba de ser atualizado e encontra-se disponível aqui. Trata-se de um estudo sobre os nomes escolhidos para as crianças nascidas no município de Leopoldina entre 1855 e 1870.

Teatro em Leopoldina

Foi atualizado o texto que aborda o Teatro em Leopoldina. Agrademos à professora Natânia Nogueira, por ter levantando uma questão sobre o ator Manuel del Valle Alonso que resultou nesta atualização. E também à amiga Joana Capella, com suas leituras de antigas edições do jornal O Leopoldinense.

O Caminho Novo e o Comércio das Minas 1700-1818



O professor Ângelo Carrara iniciou agradecendo o convite e declarou que "este tipo de reunião, que ocorre fora dos meios acadêmicos, tem a faculdade de produzir mais efeitos concretos e objetivos a curto prazo do que as que acontecem no meio acadêmico. Nós fazemos nossos eventos acadêmicos mas em termos práticos... quando isso que nós dissemos vai chegar ao aluno?"

Informou que este foi o segundo evento do tipo do qual participou este ano e percebeu que todos ali estavam envolvidos de forma sincera, interessada. Assim, após ouvir as comunicações que ocorreram ao longo do dia, decidiu modificá-la.  

A seguir, trechos do que falou Carrara.


"O Caminho Novo é um caminho. Se eu for abordar o tema de comércio, eu não vou sair disso: 85% de toda a importação de mercadoria passou pelo Caminho, da mesma forma que 98% do ouro produzido em Minas Gerais. E pronto!

Só que esse Caminho Novo é tratado como caminho, como rota. E o que está em volta do caminho? Pessoas circulavam pelo Caminho Novo. E é essa a ideia! É nisso que eu mudei! Ao invés de tratar o caminho como ... mercadorias e ouro, quero chamar a atenção para o entorno dele. E para a personalidade histórica dele. Então, eu não preciso trazer aqui números. 
[...] Nós estamos num lugar muito especial. Minas é muito especial! O mineiro tem um profundo orgulho de ter nascido aqui. É o melhor estado do mundo!
[...] Eu posso afirmar que não havia Império. [Naquele momento] o que há é um império de rotas comerciais dominadas por portugueses. Mas o império no sentido territorial... Então eu pergunto: o que é o Brasil até 1696?
O Brasil é um punhado de gente vivendo em pontos da costa brasileira. A estatística que nós tínhamos até muito recentemente nos dava um total de 300 mil pessoas. Isto é um absurdo! Por que?

Este ano, conversando com um colega que está trabalhando com demografia, descobrimos que este cálculo é fruto de um palpite, de um despautério sem fim. Quantos habitantes tinha Salvador em 1681?

Três mil pessoas! Era a capital do Brasil e tinha 50% da população brasileira. E 50% da economia brasileira estava concentrada em Salvador e seu recôncavo. Então, por aí vocês tiram as conclusões.

O Brasil é um conjunto de pontos. O ouro detona o processo de migração maciça, de Portugal, do Brasil todo, num movimento demográfico que não consegue ser estancado. Enquanto os países europeus perdiam população ano após ano.

E para onde ia essa gente? Para Minas Gerais. Eles não estão indo para Salvador, para Pernambuco, não! Eles estão vindo prá cá. 
[...] O ponto nevrálgico desse ‘agora’ no Império Português é uma questão de território. É Minas, é Mato Grosso, é Goiás. Isso é território! O vale do São Francisco...

[...] A razão principal do ouro é entrar em circulação. De 1724 a 1735 nós tivemos uma casa da moeda em Ouro Preto. Esta casa da moeda, durante seus 10 anos de vida, cunhou três vezes mais moeda do que suas equivalentes de Lisboa e Rio de Janeiro juntas. Então, imaginem. Enquanto a rotina da Casa da Moeda em Lisboa era uma, em Minas a produção era muito maior. Claro que os melhores servidores da Coroa estavam onde estava a riqueza.  Em Minas Gerais! Porque aqui estava a galinha dos ovos de ouro.

O grande desafio nosso, na minha perspectiva, é fugir dessa história que enaltece determinados indivíduos.

A pergunta que eu faço é o que esta história tem de utilidade para as pessoas comuns?

O fato é que essa movimentação toda de gente pelo Caminho Novo... As pessoas se levantam e perguntam: o que eu faço agora? Me alimento como? Como é o dia a dia? Não é a história de grandes personagens, de fatos heróicos, mas a nossa história. Mas não é uma história da vida privada [como perguntou alguém da platéia]. É uma história de todos, pública. É o dia a dia.

A pergunta que devemos fazer é: o que é viver aqui? O que foi viver no século XVIII e no século XIX aqui? Devemos perguntar que tipo de esforço estes indivíduos faziam para poder manter suas vidas. Porque não se pode esquecer que essa gente trabalha.

Dá-se a impressão de que o passado era um brilho só. Na realidade, o que talvez tenha mais impacto sobre as pessoas [seja]... há 300 anos, quando eu me sentava à mesa, o que eu tinha?

Percebem o desafio que temos à frente?

[...] Já avançamos muito. Em 10 anos, eu sou testemunha disso, crescemos absurdamente no campo da preservação da documentação. Nós temos acervos monumentais, um acervo que precisa ser preservado. Um outro desafio, diretamente relacionado, é a propagação da educação patrimonial, que é fundamental. Aquilo que as secretarias de educação incorporam nos seus currículos, uma disciplina de educação patrimonial que não vai tratar de enaltecer grandes nomes. Ao contrário, é cuidar de um patrimônio que muitas vezes é imaterial. Os queijos, a cultura mineira...

Este é um desafio para o historiador de ofício. Escrever esta história de Minas. Esta reunião está acontecendo em Barbacena. O que nos deve interessar é a história de Barbacena.

Existe uma coisa que eu chamo de personalidade histórica. Vou explicar. O meu objetivo aqui é dar serviço. [risos]

As identidades originais de Minas Gerais... Exemplo: nos centros mineradores, o que existiu ali é diferente de uma outra sociedade que é vizinha [mas que tem uma] identidade curraleira.

Em Minas temos quatro [identidades]. Saindo de Ouro Preto até Itabirito, é a do ouro. Pitangui não foi uma região mineradora importante. Pitangui... tinha a segunda maior produção de gado de todo o século XVIII.

Outras identidades, ao longo do século XVIII, vão se formando. A zona curraleira... margem esquerda do São Francisco... no extremo noroeste de Minas Gerais que não conversa com Minas Gerais. Eles não produziram gado ali para vender em Minas. É uma identidade particular de Minas Gerais.

Outra identidade é do vale dos rios Verde e Verde Grande. Produção agrícola que conversa com Minas Novas ou Itacambira. É outra formação.

Eu estou falando da identidade que se forma por vínculos familiares, por parentesco, por pessoas circulando diariamente, semanalmente... 
O mesmo se dá em Diamantina, que não pode ser entendida só como Distrito Diamantino. Diamantina é ao mesmo tempo Diamantina e Curvelo. Porque o gado que abastece Diamantina é o gado de Curvelo. Ou seja, Diamantina é muito curraleira apesar da produção de diamantes.

Percebem-se as diferenças no sotaque. O historiador tem que ter parâmetros para saber ouvir o sotaque. O de Diamantina é o mesmo de Curvelo ... é só ir para a rodoviária e identificar as linhas de ônibus mais comuns.

Então, na região das minas, eu acho que fica claro que há um quadrilátero muito facilmente identificado por todos, formado por Ouro Preto, Mariana, Caeté e Sabará.

[...] A alimentação na área curraleira é diferente da área mineradora.

Essa região aqui, de Barbacena, que hoje se chama de Vertentes, mas que no período colonial se chamava O Campo, por isso que aqui é a Borda do Campo, termina lá nas Congonhas do Campo. O Campo é Campo por quê? Porque isso aqui é uma região diferente das demais, a mais fértil de todas, com uma rede hidrográfica fantástica e é isso que explica o vigor da agricultura nessa região.

Só que a identidade de Barbacena, de Santana do Garambéu, de Prados que, apesar de ser área de mineração comunga muito com a identidade de Barbacena, Entre Rio de Minas, Carijós, até Congonhas, guarda uma homogeneidade muito forte.

Primeiro o estilo de fazenda. As descrições rudimentares que eu vou encontrar, do século XVIII, vão dizer que o perfil preferencial é uma concentração de terras, [uma concentração] fundiária, de propriedades médias, de produção média. Toda essa região do Campo, antes de cair no espinhaço em direção a Ouro Preto, fechando essa região aqui nas Congonhas, tem uma concentração de terras distinta da região do Caminho Novo indo para Juiz de Fora. O padrão aqui é menos concentrador do que em Juiz de Fora. A produção agrícola aqui é baseada em propriedades médias e não em grandes.

Se eu for para Juiz de Fora? 1750 – quantas pessoas produzem alimentos? Dezenove. De Paraíba do Sul no Rio de Janeiro, até o pé da serra aqui em Santos Dumont. Dessas 19, 10 produzem 85% do total. Isso é concentração!

Concentração fundiária é o melhor identificador da ‘personalidade’ de uma região. Quanto mais concentrada a propriedade rural, mais concentração de renda. Quanto melhor distribuída a propriedade da terra, melhor o padrão dessa sociedade.

As pessoas que vivem na roça... a forma como elas acessam o principal meio de vida é fundamental... Numa região em que o padrão de concentração é mais equilibrado, a sociedade é diferente.

Então, esse Caminho Novo não é uma identidade. Na verdade nós temos que ultrapassar isso. O Caminho Novo é uma rota. O que importa é verificar a região. Esse é o grande desafio. 
Fontes para isso? Um problema que nós não temos em Minas Gerais. Todos os outros estados tem problemas com fontes. Nosso problema é o inverso. Nós temos excesso de fontes. Nós temos que ir a um arquivo rezando para não encontrar documentos. Experiência própria. Ali abre um livro e surge mais um questionamento.

Existe uma fonte que é um verdadeiro cadastro em Minas Gerais. Ela me dá o nome, a propriedade rural, o endereço, a produção agrícola. Isso desde 1750. Eu tenho como fazer uma história dessa propriedade rural, história da produção econômica, desde 1750 até 1835. É um tipo de registro muito particular, todo organizado. A partir desse período eu consigo rastrear, com a documentação que ainda não conhecemos e da qual ainda não temos inventário. Mas que em breve teremos. É a nossa caixa preta da História do Brasil. É a Coleção Casa dos Contos de Ouro Preto, com duzentos e tantos mil itens. Sabemos que tem coisas preciosas mas... não tem inventário. No momento em que tivermos inventário, poderemos fazer a história que quisermos. Quer fazer História da Medicina? Pode. Quer acompanhar o receituário? Tem. Porque lá estão os registros dos hospitais militares. Para cada doença tem o medicamento que foi adotado.

Tem ali documentação que vocês não podem imaginar. Documentação sobre todas as obras artísticas.... Aleijadinho foi um. Há dezenas de outros artistas. O altar da Igreja, como é que foi feito...

O que na verdade eu gostaria de chamar a atenção é para a necessidade que nós temos, é a responsabilidade que a academia tem de produzir esse tipo de investigação. Uma responsabilidade que ela tem como instituição pública.

Uma outra responsabilidade que a Prefeitura tem, dentro das suas possibilidades, é de produzir material didático capaz de sensibilizar a sociedade, atingir a sociedade. Fazer isso é elevar o nível de cidadania, aqui entendido como a capacidade de entender direitos e deveres. É ter consciência das transformações...

Diferentemente de outras áreas de conhecimento, o objeto da história não está dado. É complicadíssimo. Nós não lidamos com um único indivíduo. Nós lidamos com todos. E o que é mais complicado: o ser humano muda. E o historiador tem que encontrar o padrão da mudança. Porque as coisas não são colocadas [e] nós não vivemos no caos. Nos vivemos dentro de uma visão de como o mundo funciona. Existe um padrão de mudança que precisamos identificar.

Então, nos aproximarmos desse tipo de história que tem a capacidade de nos informar, com maior segurança, os padrões que essa sociedade adquire ao longo do tempo, é o grande desafio. É isso que me chamou a atenção para este evento. É o primeiro e precisa se repetir. Barbacena tem uma responsabilidade enorme por conta do equipamento urbano que tem, diante de outros municípios. Barbacena tem um fator de liderança diante de outros municípios.

A responsabilidade é das prefeituras de mobilizar seus professores em torno dessa ideia de construção de material didático. O impacto disso no médio prazo é profundamente transformador .

Meu papel aqui foi mais dizer o que fazer. Material a academia tem. Mas há uma necessidade cada vez maior de aproximação entre a universidade e as necessidades efetivas da sociedade. Produção histórica que tenha um impacto mais imediato sobre a sociedade. "
Ângelo Carrara, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, encerrou sua participação dizendo que seu papel foi o de saudar esse tipo de iniciativa e chamar a atenção daqueles que têm alguma responsabilidade sobre esse tipo de projeto.

Arquivos Públicos Regionais


Este momento do Encontro de Pesquisadores de História e Geografia do Caminho Novo da Estrada Real contou com a participação de representantes das seguintes instituições:

1 – Arquivo Público Municipal de Ouro Preto – APMOP, com João Paulo Martins;

2 – Escritório Técnino do IPHAN de São João del Rei, com Jairo Machado;

3 – Arquivo Histórico da Universidade Federal de Juiz de Fora – AHJF, com Galba di Mambro;

4 – Arquivo Público Municipal de Santos Dumont – APMSD, com Marisa Fontes;

5 – Arquivo Públimo Municipal de Barbacena – APMB, com Edna Resende.


Não só através das comunicações dos responsáveis, mas também por conversas que fluíram durante todo o dia, chama a atenção a necessidade de atuação de associações de amigos dos arquivos públicos para buscar alternativas diversas. Isto porque, no âmbito de sua atuação, nem sempre os diretores ou responsáveis conseguem equipamentos, melhorias, estagiários e um sem número de providências necessárias.

1 - APMOP

João Paulo Martins informou que o acervo abrange o período 1728 a 1931, com volume maior para o século XIX. É composto por documentação produzida pela Câmara e pela Prefeitura. Em sua breve apresentação, mencionou curiosidades. Uma delas: as pontes existentes entre Ouro Preto e Barbacena não são antigas como normalmente se divulga, mas construídas no século XIX.

2 – IPHAN

Este arquivo conta com material produzido a partir de 1711. “O cidadão tem direito a sua memória, a suas raízes, a dialogar com seus antepassados”, disse Jairo Machado. Falou sobre a mudança da instituição que antes utilizava um pequeno espaço dentro do Museu Regional de São João del Rei e agora conta com sede própria. E ressaltou que ‘obrigatoriamente a história de Minas Gerais passa por São João del Rei’, a principal vila abastecedora da Corte do Rio de Janeiro.

Além de informar que o Escritório Técnico do IPHAN conta com uma Biblioteca de mais de mil volumes, Machado fez diversas considerações sobre a função do arquivo e encerrou afirmando: ‘o mais importante: é um arquivo público’.

3 – AHJF

O professor Galba di Mambro denominou sua apresentação como ‘Arquivo Hisórico da UFJF: perspectivas de pesquisa sobre o Caminho Novo’. Destacou que o acervo relativo ao tema é pequeno, só um fundo que, entretanto, conta com 30.000 processos de 1830 a 1960, provenientes do Forum Benjamin Colucci.

Um dos destaques da apresentação, além do roteiro didaticamente apresentado em slides, foi a explicação de que a instituição não é o Arquivo Permanente da Universidade, mas um Centro de Memória Social. Informou que está sendo providenciada a mudança do nome para melhor identificá-lo dentro do Sistema de Arquivos da UFJF.
Site do Arquivo

4 – APMSD

Marisa Fontes lembrou que um dos organizadores do Encontro, Luiz Mauro Andrade da Fonseca, é um dos fundadores do arquivo e incentivador de seu trabalho na instituição. ‘A sensibilidade de guardar a memória da cidade’, disse Fontes, nasceu pelas mãos de vários entusiastas. Destacou, entre outros, Oswaldo Castelo Branco, historiador e um dos fundadores da Casa de Cabangu, e o grupo Pesquisadores Independentes do qual Luiz Mauro faz parte.

Na direção desde 1997, Marisa Fontes mostrou-se uma entusiasta da preservação da memória local que muitas vezes sofre concorrência da imagem popular que liga o município exclusivamente ao aviador Alberto Santos Dumont. Entretanto, trata-se de um município importante para a história da Estrada Real, da Ferrovia e da indústria de laticínios, entre outras.

Descreveu ligeiramente o acervo que hoje se encontra no antigo prédio da Estação Ferroviária e informou que, além de subsidiar projetos de Educação Patrimonial, o arquivo municipal preocupa-se não só com o armazenamento mas com catalogação, microfilmagem e digitalização do acervo. Divulgar, é a chave de sua atuação, disse Fontes. ‘As crianças se encantam’, complementou, especialmente com o que se refere à ferrovia que é a alma do município.

Em seguida, Luiz Mauro Andrade da Fonseca comentou que a obra de Alberto Santos Dumont é sobejamente estudada e conhecida e que a cidade tem outros focos, como a industrialização. ‘A coisa ruim das nossas cidades’, disse Fonseca, é que as escolas continuam estudando Inconfidência Mineira, Tiradentes e Aleijadinho e não incluem a história local em seus programas de ensino.

5 – APMB

Edna Resende informou que as atividades do Arquivo foram iniciadas há 10 anos, ‘quando a documentação do Poder Judiciário estava prestes a ser eliminada’ e a inauguração ocorreu em agosto de 2005. Foram apresentadas imagens do acervo, antes e depois do tratamento arquivístico.

Posteriormente foram recolhidos outros conjuntos, com destaque para o arquivo do Professor Altair Savassi com um rico material sobre a história regional, incluindo publicações periódicas. Além de obras dos memorialistas, os pesquisadores encontram na instituição fontes como inventários, testamentos, processos criminais, sesmarias, material sobre escravidão, escrituras e outros. Edna Resende informou que há cartas de sesmarias, provindas da coleção da família Andrada, diferentes das encontráveis no Arquivo Público Mineiro.

‘Era difícil fazer pesquisa sobre Barbacena porque não havia fontes disponíveis’, lembrou Resende, situação que agora se modificou e já apresenta resultados em pesquisas universitárias ou não. Ressaltou, ainda, que a criação da Associação Cultural do Arquivo Histórico Municipal Professor Altair José Savassi trouxe novo estímulo, já que o grupo tem sido responsável por buscar outros caminhos para o funcionamento da instituição.

Ao final da mesa redonda alguns ouvintes declararam não saber, até aquele momento, da existência de tal diversidade de fontes disponíveis para o estudo não só do Caminho Novo como, especialmente, da história dos municípios surgidos a partir dele.

O Caminho Novo e a Medicina




Apresentando-se como um ‘curioso’ a respeito da história da medicina e seus labirintos, o médico dermatologista Geraldo Barroso de Carvalho, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, informou que falaria sobre a Medicina no Caminho Novo de forma muito simples.

Iniciou discorrendo sobre o panorama da época, ressaltando que uma grande quantidade de pessoas buscou o local das minas a partir da descoberta do ouro no sopé da Serra do Itacolomi. Foi também necessário aumentar a importação de escravos para suprir a necessidade de mão de obra. ‘Esse afluxo imenso de pessoas, de todos os lados, criou uma super população numa área extremamente insalubre’, propiciando a entrada de muitas doenças novas na região, disse Barroso. Doenças endêmicas na África e no sul do Brasil, por exemplo. De certa forma, a região tornou-se uma espécie de Serra Pelada, conforme indicava a fotografia no slide.

Por esta época ‘apareceu em Ouro Preto um cidadão chamado Luiz Gomes Ferreira, português’, que ouvira notícias da descoberta e inicialmente se dirigira para Sabará. Depois de 5 anos, em 1716, estabeleceu-se entre Ouro Preto e Mariana e ali passou a ser procurado pelas pessoas que buscavam tratamento para suas doenças. Teria sido o primeiro ‘médico’ a deixar notícia na história da região.

Barroso acrescentou que além das pessoas houve um aumento significativo do plantel de animais de carga, adquiridos no sul, para onde os espanhóis tinham levando muitos muares com o ojetivo de fazer o transporte da prata do Peru para Buenos Aires. Muitos desses animais haviam se perdido pelas pradarias do sul onde se misturaram e se multiplicaram, resultando em grande quantidade de animais de carga e gado bovino, sobretudo na região de Viamão, no Rio Grande do Sul. O pessoal de Minas se viu, então, na necessidade de ir buscar animais que auxiliassem no transporte de cargas, serviço até então feito pelos escravos. Um burro carregava cerca de 18 a 20 vezes o peso transportado por um escravo.

O centro onde iam buscar estes animais era a Feira de Sorocaba. No local encontravam-se profissionais variados, como seleiros, cangalheiros, ferradores, ferreiros, peões e os vendedores dos animais que eram comprados e trazidos para formar as tropas de mulas. Cerca de 10.000 mulas saíam anualmente de Sorocaba, quase todas destinadas à região das minas. Por esta razão, Minas chegou a ter mais do que o dobro da tropa de mulas existente no resto do Brasil.

No percurso de ida e volta até Sorocaba, os tropeiros faziam paradas em propriedades que lhes alugavam o pasto e forneciam milho para os animais. Entretanto, tinham que carregar sua própria alimentação e demais produtos necessários à sobrevivência, incluindo medicamentos. Havia curandeiros e dentistas itinerantes mas também aqueles que faziam parte das tropas maiores ou se estabeleciam no percurso. Os curandeiros tratavam diversos males com as ervas encontradiças na mata atlântica e alguns eram também cirurgiões que abriam abcessos e retiravam corpos estranhos.

Segundo Barroso, um dos primeiros medicamentos quimioterápicos de que se tem notícia provinha de determinadas plantas, entre elas a Ipeca, ou Poaia, encontrada nas matas do Xopotó. Sendo um dos grandes medicamentos da época, fazia parte da bagagem daqueles tropeiros ou era obtido com os curandeiros do caminho. Além disso a malária, que na época causava numerosas mortes e ainda hoje tem alta incidência em várias partes do mundo, era também tratada com ervas.

Prosseguindo, foram mencionados muitos produtos da medicina de então, sendo que alguns ainda hoje encontram aplicação em determinadas circustâncias. Neste ponto, Barroso mencionou os que viu serem aplicados em sua época de médico recém formado. ‘Na segunda metade do século XX nós ainda usávamos a erva de santa maria’, declarou. Outra citação foi ao ‘feto macho’ que é retirado do broto da samambaia e era o único medicamento para eliminar a solitária. A semente de abóbora foi mencionada para explicar a chamada ‘teoria das assinaturas’, segundo a qual Deus teria criado objetos que apresentavam sinais de suas virtudes. No caso da semente de abóbora era o formato, que por assemelhar-se ao útero da solitária carregado de ovos seria eficiente no tratamento deste problema.

Foram mencionados vários outros medicamentos que faziam parte da farmacopéia da época áurea do Caminho Novo e que entravam na bagagem do tropeiro como cascas, sementes e demais insumos semelhantes. Pela ‘teoria das assinaturas’, relatou, determinado cipó seria eficaz como antiofídico por ter o formato de cobra. Também a planta denominada quebra pedras, uma gramínea que se desenvolve entre as fendas das pedras, seria solução contra os cálculos renais.

A mamona, em função da prática de se considerar que o purgativo seria o melhor remédio contra qualquer doença, era produto de grande utilidade. O hábito de se cobrir feridas com determinada folhagem encontra justificativa no fato de que servia de cobertura, impedindo que a mosca varejeira ali depositasse seus ovos. Para as fraturas e contusões, usavam-se talas de bambu numa prática que, embora extremamente rude, ajudava a solucionar problemas imediatos. Colocar um pedaço de toucinho sobre os vermes resolvia o problema porque, diferentemente da crença de que os vermes gostam de toucinho, na verdade esta prática impedia a respiração dos intrusos, matando-os.

E assim ouvimos o médico e historiador mencionar muitas curiosidades como o uso do fumo em torno de micoses impedindo que a área afetada se ampliasse. Além das beberagens, ferveduras, cachaça com um determinado tipo de cipó na sexta feira da paixão e cachaça com jurubeba. No item rezas e simpatias não foi esquecida a oração a São Guido para tratar de males das articulações porque a doença era chamada de Dança de São Guido ou Coréia, palavra que significa dança.

E se o problema era guardar um segredo, melhor rezar para São João Nepomuceno. Ele teria sido confessor de uma rainha e certa feita o rei foi-lhe ao encalço para saber o que a rainha lhe contara. Pela recusa em atender ao pedido do rei, sua imagem teria sido associada ao hábito de colocar o dedo indicador sobre os lábios e dado origem aos pedidos fervorosos de ajuda quando não se consegue manter um segredo.

Geraldo Barroso de Carvalho é membro do Centro de Memória Belisário Pena, um dos promotores do Encontro de Pesquisadores de História e Geografia do Caminho Novo da Estrada Real. E é autor do livro Doenças e Mistérios de Aleijadinho, publicação da Lemos Editorial que já está indo para a terceira edição.

O Caminho Novo na Borda do Campo



Francisco Rodrigues de Oliveira descreveu o Caminho Novo na ‘zona do campo’, iniciando pela explicação de que Barbacena representa o limite entre o campo e a mata. A zona da mata estende-se até o sopé da serra, começando aí a rarear na medida em que aumenta a altitude. Este limite natural entre os dois espaços não corresponde rigorosamente à divisão oficial entre os atuais municípios da região.

Oliveira lembrou que, para os viajantes estrangeiros, o ‘campo representa um refresco’ após a penosa travessia da mata fechada, geralmente durante o dia inteiro. Quando os viajantes começavam a sair da mata Atlântica e viam o campo descortinar-se à frente, sentiam-se mais animados com a perspectiva de um ambiente menos inóspito, com temperatura mais fria. A viagem, a partir daí, rendia mais.

O professor chamou a atenção para alguns aspectos da história de Barbacena. Além de ter descrito rapidamente o período que vai de sua fundação até a elevação à categoria de Vila em 1791, lembrou que a então localidade denominada Borda do Campo nasceu do Caminho Novo, ou seja, foi a reorganização desta rota de acesso para a zona da mineração que criou as condições para o desenvolvimento do povoado.

A Fazenda do Registro foi citada como pólo de desenvolvimento inicial, uma vez que ali foram sendo agregados os equipamentos necessários aos viajantes, quer seja no sentido de reabastecimento dos viajantes para prosseguirem viagem, quer seja na obrigatoriedade de pararem para cumprimento das obrigações fiscais. O local, hoje conhecido como Registro Velho, deixou de funcionar como posto de fiscalização por volta de 1790.

E aqui entra uma conversa paralela, ocorrida no momento em que Oliveira falou do Registro Velho. Trata-se da definição do período em que a fiscalização teria sido transferida para o ‘Registro do Caminho Novo’, então localizado em Matias Barbosa. Um dos ouvintes informou que o novo registro teria começado a funcionar em 1790, data compatível com informação obtida oralmente na Biblioteca Nacional, por ocasião de pesquisa realizada naquela instituição em conjunto de documentos denominado Abecedário do Caminho Novo.

Infelizmente o Encontro de Pesquisadores de História e Geografia do Caminho Novo da Estrada Real não contou com a presença de Roney Fabiano Alves, de Matias Barbosa, profundo conhecedor da história local, com destaque para o funcionamento do Registro dito Novo. Alves falaria sobre O Caminho Novo em Simão Pereira, abordando o trecho que da margem esquerda do Paraíba do Sul inicia a trajetória pela terra mineira, indo até o território onde mais tarde nasceria o povoado de Santo Antônio do Paraibuna, hoje o município de Juiz de Fora. Infelizmente, também, Antônio Henrique Lacerda, que falaria sobre o trecho entre Juiz de Fora e Ewbanck da Câmara, não pode comparecer em função de compromissos de última hora.

Voltando a Oliveira, sua comunicação abordou as características topográficas da Borda do Campo que representam um divisor em relação à mata, com o terreno tornando-se mais plano. Ressaltou que, diferentemente da região anterior, no campo os núcleos habitados ficavam mais distantes uns dos outros. Outra característica destacada foi a possibilidade de desenvolver plantações na área do campo, bem como obter pastagens para a criação de gado. Este aspecto também mereceu comentário na platéia, no sentido de que a agricultura teria sido um atrativo a fixar moradores no local, reiterando o que havia sido dito mais cedo por Francisco Andrade a respeito do movimento comercial ter sido o grande propulsor para a ocupação das margens do Caminho Novo.

Oliveira informou que, em consequência da topografia diferente da mata, no campo era mais fácil promover deslocamentos do caminho para terreno mais favorável, quando a trilha conhecida se tornasse inviável por fenômenos naturais ou desgaste pelo uso. A seguir apresentou trechos de um mapa do final do século XIX, executado já com recursos tecnológicos mais adequados ao objetivo de registrar as características físicas de uma região. Através do slide, os presentes puderam visualizar a Serra da Mantiqueira, os cursos d’água correndo para oeste e noroeste e parte da bacia do rio Paraibuna.

Foram destacados os diversos caminhos então existentes, chamando a atenção para a Estrada de Ferro que seguiu uma das variantes do Caminho Novo para transpor a serra. Outra ‘subida’ era a que foi utilizada no prolongamento da Estrada União Indústria, no século seguinte. Atualmente a BR 040 representa uma terceira via de passagem por aquele trecho.

O Professor Francisco abordou, também, as alternativas utilizadas para superar os obstáculos naturais, com destaque para os cursos d’água. Lembrou que geralmente existe uma ‘garganta’ próximo aos picos de morros e estas áreas de depressão eram procuradas como alternativa de passagem, especialmente no entorno das nascentes de rios, por permitirem transposição mais fácil.

Francisco Rodrigues de Oliveira atuou como professor na Universidade Federal de Viçosa e na UNIPAC, em Barbacena. É membro da Associação Cultural do Arquivo Histórico Municipal Professor Altair José Savassi – ACAHMPAS, entidade que se uniu ao Centro de Memória Belisário Pena para a promoção do Encontro. Na década de 1990, quando percorria arquivos públicos e privados de Barbacena, realizou levantamentos que lhe permitiram escrever alguns trabalhos. Entre eles, o perfil biográfico de seu pai, Godofredo Rodrigues de Oliveira. Outro trabalho é o livro História da Construção da Estrada de Barbacena a Ibertioga, publicado em 2002.

O autor voltará a ser mencionado nesta série de textos, já que após o Encontro fizemos uma visita a Ibertioga, constatando in loco várias das informações divulgadas durante o evento.

O Caminho Novo em Santos Dumont


 
A partir de um conjunto de slides, Luiz Mauro Andrade da Fonseca apresentou diversos mapas que nos ajudaram a localizar a região objeto de seus estudos. Iniciou mostrando o percurso do Caminho Velho, passando pelo Sul de Minas, indo para São João del Rei e seguindo para Ouro Preto. Em seguida reiterou, conforme dissera Francisco Eduardo de Andrade, que foram diversos os ‘abridores’ do Caminho Novo, os quais se utilizaram de picadas abertas pelos índios e remodelaram o percurso do Rio de Janeiro a Ouro Preto, ‘encurtando consideravelmente a viagem’. Para percorrer o Caminho Velho, de Parati a Ouro Preto, eram necessários entre 75 e 90 dias.

Fonseca explicou que a temática do encontro seria analisar o trecho do Caminho Novo de Simão Pereira a Alfredo Vasconcelos, passando pela zona da mata mineira e adentrando a zona das vertentes. Destacou, no mapa, as localidades de Simão Pereira, Matias Barbosa, Juiz de Fora, Ewbanck da Câmara, Santos Dumont, Antônio Carlos, Barbacena e Alfredo Vasconcelos.

Lembrou que o Programa Estrada Real, do Governo de Minas Gerais, tem por objetivo incentivar especialmente a indústria do Turismo, deixando lacunas significativas no que concerne aos estudos históricos e geográficos que permitiriam um conhecimento mais amplo do que seja a Estrada Real.

‘Os índios foram os autores dos caminhos, tanto o Velho como o Novo, aproveitados pelos bandeiristas’ em suas incursões pela terra mineira que inicialmente foram motivadas pelas tentativas de captura dos povos nativos, declarou Fonseca. Numa cartografia de 1777, indicou o Caminho Velho e a seguir dedicou-se ao trecho do Caminho Novo que atravessa o atual município de Santos Dumont, mencionando as consultas realizadas a estudiosos do assunto e suas visitas aos locais, fazendo diversas fotografias.

Segundo o professor Fonseca, a melhor descrição que encontrou daquele percurso foi a de Costa Matoso, autor que menciona o Sítio do Luiz Ferreira, atualmente Ewbanck da Câmara, o Sítio do Pedro Alves, local atualmente conhecido por Francesa, a Rocinha e Sítio de João Gomes, o Sítio de Pinho Velho, Pinho Novo e o Sítio da Mantiqueira. Estas localidades foram indicadas no mapa.

Um dos pontos altos da comunicação de Luiz Mauro da Fonseca foi a apresentação de um Mapa Temático, de 1991, cujo autor nasceu em Santos Dumont. Este trabalho apresenta a região a partir de Chapéu d’Uvas, atualmente unido a Paula Lima, distrito de Juiz de Fora.

Nas diversas fotografias, Fonseca chamou a atenção para a multiplicidade de ‘trilhas’ que certamente pertenceram ao Caminho Novo, desmistificando a impressão de que seria um único percurso e demonstrando que existiam muitas variantes. Ressaltou que é praticamente impossível, atualmente, identificar a rota original, uma vez que alternativas foram sendo abertas no decorrer do tempo. Importante, pois, mostrar a direção pela qual o Caminho seguia. No caso, a direção de Ewbanck da Câmara para Santos Dumont e depois para Barbacena.

Indicar a Estrada de Ferro Central do Brasil foi um facilitador, uma vez que a ferrovia tem um traçado bem próximo ao do Caminho Novo, ladeando-o quase sempre. Foram apresentadas, também, fotografias de antigas fazendas da região citadas pelos viajantes estrangeiros. Algumas estão preservadas, outras nem tanto. Numa das imagens pudemos ver um Marco da Estrada Real e bem ao lado uma das trilhas que compuseram o Caminho Novo.

O professor Luiz Mauro foi muito feliz em sua Comunicação, utilizando recursos didáticos que prenderam a atenção e ajudaram a acompanhar sua fala. Esperemos que ele envie uma cópia dos slides para que possam ser aqui publicados.

Quando chegou à area urbana de Santos Dumont, Fonseca apresentou antigas fotografias da cidade com seus casarões imponentes, alguns tombados pelo Patrimônio Municipal durante sua gestão à frente daquele órgão.

Prosseguindo, outras fotografias do Caminho Novo em direção à Fazenda Mantiqueira, a mais famosa de Santos Dumont. Sempre seguindo pelo caminho dos tropeiros, por onde passaram todos os viajantes estrangeiros que deixaram obras descritivas bastante variadas.

As fotografias da Fazenda Mantiqueira demonstraram o excelente estado de conservação em que se encontra. A propriedade pertenceu a Silvestre Dias de Sá e mais tarde ao inconfidente José Aires Gomes.

Depois da Mantiqueira, sobe-se a serra para chegar à Fazenda do Registro, que se encontra abandonada e precisando de socorro. Deste trecho foi apresentada uma fotografia com partes do calçamento que ali existiu, além de imagens panorâmicas da zona da mata, com muitas araucárias, vistas já a meio caminho para a região denominada ‘Campo’, de onde veio o topônimo Borda do Campo. Também foi possível ver o que resta de chafarizes, incluindo o denominado D. Pedro II. Uma das imagens mais significativas, entretanto, mostra a transição entre a mata e o campo, numa paisagem realmente muito bonita.

Luiz Mauro Andrade da Fonseca, além de médico e professor, faz parte do grupo Pesquisadores Independentes de Barbacena e Santos Dumont de grande atividade desde a década de 1990. É também membro do Centro de Memória Belisário Pena, de Barbacena, uma das entidades promotoras deste primeiro Encontro de Pesquisadores de História e Geografia do Caminho Novo da Estrada Real. É, ainda, autor de uma obra sobre a história de Padre Correia de Almeida, município vizinho a Barbacena.

Garcia Rodrigues Paes e o Caminho Novo



Na primeira comunicação do encontro, Francisco Eduardo de Andrade buscou relacionar o espaço e o tempo, abordando a rota do Rio de Janeiro e as minas do ouro. Falando sobre Garcia Rodrigues Paes, considerado o ‘abridor’ do Caminho Novo, Andrade informou que ele ‘investiu nas promessas régias sobre os descobrimentos das minas de ouro e alegou ter sido o descobridor’, requerendo títulos, privilégios e honrarias. Além disso, atrelou as investidas de seu pai Fernão Dias Paes Leme ao descobrimento das minas, dizendo que eles ‘foram a causa primária’ do enriquecimento da Fazenda Real e responsáveis pela abertura de caminhos para as minas. Ou seja, ele, Garcia Paes, dizia-se a pessoa adequada para abrir nova rota ligando o Rio de Janeiro à região de mineração.

Andrade discorreu sobre várias atitudes de Garcia Paes, como o pedido que fez ao Rei de Portugal para abrir um caminho “junto ao rio Paraíba do Sul” e o pedido de privilégios sobre um determinado território, em recompensa aos serviços prestados. Tal espaço estaria limitado de um lado pela Serra dos Órgãos e de outro pela saída para os ‘Campos Gerais’, com dez léguas de testada.

Ao longo das negociação, Garcia Paes obteve o cargo de Guarda-Mor Geral das Minas. Entretanto, “o que Garcia procurava era aproveitar as amplas oportunidades advindas do trânsito comercial em volta do Rio de Janeiro, ou seja, do interior do Rio”. Naquele momento valorizava-se mais o acesso aos campos de criação de gado bovino, que depois se tornaram conhecidos como Campos Gerais, do que as minas de aluvião.

Francisco Andrade lembrou, também, que mais de 90 anos antes da descoberta do ouro, o Governador do Rio de Janeiro já mencionara a intenção de abrir o caminho para os Campos Gerais. E que Pedro Taques de Almeida citou tentativas dos moradores do Rio de fazer a obra, abrindo nova fronteira para a criação de gado.

Andrade faz questão de frisar que Caminho Novo significa um caminho recente, não uma novidade, mas um caminho mais moderno em relação ao Caminho Velho que saía de São Paulo. Em seus estudos o autor observou que já existiam ‘picadas’ na Serra dos Órgãos, abertas pelos índios. Portanto, o Caminho Novo, no sentido de uma nova forma de atingir o sertão desconhecido, é uma ilusão.

Na última década do século XVIII, “havia um verdadeiro confronto de topônimos”, os quais garantiriam a primazia da entrada, através da associação dos nomes dados aos locais, disse o palestrante. Frisando que já existia a intenção de abrir uma outra via, em substituição ao ‘Caminho Velho’ para daí auferir lucros com o trânsito comercial pelo local, Andrade mencionou outros bandeiristas que haviam solicitado autorização da Coroa para abrir Caminho que levasse ao sertão dos Campos Gerais, mas apenas a Garcia teria sido permitido tal empreitada. Entre as recompensas que todos pediam, estava a concessão de ‘vila na altura do Paraíba’.

Obtida a concessão, “Garcia Rodrigues Paes transferiu sua família para o Paraíba e montou uma grande fazenda para abastecer os viajantes que se dirigiam para as minas. Embora tivesse obtido o cargo de Guarda Mor Geral das Minas, nomeou um substituto para o seu lugar.” Estaria, portanto, muito mais interessado no ‘negócio de ocasião’ que era o Caminho Novo. A prática de nomear substituto tornou-se comum posteriormente.

Nesta primeira comunicação do Encontro, o professor Francisco Andrade nos mostrou que ‘caminhar é a oportunidade de descobrir o que a terra esconde’ e que a descoberta das minas foi uma decorrência do trânsito e não que o ‘descobrimento do ouro teria produzido o caminho. Pelo contrário, as minas é que são resultados dos caminhos’.  O Caminho Novo representou muito mais do que uma via de acesso às minas, com destaque para a formação de roças para produção dos gêneros vendidos aos caminhantes que por ali passavam. 
Resta-nos a indicação do livro:
ANDRADE, Francisco Eduardo de. A Invenção de Minas Gerais. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.