Imigrantes Agricultores em Leopoldina


Alguns leitores escrevem perguntando quando chegaram os primeiros imigrantes em Leopoldina. Esta é uma pergunta difícil de ser respondida, já que não foram localizados os documentos da primeira fase. Esclarecemos que por primeira fase da imigração classificamos o período anterior a 1888.

O Jornal O Leopoldinense, de 1881, já se referia a imigrantes espanhóis que o Dr. Domiciano Ferreira Monteiro de Castro fizera embarcar da Corte para a Fazenda do Socorro, de propriedade do seu irmão Tenente Vicente Ferreira Monteiro de Barros.

Colonos não italianos

São freqüentes as consultas de leitores sobre a origem dos imigrantes e perguntam se Leopoldina recebeu apenas italianos.

Entre os colonos instalados na Colônia Agrícola da Constança, vários deles não eram italianos. Entre outros, citamos três que tomaram posse no mês de junho de 1910: Augusto Santos - lote 10, Francisco Dias Ferreira – lote 36 e Júlio Teixeira Figueiredo – lote 47. Infelizmente ainda não pudemos estudá-los, já que existiram homônimos vivendo em Leopoldina na mesma época e ainda não encontramos fontes que os identifiquem adequadamente.

Atividades desenvolvidas na Colônia Agrícola da Constança


A atividade agrícola na colônia foi assim discriminada no Relatório de 1911: culturas de café, arroz, feijão, mandioca, cana de açúcar, milho, amendoim e fumo, com a seguinte produção: 2.585 kilos de café, 60.880 kilos de arroz, 48.215 litros de feijão, 197.750 litros de milho, 225 de amendoim. Não foi mencionado o resultado da colheita da mandioca, da cana de açúcar e do fumo.
Quanto à atividade pastoril, ficou registrado: 444 leitões, 80 bovinos, 59 cavalos, 79 cabritos, 2.703 galináceos e 51 patos.
Os colonos entregavam 20% de suas colheitas como parte do pagamento de suas dívidas. No ano de 1911, o valor arrecadado em cereais foi de 5:221$836. Além disto, os colonos entregaram 1:998$750 em dinheiro. Ao final do exercício de 1911 o total dos débitos dos colonos montava a 61:210$767

População da Colônia Agrícola da Constança em 1910-1911


O RELATÓRIO DA DIRETORIA DA AGRICULTURA, TERRAS E COLONIZAÇÃO, ano de 1911, permite analisar os dados populacionais da Colônia Constança no seu primeiro ano de efetiva existência.

A sua população era então de 386 indivíduos, sendo 183 do sexo masculino e 203 do feminino, distribuídos pelas seguintes nacionalidades: brasileira 53, italiana 164, portugueza 58, alemã 49, espanhola 2, austríaca 6 e turca 4. Ressaltamos que nem todos os habitantes da colônia eram proprietários de lotes. Pelo contrário, um número expressivo era composto de agregados às famílias dos colonos, imigrantes que não haviam se adaptado ao regime de trabalho imposto pelos fazendeiros da região e que, em alguns casos, estavam há quase vinte anos morando provisoriamente nos mais diferentes lugares. Muitas vezes também, o proprietário do lote era apenas aquele que conseguira aprovação ao seu projeto de financiamento. Mas o trabalho era realizado por diversas famílias que seriam meeiras do colono registrado.

Segundo o Relatório acima citado, no exercício de 1911 estavam localizadas no núcleo 18 famílias, com o total de 93 indivíduos, mas uma a abandonou no mesmo ano. No entanto, é preciso observar que o relatório não se refere ao ano civil, mas ao ano decorrido desde o relatório anterior, baseado em mapas de janeiro de 1910.

Quanto aos que abandonaram a colônia, foram 9 famílias com 50 indivíduos, chefiadas por: Angelo Bucciol, August Krauger, August Schill, Bruno Troche, Franz Negedlo, Franz Schaden, Herman Krause, Karl Thier e Demetrio de Lorenzi. Este último instalou-se na Colônia no dia 26.02.1911 e três meses depois a abandonou, tendo sua saída sido registrada a 30.05.1911. O montante da dívida destes colonos era então de 2:821$398.

Entre a chegada ao Brasil e a compra do lote


Através dos Fofano, observamos mais um caso de colonos que foram instalados na Colônia Agrícola da Constança, em Leopoldina, muito tempo depois de terem vindo para o Brasil. Isto ocorreu porque muitos imigrantes foram contratados pela Província de Minas Gerais entre os anos de 1887 e 1894, com o objetivo de substituir a mão de obra escrava. Desembarcados no Porto do Rio, eram encaminhados para Hospedarias de Imigrantes de onde saiam sob contrato com algum fazendeiro ou mesmo alguma câmara municipal.
No caso de Leopoldina, já encontramos famílias que desembarcaram no Rio em 1894, ficaram alguns dias na Hospedaria Horta Barbosa, em Juiz de Fora e foram contratados pela Câmara Municipal de Leopoldina que os encaminhou para fazendas do município. Muitos desses imigrantes, quando da criação da Colônia, ali adquiriram lotes e passaram a cuidar da sua própria terra.

Republicação de nossos textos

Entre 1999 e 2001 nós publicamos, em jornais de Leopoldina, uma série de artigos comemorativos dos 90 anos da Colônia Agrícola da Constança. Logo depois foram para o site, sendo mantidos na forma original.
Este blog tem por objetivo republicar partes daqueles textos que estavam, até agora, reunidos num outro espaço.

Famílias de Colonos: os Fofano


Carlo Batista Fofano, filho de Francesco Fofano e Luiza Carrara, nasceu em Mogliano, no Veneto. Casou-se em Piacatuba, distrito de Leopoldina, com Adele Maria Estevam, filha de Vicenzo Estevam e Maria Bedin. Carlo e Adele ocuparam o lote 27 da Colônia Constança.

Paschoal Domenico Fofano ocupou o lote 8. Em 1921 Paschoal casou-se, em Leopoldina, com Olivia Meneghetti, filha de Luigi Meneghetti e Maria Verona. Acreditamos que este tenha sido um segundo casamento de Paschoal, uma vez que existe uma filha sua, de nome Maria Carolina Fofano, nascida em 11.07.1899, em Tebas, o distrito de Leopoldina mais próximo da Constança.

O Território da Colônia Constança

Criada em 1910, conforme Decreto número 2801 de 12.04.1910, no distrito da cidade de Leopoldina, tinha a Colônia uma área de 18.797.500 metros quadrados, dividida em 65 lotes e 2 logradouros públicos. Logo em seu primeiro ano, o Estado concluiu pela mudança da destinação dos espaços públicos e os incorporou à área agricultável, na forma de três novos lotes. Desta forma, a Colônia passou a contar com 68 lotes.

Ainda com o propósito de aumento do número de lotes, foi também adquirida a Fazenda Palmeiras que pertencera ao Sr. Fernando Sellani. Esta propriedade foi adquirida por 12:000$000 e constava de 25 alqueires em matas, pastagens, 10.000 pés de café, arrozal, milharal, canavial, 1 casa (sede), 6 casas para colonos, 1 engenho de cana, 1 moinho de fubá e 1 paiol para milho.

A Fazenda Palmeiras foi dividida em 5 lotes, passando a ser de 73 o número de unidades da Colônia Constança. Ao final do exercício de 1912, apenas 64 lotes estavam ocupados, sendo que apenas um por título definitivo.

Os “construtores” da Colônia

A organização de uma colônia envolvia profissionais de diferentes áreas. Os imigrantes que trabalharam na construção da Colônia Agrícola da Constança estiveram subordinados a diversos funcionários contratados pela Secretaria de Agricultura. Um deles foi o italiano Ferdinando Sellani, citado em post anterior. Outro foi Pedro Castello Branco, que de 10 de junho a meados de novembro de 1909 assumiu o posto de "auxiliar de medição e divisão dos lotes".

Em julho de 1909 chegou o Theophilo Reiff, admitido como encarregado do preparo de 6 lotes na parte da colônia denominada "Onça". Assim como Sellani, também este encarregado teve um parente entre os colonos: Francisco Antonio Reiff instalou-se na Constança no dia 15 de julho de 1910.

Além destes, Climério Duarte Godinho foi admitido em julho de 1909 como auxiliar do administrador Sr. Guilherme Prates e Félix Schmidt esteve à frente da colônia de maio a julho de 1911, sendo então substituído por Climério Godinho. Como auxiliar foi nomeado João Ventura Gonçalves Neto.

Estradas internas da Colônia

Como o objetivo do sistema de colonização era a agricultura, uma das providências necessárias era a abertura de estradas ou caminhos que facilitassem o escoamento da produção. Em Leopoldina ocorreu que a propriedade denominada Fazenda Messias ficou quase totalmente envolvida pela Colônia Agrícola Constança, estando localizada no melhor local para abrir uma estrada ligando as fazendas Boa Sorte e Constança, diminuindo em 4 km a distância percorrida pela ligação então existente. Mas o proprietário negou-se a vender o trecho a preços razoáveis. Conseqüentemente, os colonos ficaram sujeitos a um percurso maior.

Escola na Colônia Agrícola da Constança

Nos primeiros estudos sobre a Colônia Agrícola da Constança, os informes indicavam que não havia preocupação em providenciar escola para os filhos dos colonos. Num relatório, escreveu o administrador: "Ainda não foi installada a escola da colonia, não tendo eu recebido, até esta data, ordem alguma relativamente a construcção do predio onde deva funccionar este estabelecimento, nem ao local preferido."

Entretanto, mais tarde as famílias passaram a contar com duas escolas, como pode ser visto em artigo sobre o tema.

Condições de compra dos lotes da Colônia Constança

Todas as despesas realizadas na preparação dos lotes eram agregadas ao valor das terras a serem vendidas. Em dezembro de 1909, por exemplo, foi necessária a limpeza nas culturas de cinco lotes que ainda estavam desocupados. O valor gasto foi devidamente discriminado para ser adicionado ao preço daqueles lotes.

Julgamos inadequado abordar o preço de cada lote, por não ser possível identificar quais valores entraram em sua composição. De todo modo, sabe-se que a compra atraía os colonos por dois fatores. Em primeiro lugar, o preço era inferior ao cobrado pelos fazendeiros que loteavam suas terras exauridas sem subsídio da fazenda provincial. Por outro lado, os vendedores individuais não poderiam oferecer o financiamento que o colono obtinha junto ao governo para comprar um lote das colônias estaduais. No caso da Constança, sabemos que sua emancipação ocorreu 10 anos depois de instalada, ou seja, este foi o prazo que os colonos precisaram para saldar a dívida com o governo.

O primeiro Diretor da Colônia


Os trabalhos de preparação da Colônia Agrícola da Constança foram dirigidos pelo italiano Ferdinando Sellani. Uma de suas atividades foi orientar a construção das primeiras casas que abrigariam as famílias dos colonos. Para tanto foi seguido o modelo em uso na Colônia Vargem Grande.

No ano de 1911, o nome deste primeiro diretor aparece como vendedor de umas terras que haviam pertencido à Fazenda Palmeiras, e que o Estado adquiriu para ampliar a Colônia. Isto indica, portanto, que Ferdinando Sellani estava no Brasil há algum tempo e se tornara proprietário rural em Leopoldina. Ainda sobre a família Sellani, sabe-se que em 1910 o lote número 60 foi adquirido por Sante Sellani, cujo grau de parentesco com Ferdinando ainda não está bem definido.

Motivos para abandonar a Colônia

Estudos sobre o sistema de acolhimento dos imigrantes em Minas Gerais no final do século XIX geram não poucas surpresas. Uma delas é a constatação do abandono do lote por famílias que, de outra forma, não teriam acesso à propriedade.

Em outras regiões do Brasil a implantação de colônias levou em conta a religião dos imigrantes. No caso da Constança, embora a maioria dos ocupantes dos primeiros lotes fosse protestante, não havia um pastor para ministrar o serviço religioso. Este fato poderá ter influenciado a decisão de abandono das terras por alguns deles.

Um outro aspecto que pode ter influenciado a saída foi mencionado pelo administrador em relatório para a Secretaria provincial. Dizia ele que os colonos eram assíduos, demonstravam aptidão e boa vontade, mas "devido ao clima desta zona, auxiliado pelas fortes soalheiras, os colonos allemães executam esses trabalhos muito lentamente, não correspondendo o esforço physico ao beneficio alcançado".

População e Equipamentos da Colônia

Em dezembro 1909 o total de moradores da colônia era de 56, sendo 31 do sexo masculino e 25 do feminino. A respeito das famílias assentadas, embora os italianos não tenham sido os pioneiros da Colônia Agrícola da Constança, foram os que a desenvolveram.

Dos 16 colonos assentados no primeiro ano, 7 (sete) a abandonaram, tendo sido inscritos como devedores do Estado. Outros dois abandonaram a Colônia no ano seguinte. O que não sabemos ainda é se os desistentes saíram definitivamente de Leopoldina. Até o momento não nos foi possível encontrar dados sobre as famílias de August Krauger, August Schill, Franz Negedlo, Karl Thier, Bruno Troche, Herman Krause, Franz Schaden, Angelo Bucciol e Demetrio de Lorenzi.

Segundo o Relatório, a 31 de dezembro de 1909 a Colônia contava com "17 casas definitivas para colonos, 11 provisórias, 3 engenhos para fubá, 1 dito de serra, 1 dito de beneficiar café, como motor, 2 predios das antigas fazendas "Constança" e "Onça", 1 roda de ferro movida a agua e 1 carroça velha".

Rancan e Maimeri


Entre os colonos italianos que viveram na Constança, estas duas famílias viajaram no mesmo vapor.

A de Francesco Rancan, nascido em 1843 e casado com Angela Corradini, nascida em 1849 e que desembarcou com os filhos Luigi, nascido em 1874; Carolina, nascida em 1880, em Verona; Angelo, nascido em 1882 e, Maria, nascida em 1886. Desta família sabe-se que a segunda filha, Carolina, casou-se em Leopoldina, em 1911, com Luigi Maimeri, filho de Angelo Maimeri, cuja família chegou ao Brasil pelo mesmo navio. Do casamento de Luigi e Carolina nasceu, em Santa Isabel (Abaíba)-Leopoldina, em 1908, João Batista Maimeri que, em 03.12.1932 veio a se casar, em Leopoldina, com Lourença de Freitas Dias, nascida em 1915, também em Santa Isabel.

A família Maimeiri que viajou no mesmo navio: Ângelo Maimeri, nascido em 1840, foi casado com Maria Rancan cujo nome não aparece na lista de desembarque. Com ele, chegaram apenas os filhos Luigi, nascido a 26.10.1872, em Verona, a quem nos referimos acima; Amalia, nascida em 1878; Santa, nascida em 1880 e, Angela, nascida em 1883.

Ainda nesta viagem do Vapor Colombo encontramos um Alessandro Bedin, nascido em 1866 e uma família Bertoli, talvez parentes de Celeste Bartoli, casada com um outro Alexandre Bedin, nascido em 1889. Assim, fomos recolhendo diversos nomes de imigrantes italianos que viveram em Leopoldina e que nem sempre se instalaram na Colônia Agrícola da Constança.

A Produção da Colônia

Depois de assinarem os contratos de compra dos lotes, os imigrantes puderam ocupá-los com suas famílias e logo começar a produzir. Segundo um Relatório da Diretoria de Terras e Colonização, sobre o primeiro ano de funcionamento

A area cultivada é de 65,5 hectares, a inculta de 1.678 hectares. [...]cultivam-se milho, arroz, feijão, hortaliças e alvores fructiferas, cuja producção não é conhecida, visto não terem sido effectuadas ainda as colheitas.

Além dos colonos, existiam na colôniaos aggregados por meiação, em virtude de contracto com os ex-proprietários das fazendas”. Estes agregados colheram, em 1909, 5 carros e 5 alqueires de milho, 4.617 kilos de café em coco e 1.559 ditos de arroz em palha. Lembramos que alguns destes agregados tornaram-se, algum tempo depois, colonos como os outros, através da assinatura dos relatados contratos de financiamento.

Família Pradal

Diversas vezes encontramos, entre os moradores da Colônia Constança, aqueles que declararam a chegada ao Brasil em 1896. Alguns incluíram, inclusive, a informação de desembarque pelo Vapor Colombo. Outros, como Augusta Pradal, indicaram a data como sendo março daquele ano.

Giovanni Batista Pradal veio para o Brasil com a mulher, Ursula Dalsin e a filha Augusta, nascida a 04.10.1875 em Treviso. Augusta Pradal foi casada com Arthur Togni, nascido a 30.05.1869 em Rovigo, filho de Luigi Togni e Maria Bassi. Augusta e Arthur, são os pais de Euclides Togni, nascido em Valença-RJ e que se casou, em Leopoldina, a 09.10.1932, com Isolina Meneghetti.

Pesquisamos diversas relações de passageiros daquele ano e não encontramos a família Pradal. Porém, na Relação de Viajantes do Vapor Colombo, aportado no Rio de Janeiro em 03.04.1896, encontramos outras famílias que residiram em Leopoldina.

Os Preparativos da Colônia

Nos primeiros meses de funcionamento da Colônia Agrícola da Constança, antes ainda da assinatura, em 12.04.1910, do Decreto número 2801 que a criou, foram realizados diversos preparativos muito bem detalhados no Relatório da Diretoria do ano seguinte. A maioria das atividades foi desenvolvida pelos primeiros colonos, pois que foram eles, os assentados no ano de 1909, os responsáveis pela construção das próprias casas onde vieram a residir.

Além das famílias de João Baptista de Almeida Paula, Mathias Hensul, Franz Ketterer, August Krauger, August Schill, Wilhelm Zessin, Augusto Mesquita, Franz Negedlo, Karl Thier, Fritz Zessin e Hermann Richter, outros colonos trabalharam na implantação daquele núcleo.


LOTE

COLONO

ENTRADA

SAÍDA

31

Krause, Herman

27.01.1910

30.06.1910

51

Lang, Ernest

27.01.1910


44

Schaden, Franz

27.01.1910

30.06.1910

32

Troche, Bruno

27.01.1910

06.06.1910

37

Cartacho, Manoel da Cruz

30.01.1910


Centenário da Colônia Agrícola da Constança

Em abril de 2010 será comemorado o centenário de criação da Colônia Agrícola da Constança. Leia artigo a respeito.

Imigração Italiana em Minas Gerais

Em outubro de 2006 foi realizado em Barbacena-MG, o II Seminário sobre Imigração Italiana em Minas Gerais. Veja como foi.

A Localização da Colônia e seus Administradores

De acordo com o Relatório da Diretoria de Agricultura, Terras e Colonização de Minas Gerais - ano 1909, assinado por Guilherme Prates,

"Acha-se situada no districto da cidade de Leopoldina, a quatro kilometros da estação da estrada de ferro. Fundada em terras das fazendas annexadas e denominadas Constança, Sobradinho, Boa Sorte, Onça e o sitio Puris, que o Estado adquiriu, tem a área de 17.437.500,00 metros quadrados, dividida em 60 lotes, com cerca de 25 hectares cada um e um logradoiro publico com a extensão de 1.317.500,00 metros quadrados"


Para administrá-la, o Governo nomeou Guilherme Prates que, segundo a Gazeta de 27.05.1911, permaneceu no cargo até 16.05.1911, quando foi tranferido para a Colônia Santa Maria, em Sobral Pinto/Astolfo Dutra. Da Santa Maria, na mesma data, veio o diretor Félix Schmidt, que administrou a Constança por um curto período, pois a 30.06.1911 veio a falecer.

Assumiu o cargo, a partir daí, Climério Godinho, que exercia a função de ajudante e que, como administrador da Colônia permaneceu até a emancipação e total quitação dos financiamentos dos lotes. Sr. Climério residia na sede da Colônia, que funcionava na antiga fazenda Boa Sorte, hoje de propriedade de João Bonin (Bonini), onde funcionava a escola pública que atendia às famílias dos colonos e que se transformou na atual E. M. Climene Godinho.

Família Colle

Entre os inúmeros italianos que vieram para Leopoldina, a família Colle, que se instalou na Constança no dia 28.12.1910, no lote 12, compunha-se do casal Francesco Colle e Perina Gallazo e seus filhos.


Francesco Colle nasceu por volta de 1868 em Cesarolo, SanMichelle al Tagliamento, Venezia, Veneto, Italia. Casou-se com Pierina Galasso, filha de Pietro Galasso e Aguita Mota, em 15 abril 1894 em San Michelle al Tagliamento. Pierina nasceu em 29 junho 1873 em Latisana, Udine, Friuli Venezia-Giulia, Italia.

Eles tiveram os seguintes filhos: Santina, Marcelina, Regina, Angelo, Antonio José e Francisco João.

Santina Colle nasceu em 17 março 1899 em Cesarolo, SanMichelle al Tagliamento, Venezia, Veneto, Italia. Casou-se com Marino Bronzato, filho de Giuseppe Bronzato e Rosa Ambrosi, em 1927 em Leopoldina, MG. Marino nasceu em junho 1895 em Anghiari, Arezzo, Toscana, Italia. Foram pais de José, Geraldo, Angelina, Luiza, Francisco, Maria Amélia e Osvaldo Bronzato.



Marcelina Colle nasceu em 01 setembro 1901 em Cesarolo, SanMichelle al Tagliamento, Venezia, Veneto, Italia. Casou-se com Jacinto Bonini, filho de Fortunato Bonini e Maria Darglia, em 12 maio 1917 em Leopoldina, MG. Jacinto nasceu por volta de 1889 em Orleans, SC. Foram pais de João, José, Anna, Francisco, Fortunato, Sebastião, Climário e Nelson Bonini.


Regina Colle nasceu em 03 junho 1904 em Cesarolo, SanMichelle al Tagliamento, Venezia, Veneto, Italia. Casou-se com José Gallito, filho de Giovanni Gallito e Elisa Borella, em 02 fevereiro 1921 em Leopoldina, MG. José nasceu em 09 dezembro 1897.


Angelo Colle nasceu em 11 fevereiro 1907 em Cesarolo, SanMichelle al Tagliamento, Venezia, Veneto, Italia. Casou-se com Ana Sangirolami, filha de Pietro Sangirolami e Paschoa Bonini. Ana nasceu em 12 janeiro 1913 em Leopoldina, MG. Foram pais de José, Marina, Maria e Nelsina Colle.


Francisco João Colle nasceu em 03 abril 1918 em Leopoldina, MG. Foi pai de Jairo, Jair, Juraci, João, Juarez e Jurandir Colle.

Da terceira geração de Francesco Colle e Pierina Galasso temos notícias dos seguintes:

- filhos de Jairo (Jairo Júnior, Daniela e Alexandre Lima Colle)

- filha de Jair (Janete Farinazzo Colle)

- filhos de Juraci (Hilario e Hideraldo)

- filhas de Juarez (Conceição Aparecida e Cláudia Furtado Colle)

- filhos de Jurandir (Wellington e Washington Gonçalves Colle)

Lembramos que foi necessário unificar a grafia dos nomes e sobrenomes para facilitar a indexação no banco de dados. Optamos, sempre, pela ortografia do mais antigo documento. Portanto, os descendentes atuais podem não utilizar estas formas.

Lembramos ainda que as informações da Itália foram obtidas junto ao Archivio di Stato de San Michele al Tagliamento. Consultamos também os processos de Registro de Estrangeiros de Santina, Marcelina e Angelo, encontrados no Arquivo Nacional, Rio de Janeiro.



A Ocupação dos Lotes

Inicialmente foram demarcados 60 lotes. No ano seguinte contavam-se 65 e, em 1911, com a aquisição da fazenda Palmeiras, o número aumentou para 68. Esses lotes, devidamente cercados e com uma casa de morada coberta de telhas, foram vendidos principalmente aos imigrantes que ali passaram a cultivar toda sorte de produtos, a maioria deles para serem vendidos na cidade ou na "venda de secos e molhados" do Sr. Augusto Timbiras, que ficava na entrada do Bairro Boa Sorte e que se transformou num verdadeiro entreposto comercial para uma vasta regão.

Sabemos que entre novembro e dezembro de 1909, com 15 lotes preparados, foram instaladas na Constança onze famílias de colonos, sendo 8 alemãs (38 pessoas), 1 austríaca (7 pessoas), 1 portuguesa (3 pessoas) e 1 brasileira (8 pessoas).

A Gazeta de 17.04.1910 informa que no mesmo mês da criação da Colônia foram deferidos os pedidos de lotes dos colonos Frederich Zessin, Augusto Kraucher, Karl Thiers, Franz Havier, Augusto Schill, João Gerhim. Hermann Richter. Bruno Trache, Hermann Kunse e Erust Lang. Informa ainda que o lote 41 foi cedido a Augusto Mesquita; que João Carminatti pretendia os de números 58 e 59 e que o lote 64 havia sido adquirido por Manoel Gomes Pardal. Pelo jornal de 19.06.10 sabe-se que na Colônia também residiam o austríaco Franz Negedlo e seus vizinhos Guilherme e Fritz Zessin.

Entretanto, quando se fala na Colônia Constança, lembramo-nos logo dos italianos que constituíram o núcleo mais ativo e permanente da colônia e está a merecer um estudo mais aprofundado sobre os seus hábitos e forma vida. Foi um núcleo tão importante que fez a cidade contar, em 1911, com um Agente Consular Italiano, o Sr. Angelo Maciello, representante de Sua Majestade Victorio Emmanuelle III, Rei da Itália naquela época.

Recuperar a História da Colônia

Em artigo publicado na Gazeta de Leopoldina de 23.10.1999, tentamos levar ao conhecimento dos leitores um pouco da história da Colônia Constança e da sua parte que forma hoje o Bairro Boa Sorte. O objetivo era relembrar a importância da Colonização Italiana e o grande exemplo deixado por esta iniciativa de distribuição de terras.

A Colônia Constança foi o núcleo que acolheu o maior número de imigrantes na cidade, mas a chegada dos primeiros imigrantes ao município é bem anterior. O Jornal O Leopoldinense, de 1881, se referia a 109 imigrantes espanhóis que o Dr. Domiciano Ferreira Monteiro de Castro fizera embarcar da Corte para a Fazenda do Socorro, de propriedade do seu irmão Tenente Vicente Ferreira Monteiro de Barros.

O Decreto Estadual nº 2801, de 12.04.1910, que criou a Colônia Agrícola da Constança, foi fruto de parte de um acordo anterior, firmado pelo governo com as Empresas Ferroviárias, onde se previa o apoio à criação de núcleos produtivos nas proximidades das Estradas de Ferro. Respaldando este Decreto existia a Lei 438, de 1906, que autorizava o governo do Estado a criar colônias para o assentamento de imigrantes, concedendo a cada colono um lote que a Lei 2027. de 08.06.1907 definiu como sendo de três hectares de terras.

A Constança vinha sendo planejada desde o ano anterior à criação e foi constituída inicialmente a partir das fazendas Constança, Boa Sorte, Onça (parte) e Puris (parte), adquiridas pelo Estado. A fazenda Boa Sorte, por exemplo, com 122 alqueires, foi adquirida em 02.03.1909, conforme nos informa o Annuario Historico Chorographico de Minas Gerais daquele ano. Em julho de 1910 o Governo incorporou à Colônia as terras da Fazenda Modelo D. Antonia Augusta e, no ano seguinte, as que formavam a fazenda Palmeiras e a fazenda Santo Antonio do Onça, esta última adquirida da Câmara Municipal, conforme a Gazeta de 30,06.1911. Mais tarde, outras terras foram anexadas.