Guerra pelo açúcar

Episódio da série Histórias do Brasil, transmitida pela TV Brasil, sobre o período de ocupação dos holandeses.

Ouro e Cobiça (Ouro Preto, 1719)

Com os comentários de especialistas no assunto, este vídeo da série Histórias do Brasil, transmitida pela TV Brasil, aborda o ciclo do ouro em Minas Gerais.

Colonização

Neste vídeo, da série Histórias do Brasil divulgada pela TV Brasil, fala-se da introdução do escravo negro nos engenhos de açúcar.

O Sangrador e o Doutor, Rio de Janeiro, 1820

Vídeo da série Histórias do Brasil, da TV Brasil, abordando um dos aspectos que envolviam a vida dos forros no Brasil Colônia.

Dicas para conservar seus livros

Fonte: http://livroseafins.com/21-dicas-para-conservar-seus-livros-e-sua-biblioteca/

  1. Grandes quantidades de livros são pesadas. Dê atenção a espessura das prateleiras.
  2. O livro deve ser constantemente manuseado. O virar das páginas oxigena o material, impede a acumulação de microrganismos que atacam o papel e colabora para que as folhas não fiquem ressecadas e quebradiças.
  3. Folheie rapidamente, mas cuidadosamente, o livro sempre que for colocá-lo de volta na prateleira. Isso vai arejá-lo.
  4. Não guarde os livros acondicionados em sacos plásticos, pois isto impede a respiração adequada do papel.
  5. Evite encapar os livros com papel pardo ou similar. Essa aparente proteção contra a poeira causa, na realidade, mais dano do que benefício ao volume em médio e curto prazo. O papel tipo pardo, de natureza ácida, transmite seu teor ácido para os materiais que estiver envolvendo (migração ácida).
  6. Faça uma vistoria anual. Retire todos os livros, limpe-os com um pano seco. Limpe a estante com um pano úmido. Evite passar produtos fortes do tipo lustra-móveis, já que seus resíduos podem infiltrar no papel.
  7. Deixe sempre um espaço entre estantes e parede. A parede pode transmitir umidade aos livros. E, com a umidade, surgem os fungos.
  8. Armários e estantes devem ser arejados. Estantes fechadas devem ser periodicamente abertas.
  9. Estantes de metal são preferíveis do ponto de vista da conservação dos livros.
  10. Não use clipes como marcadores de páginas. O processo de oxidação do metal mancha e estraga o papel.
  11. Em estantes de madeira, pense em revestir as prateleiras com vidro. Não use tintas a base de óleo.
  12. Bibliotecas devem ser freqüentadas. Nem pense em porões. Baixa freqüência de pessoas aumenta a insidência de insetos. Considere um tratamento anual contra traças.
  13. Não guarde livros inclinados. Aparadores podem mantê-los retos.
  14. Encadernações de papel e tecido não devem ser guardadas em contato direto com as de couro.
  15. Na prateleira, os livros devem ficar folgados. Sendo fáceis de serem retirados, duram mais. Comprimidos nas prateleiras, induzem a sua retirada de maneira incorreta, o que danifica as lombadas e fatalmente leva ao dano da encadernação. Livros apertados também favorecem o aparecimento de cupins.
  16. Quando tirar um livro da prateleira, não o puxe pela parte superior da lombada, pois isso danifica a encadernação. O certo é empurrar os volumes dos dois lados e puxar o volume desejado pelo meio da lombada.
  17. A melhor posição para um livro é vertical. Livros maiores devem ter prateleiras que permitam isso. Em último caso deixe-os horizontalmente, tomando-se o cuidado de não sobrepor mais de 3 volumes.
  18. Luz do sol direta nem pensar. O sol desbota e entorta as capas.
  19. Se for um livro antigo ou de algum outro valor ou de maior sensibilidade, lave as mãos antes de folheá-lo, já que mãos engorduradas contribuem para a aceleração da decomposição do papel. Evite umedecer as pontas dos dedos com saliva para virar as páginas do livro.
  20. Ao ler um livro, evite abri-lo totalmente, como por exemplo, em cima de uma mesa. Isto pode comprometer a estrutura de sua encardenação.
  21. Não utilizar fitas adesivas tipo durex e fitas crepes, cola branca (PVA) para evitar a perda de um fragmento de um volume em degradação. Esses materiais possuem alta acidez, provocam manchas irreversíveis onde aplicado.

Entradas e Bandeiras

"O mameluco Jerônimo domina os segredos da mata. Como guia de uma expedição bandeirante, é ele quem aponta o caminho, decifra os rastros dos animais, encontra comida e água."

Veja o vídeo da série Histórias do Brasil, transmitida pela TV Brasil:



Vida e morte no Paraguai, Tuiuti, 1866

Vídeo da série Histórias do Brasil, transmitido pela Tv Brasil

"No acampamento do Exército Aliado, três amigos se divertem conversando sobre Alfredo, colega deles que se feriu levemente em circunstâncias misteriosas. Cada amigo tem uma versão para o ferimento."



Antonio Rafael: centenário de nascimento

Nasceu em Leopoldina no dia 14 de setembro de 1911, filho dos italianos Raul Lucas Rafael e Chiana Fanni.

Seus pais se casaram em Leopoldina em 1908. Sua mãe nasceu em San Vito, Cagliari, Sardegna, tendo passado ao Brasil com os pais e irmãos em 1897. As família residiu inicialmente em Santa Izabel, distrito que atualmente tem o nome de Abaíba. Mais tarde uma parte da família Fanni migrou para o município de Palma.

José de Rezende Costa


André Figueiredo Rodrigues apresentou-se agradecendo pela oportunidade concedida a um paulista que se apaixonou por Minas Gerais. Lembrou que na infância sentiu-se tocado pela comoção nacional em torno do falecimento de Tancredo Neves e, perguntando a um tio o motivo, recebeu como resposta a sugestão de ler um livro publicado em 1902 sobre Tiradentes. Na adolescência buscou outras informações sobre o alferes e mesmo tendo feito a primeira opção por outro curso universitário, o desejo paulista de conhecer a própria terra levou-a a visitar as cidades históricas e à decisão de estudar a vida dos inconfidentes, trajetória que já se estende por 12 anos. 

Mencionou a ideia corrente de que a fortuna dos inconfidentes foi para a Coroa, em volume considerável de ouro. Entretanto, por conta do que apurou na pesquisa sobre a vida de Ayres Gomes, questionou tal afirmativa. Analisando a fortuna deixada pelo próprio Ayres Gomes e por Alvarenga Peixoto, decidiu aprofundar as buscas, encontrando informações interessantes. Citou como exemplo um porco que, no levantamento da Fazenda Borda do Campo aparece com o valor de 30 réis e em inventários comuns é avaliado em 80 réis. Por conta de tais diferenças, após concluir o estudo sobre Ayres Gomes, resolveu concentrar-se nos outros inconfidentes da Comarca do Rio das Mortes.

Muito alegre e brincalhão, o palestrante contou uma piada. Disse que se tornou amigo de Ângelo Carrara e que dele ouviu um conselho: não adianta querer trabalhar com pobre; melhor trabalhar com ricos porque deles há fontes documentais. Ou, em linguagem bem mineira, “rico tem sustança”!

Passou a falar de José de Rezende Costa, atualmente muito comentado por conta da investigação sobre seus restos mortais que resultou no esboço da provável aparência de sua face. Citou o Padre Rolim como outro inconfidente sobre o qual seria possível, também, reconstituir a face, através de descrições publicadas.
Reconstituição facial de José de Rezende Costa
Fonte: http://museudainconfidencia.wordpress.com

Destacou que Rezende Costa chamou a sua atenção pela seguinte questão: como a família conseguiu perpetuar o patrimônio e a Coroa Portuguesa só recebeu um valor irrisório?

Pesquisando sobre este personagem o palestrante teve oportunidade de descobrir o papel das mulheres, o que o levou a concluir que os grandes personagens da Inconfidência não são os homens, mas as mulheres que corrompem, enganam e subornam. Citou o caso da Bárbara Heliodora que multiplicou por 8, em 3 anos, o que Alvarenga Peixoto levara 20 anos para conseguir.

No caso de Rezende Costa, ingerências da família resultaram em que nada se perdesse, apesar do cálculo inicial apontar para um recolhimento de mais de 7 contos de réis em favor da Coroa. A prisão do patriarca foi tardia, em 1791, sendo necessário esclarecer que nada foi feito de surpresa e, portanto, os presos tiveram tempo de se organizarem.

O palestrante mencionou os bens que foram listados, bem como a avaliação e o resultado do processo que, assim como no caso de Ayres Gomes, demonstram que a Coroa não recebeu o que aparentemente lhe seria devido.

Foram projetadas algumas imagens, incluindo mapas, e ressaltado que não se sabe de fotografia ou desenho com a aparência da casa sede da propriedade.

Ao discorrer sobre os motivos que impediram que o sequestro dos bens se efetivasse, ressaltou que, já sabendo de sua prisão, 40 dias antes o Rezende Costa resolveu transmitir um terço de seu patrimônio para o genro. Uma semana e meia antes da prisão, foi firmado o contrato de casamento da filha com Gervásio Pereira Alvim. 

O restante do patrimônio pertencia à esposa e, quando chegou a devassa, apenas 50% dos bens dela poderiam ser sequestrados. Entretanto, antes de perder os bens há o direito de precedência de créditos, o que significa que foi possível apresentar à justiça as cobranças existentes antes da devassa, solicitando que as dívidas fossem pagas. Neste momento o genro cobra a parcela constante do contrato de casamento, um irmão de Rezende Costa – Severino Ribeiro cobra uma parte relativa a um projeto de mineração em que os dois eram sócios, além de sobrinhos e primos que também aparecem no rol de credores. Não se sabe como aparece, também, uma certidão solicitando pagamento de dívidas do filho.

Gervásio Pereira Alvim decide, então, juntar todas as dívidas e pagar aos demais devedores, tornando-se o único credor do sogro. A sogra, não podendo administrar os bens, transfere o encargo para Gervásio que se torna o fiel depositário. Oras, quase 80% da dívida era com ele mesmo! Donde apresenta uma lista de mais de 400 bens avaliados por ele em mais de três contos. Seria necessário vender os bens para saldar as dívidas, razão pela qual foram feitas três tentativas de leilão em que não apareceram interessados. Desta forma, o próprio genro decidiu efetuar a compra, fazendo-a por preço abaixo do valor originalmente estipulado por ele mesmo, de forma que mais de 97% dos bens em arresto atingiram o montante necessário. Já detendo um terço do patrimônio, torna-se, assim, proprietário de tudo o que pertencia a Rezende Costa.

André Figueiredo mostrou os valores computados na primeira execução e as dívidas apresentadas, demonstrando um superávit inicial. Ao serem juntadas as cartas de cobrança do irmão de Rezende Costa, Pereira Alvim acrescenta mais alguns bens que são levados a leilão e comprados por ele mesmo.  Posteriormente é apresentada nova carta de cobrança, impetrada por filho ilegítimo de Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, listando despesas futuras do empreendimento de mineração em que era sócio de Rezende Costa. A liquidação ocorre repetindo o modelo acima mencionado.

Não existem, em outros inventários consultados, nada comparável aos preços apresentados nas prestações de contas. Seguindo todo o processo, o palestrante comparou os cálculos de todas as etapas e a forma como o superávit vai diminuindo até desaparecer por completo, quase nada restando para a Coroa. 

Em 1804, representantes das famílias dos inconfidentes são chamados pelo fisco para apresentação de contas. Gervásio Pereira Alvim, então, demonstra que nada há para recolher do patrimônio de Rezende Costa e que a Coroa teria que arcar com as despesas do fiel depositário que, como vimos, foi ele mesmo. 

Segundo o palestrante, o mesmo ocorreu com Hipólita Jacinta em Prados e com Ayres Gomes. Sendo que, neste último caso, um erro de cálculo permitiu que um pequeno valor fosse recolhido para a Coroa.

O fiel depositário dos bens de Hipólita Jacinta foi um sobrinho que também resolveu pagar todas as dívidas e tornar-se o único credor, destacando-se que eram dívidas com parentes próximos, inclusive  filhas do fiel depositário e escravos que foram alforriados e teriam recebido uma porcentagem do montante.

Chama a atenção o fato de que o Governador não enfrentou a situação, mesmo tendo havido uma denúncia de desvio de bens por parte de um parente de Hipólita e as artimanhas para esconder os escravos de maior valor, sendo apresentados apenas aqueles que não se prestavam mais ao trabalho. Embora a família tenha sido chamada para prestar esclarecimentos, em nenhum momento aparecem sinais de apuração ou de enfrentamento, parecendo indicar que o poder das famílias era superior ao dos governantes.

Finalizando, citou a lenda sobre ajuda que teria sido dada a Bárbara Heliodora que estaria em situação difícil, declarando tratar-se de balela e que o processo ocorrido na região de Campanha girou em torno de bens desconhecidos no início da devassa. 

Paisagens rurais e personalidades históricas dos Caminhos Velho e Novo



Logo no início da apresentação, Ângelo Carrara ressaltou que há diferenças entre os objetivos de quem se instalou na margem direita do Rio São Francisco e aqueles que se estabeleceram na margem esquerda do mesmo rio. Estes últimos criavam gado não para vender na região das Minas Gerais, mas para comercializá-lo nas minas de Goiás. O olhar destes curraleiros se voltou, portanto, para o centro oeste brasileiro. Observando-se as minas de ouro de Goiás e Tocantins percebe-se como o oeste de Minas se articula com Goiás.

Muito antes das descobertas de ouro já existiam estabelecimentos pecuários no território banhado pelo Rio São Francisco. Como exemplo citou o arraial de Matias Cardoso, fundado no norte de Minas em 1680, que tinha sua economia voltada para o comércio com a Bahia. 


Projetado um mapa da Comarca do Rio das Mortes, ressaltou os problemas de nomenclatura para representar uma comunidade homogênea. Chamou a atenção para o fato das divisões que aparecem no mapa não serem municipais, mas das freguesias então existentes. Quando se fazia a cobrança de impostos em Minas Gerais, adotou-se um princípio de jurisdição baseado na divisão eclesiástica. 


Passando a discorrer sobre os elementos de caracterização dos Caminhos Novo e Velho, o palestrante informou que há diferenças profundas entre as áreas de um e de outro caminho.

A primeira divisão a que se submeteu o território de Minas foi em Comarcas. Em 1711, junto com a criação das três vilas – Mariana, Ouro Preto e Sabará, foram criadas as comarcas, ou áreas judiciárias de atuação de um ouvidor. Considerada uma divisão artificial, por não se preocupar com o recorte da personalidade histórica, demonstra o modo de percepção de Minas de acordo com a geografia do local. De tal maneira que a Comarca do Rio das Velhas recebeu este nome porque a identidade dela era dada pelo rio homônimo, e inicialmente estendia-se até a divisa com Pernambuco, que então marcava o limite de Minas Gerais. A Comarca de Vila Rica englobava dois municípios: Mariana e Ouro Preto, com uma identidade dupla. De um lado o mais alto contraforte do Espinhaço, na região de Ouro Preto e se espalha pelo vale do Rio Doce. Já a Comarca do Rio das Mortes tinha como sua característica fundamental a produção de gêneros alimentícios. Havia duas freguesias que disputavam o lugar de maior produtor: Congonhas do Campo, com milho e feijão, e, Pitangui com a maior pecuária. Estas duas freguesias tinham a maior concentração de riqueza na época. 


A divisão é um determinismo geográfico que o palestrante prefere substituir por condicionamento geográfico. Explicando o significado da expressão, declarou que, numa sociedade com o mais baixo nível tecnológico possível, as decisões sobre o quê, onde e como plantar, são decorrentes do tipo de ambiente. Por exemplo: não se podia escolher plantar trigo no cerrado brasileiro. Hoje é possível porque existem tecnologias que suplantam as dificuldades de solo, por exemplo.


Para produzir a vida, as pessoas contavam com três instrumentos: uma enxada, uma foice e um machado. Sequer havia o arado, que só apareceu em Minas no final do século XIX e que não seria útil em tempos anteriores por ser o sistema de plantio muito rudimentar. Queimava-se a mata e nas clareiras furavam-se covas nas quais eram depositadas as sementes.


Ângelo Carrara lembrou que, quando se fala de baixo nível tecnológico não se deve pensar em fome. Muito pelo contrário, Minas se caracteriza pelos mais baixos preços de gêneros alimentícios do Brasil. O motivo é simples: terra é o que não falta. Para cada grão de milho jogado no solo, conseguia-se de volta 500 grãos. Os europeus, naquele momento, não conseguiam 4 grãos de trigo para cada grão semeado. Não há registro de crise de fome em Minas Gerais no momento em que a agricultura está plenamente consolidada. 


A ração alimentar era baseada na dupla milho e feijão e mais raramente o arroz. Além disso, uma cota de carne muito abundante, que era a carne de porco, pelas facilidades de criação.

Prosseguindo, disse que a organização fiscal baseada em freguesias ajuda bastante por permitir observar as características de espaços mais reduzidos. Uma freguesia era constituída, basicamente, por uma área equivalente hoje a três ou quatro municípios. 


Passando a focar nas diferenças entre os Caminhos Velho e Novo, o palestrante lembrou que a Freguesia do Caminho Novo iniciava-se em Minas na ponte do Paraibuna e terminava aos pés da Serra da Mantiqueira, logo após Santos Dumont. Esta freguesia tinha um contorno geográfico curioso: abrangia justamente as margens de uma estrada, o Caminho Novo. O nome da freguesia foi dado porque era uma faixa de terras em torno da estrada. As pessoas ali estabelecidas tinham um só objetivo: vender gêneros, ou mantimentos, para os viandantes. 


Em 1715, Garcia Rodrigues Paes era o maior produtor rural de Minas Gerais e também o maior proprietário de escravos. Não sendo dono de minas de ouro, qual teria sido o seu objetivo de se estabelecer às margens do Caminho? Segundo Ângelo Carrara, porque optou por uma atividade econômica muito mais rentável. Com a bateia podem vir 20 oitavas de ouro como pode não vir nada. Com a agricultura, todas as pessoas têm que se alimentar, garantindo a rentabilidade do produtor. Como a moeda em circulação era o ouro em pó, Garcia Rodrigues Paes não precisava fazer esforço porque o ouro vinha para suas mãos. Este é o motivo pelo qual, em diversos inventários são mencionadas várias arrobas de ouro por quem não era minerador.


Portanto, a estrutura que se instala no Caminho Novo é de concentração fundiária. Toda a Freguesia do Caminho Novo era, originalmente, do Garcia Rodrigues Paes, tendo-lhe sido concedida em sesmaria pela construção do caminho. Era uma grande propriedade rural que foi transmitida aos descendentes e, mais tarde, repartida entre vários adquirentes. De tal forma que 19 pessoas, entre parentes e sucessores, são responsáveis pela produção de gêneros até 1850. 


Cem anos depois, o maior produtor agrícola da região morava em Juiz de Fora, na Fazenda São Mateus, e era o José Ignácio Nogueira da Gama que pagava de impostos o mesmo que muitas freguesias de Minas. 


Ao tempo referido anteriormente, a produção de 19 pessoas da Freguesia do Caminho Novo correspondia ao que produziam 214 moradores de Tiradentes. O que reforça a informação de que foi a área de maior concentração fundiária em Minas Gerais. 


Quanto ao Caminho Velho, foi informado que há uma série de problemas, começando pelo fato de que não a ocupação não se fez à volta dele por ter perdido importância muito rapidamente. Ele deixou de ser artéria de acesso quando o Caminho Novo tomou o lugar de principal acesso à região central e artéria de fornecimento de bens em geral.


Ângelo Carrara ressaltou que 85% dos gêneros de abastecimento passaram a ser escoados pelo Caminho Novo porque o porto principal passa a ser o Rio de Janeiro. Sem nenhum exagero, disse o palestrante, pode-se dizer que o Rio de Janeiro como porto é uma criação da mineração. Numa declaração que causou alguma polêmica, acrescentou que, antes, o Rio de Janeiro era uma vila de pescadores. Após a conquista da Colônia do Sacramento é que o Rio de Janeiro deu um salto em população e ali foram instalados diversos órgãos administrativos. Reafirmou, porém, que foi o volume fiscal advindo de Minas que sustentou o crescimento do Rio de Janeiro, cujo porto passou a assumir o primeiro lugar no país. 


Mencionou o vigor e a diversidade de produção que se desenvolveu no Caminho Velho e, abordando a Comarca do Rio das Mortes, ressaltou que, mesmo com a diminuição do movimento mineratório, permaneceu a concentração fundiária antes mencionada. Exemplificou com Aiuruoca, onde o número de pequenos e médios produtores rurais era significativo em contraposição à vizinha Freguesia do Caminho Novo onde o número era bem pequeno. 


Outro exemplo citado foi o de Baependi, que se assemelha a Aiuruoca em termos de número de propriedades rurais de pequeno porte. Enquanto isso, uma única propriedade do Caminho Novo começa em Juiz de Fora e termina em São João Nepomuceno, não sendo sequer medida porque a área extrapola a capacidade de mensuração. Portanto, as diferenças estruturais são bem perceptíveis, demonstrando a principal característica que distingue o Caminho Novo do Velho. 


O padrão de concentração no Caminho Novo tende a ser reforçado no início do século XIX por conta do sistema de distribuição de sesmaria. Indivíduos que se deslocaram para a região e não pediram uma ou duas sesmarias, mas dez, quatorze e até quinze sesmarias. O mais grave, no entender de Ângelo Carrara, é que foram concedidas, irradiando o padrão de grandes propriedades por todo o vale do Rio Paraíba. 


Finalizando, o palestrante convidou a refletir sobre estes padrões diferentes de ocupação e uso do solo entre os Caminhos Velho e Novo. Lembrou que o processo de ocupação da região de Campanha foi completamente diferente do que ocorreu em São João del Rei. Acrescentou que a área de Campanha foi a primeira a se articular com o porto do Rio de Janeiro, provendo-o principalmente em tabaco, reses e porcos. Isto resultou em que a região foi se diferenciando do restante de Minas Gerais e, enquanto o entorno do circuito minerador entrava em crise, perdendo população, a região ao sul crescia e enriquecia, podendo obter da rainha a emancipação, pela grande arrecadação que auferia.


Atentar para essa diversidade que pode ser observada em termos estruturais, econômicos e ancestrais é a sugestão deixada por Ângelo Carrara. Considerando mais importante as estruturas da economia, que numa sociedade rural equivale a sua estrutura agrícola, a melhor forma de se analisar a personalidade histórica de uma sociedade rural é analisar as suas estruturas, pois estas nos dizem que tipo de sociedade ali existe.

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Jacob Bullado: centenário de nascimento

Nasceu em Leopoldina no dia 10 de setembro de 1911, filho dos italianos Innocente Bullado e Maria Chiata, provenientes de Camponogara, Venezia. 

Seus pais chegaram a Leopoldina em 1895 e foram contratados para trabalhar na fazenda de Antônio Maurício Barbosa em Piacatuba. Por volta de 1915 a família migrou para a região de Manhuaçu, provavelmente atraídos pela oferta de empregos nas obras de extensão da Estrada de Ferro Leopoldina.

Itinerário do Caminho Novo em Conselheiro Lafaiete


Mauricéia Maia declarou que seu objetivo seria demonstrar a situação em que se encontra o trecho do Caminho Novo em Conselheiro Lafaiete.  Iniciou mencionando os dois acervos que utilizou: o Arquivo Antônio Perdigão, na própria cidade, e o Arquivo Forense, em São João del Rei. Ressaltou outras fontes disponíveis, como bancos de dados particulares e o acervo da Academia de Letras de Lafaiete. 

Declarou que a equipe na qual trabalha tem, entre seus objetivos, recompor a sinalização do Caminho no município não só para orientar os que o procuram como também para disseminar informações entre os moradores, os quais desconhecem totalmente o assunto.
Estrada Imperial entre Lafaiete e Ouro Preto.
Imagem disponível no site do Arquivo Público Mineiro.

Segundo a palestrante, o Caminho Novo abriu capilares diversos que acabam se confundindo na história, resultando em que famílias nomeiem trilhas como sendo parte dele por entenderem como importante terem um pedaço de terras da Estrada Real. Portanto, é necessário buscar a veracidade das informações colhidas para evitar a perpetuação dos equívocos e identificar o percurso para subsidiar outros projetos, buscando parcerias. Todos os organismos que possam colaborar com subsídios, como o Instituto Estrada Real, estão sendo procurados.

Ressaltou que a ideia de soberania do município é equivocada e que a parceria com os contribuintes “sérios” é a solução para um bom trabalho de valorização do patrimônio cultural. 

A pesquisa Memorial de Queluz vem demonstrando que a Inconfidência Mineira é um pano de fundo muito interessante e que foi identificada, pelo menos, a participação no movimento de 16 moradores do Arraial dos Carijós. Este fato a história não valorizou, sendo um material muito bom para ser investigado pelos pesquisadores da nova geração.

Já foram erigidos dois monumentos para marcar o início e o final da Estrada Real em Lafaiete e está sendo elaborado o mapeamento físico do percurso. Este movimento tem despertado o imaginário e o sensitivo da população.

Entre 2005 e 2006 o Instituto Estrada Real desenvolveu o trabalho de instalação dos totens na cidade. No perímetro urbano foram seis destes marcos, sendo que três já foram destruídos por vandalismo. Outros dezesseis foram distribuídos às margens da BR-040, da MG-119 e na área rural.

Apresentou diversas fotografias antigas e atuais para demonstrar o que é, atualmente, o Caminho Novo em Lafaiete. Na medida em que as imagens iam sendo projetadas, Mauricéia descrevia a localização e seu entorno. Declarou que há poucos remanescentes da arquitetura colonial principalmente porque os proprietários não colaboram com a preservação. Muitas vezes tem sido necessário acionar a justiça.

Em seguida mencionou os eventos de âmbito local, realizados em um coreto no centro da cidade, ao lado de um trecho do Caminho Novo. São os congados, os encontros de bandas de música e o Mesa de Bar que é um encontro de cantores locais.

A palestrante informou que, nos anos de 1980, a cidade resolveu valorizar a história local. Dos sete monumentos tombados no nível municipal, três foram criados naquela década.

Discorrendo sobre as prováveis causas para o desenvolvimento da cidade no sentido do que se vê atualmente, observou que a localidade, bem como cidades vizinhas, recebeu um impacto significativo em função das atividades das empresas mineradoras nos últimos anos. Isto resultou em mudança da mentalidade da população por conta da presença de empresários estrangeiros, com uma nova posição cultural. Aquilo que é considerado velho, que foi construído pelos avós, perde espaço para as construções modernas. Este interesse dos moradores em se apresentarem como modernos foi um caos para o patrimônio. 

Mencionou empresas mineradoras que deram sustentação financeira e psicológica à mudança das expectativas dos moradores, os quais foram se adaptando às necessidades dos novos moradores que, naturalmente, não tinham a memória cultural daquele lugar. Com o declínio da ferrovia na década de 1980, seus funcionários precisaram buscar outra forma de sustento e muitos deixaram a cidade, alugando seus imóveis que foram, então, dilapidados. 

Na década de 1990, com a recuperação econômica, a cidade volta a sofrer o impacto da demolição dos antigos casarões que ainda se mantinham de pé. A partir de 2000, com as políticas de valorização cultural, houve um apelo para identificar o patrimônio da cidade.

Para falar do momento atual, a palestrante historiou rapidamente alguns momentos do passado, como a instalação da ferrovia em 1873, causando sensíveis modificações no comportamento dos moradores. A destacar a perda da vocação para o trabalho agrícola que resulta em abandono daquela estrada de terra onde passava a boiada e os tropeiros. Até ali o caminho rudimentar era necessário para dar fluxo à produção.  Com a ferrovia, a frequência de uso dos caminhos e sua conservação se tornam muito menores. 

Houve, no início do século XX, uma tentativa de mudança na paisagem urbana, criando espaços de socialização. Uma destas tentativas fez com que desaparecesse um dos entroncamentos do Caminho Novo no centro da cidade. Nos anos de 1950, nova agressão ocorre com o crescimento das periferias sem planejamento de uso do solo.

A parte final da apresentação de Mauricéia trouxe uma série de imagens e comentários sobre como ocorreram as mudanças na paisagem urbana e a relação das localidades que pertenceram a Queluz e hoje constituem 21 municípios no entorno de Conselheiro Lafaiete. A palestrante lembrou que sua apresentação não tratou do Caminho Novo em Queluz, mas na cidade de Conselheiro Lafaiete, uma área bem mais restrita.

Ressaltou que existem diversos mitos em relação à localização da primeira igreja que seriam ‘valores menores’, uma vez que o importante é a compreensão dos valores da época, da mentalidade que produziu aquele momento. Saber quem construiu o quê não é o valor primordial da pesquisa, sendo necessário um trabalho de maior profundidade.

Finalizando, lembrou que a formação de Queluz remonta a 1780, com os povoadores de características bem variadas como paulistas, cariocas, mestiços e indígenas. Em seus primórdios, abastecia com produtos agrícolas a área de mineração. O primeiro sesmeiro foi Pimentel Salgado.
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Lucilia Figueira da Costa: centenário de nascimento

Nasceu em Leopoldina no dia 8 de setembro de 1911, filha de Tobias Figueira da Costa e Mariana Vargas Corrêa.

Sua mãe era bisneta dos povoadores Antônio Rodrigues Gomes, Francisco de Vargas, João Gonçalves Neto e Manoel Antônio de Almeida.





História Social através do Método de Pesquisa Genealógica


As pesquisadoras Silvia Buttros e Nilza Cantoni levaram ao Encontro dois exemplos de história local que vêm sendo divulgados, há mais de um século, como sendo a história oficial dos municípios abordados.

Após apresentar cartografia localizando Paraguaçu dentro do território de Minas Gerais, Silvia Buttros discorreu sobre a trajetória de sua pesquisa que resultou no seguinte quadro:
VERSÃO TRADICIONAL: pontos conflitantes
CORREÇÃO DOCUMENTADA
Pelo ano de 1790, o paulista Manuel Ferreira do Prado, e o português Agostinho Fernandes de Lima Barata receberam, cada um, uma sesmaria de três léguas em quadra.
Manuel Ferreira do Prado tornou-se sócio de um sesmeiro, e Agostinho Fernandes Lima herdou terras de seu sogro. Em 1790, as sesmarias eram de meia légua em quadra.
As sesmarias estariam localizadas no Sertão de São Sebastião, freguesia da Campanha.
As localidades onde se assentaram eram Sertão do Ouvidor e paragem das Mamonas, ambas na freguesia de Santana do Sapucaí.
Manuel Ferreira do Prado veio de São Paulo, com toda a sua família, mais o professor Flávio Secundo de Sales, e instalou-se ao Sul do município.
Manuel Ferreira do Prado era mineiro, de Santa Bárbara, morador no Rio de Janeiro, onde se casou, e veio a formar sua família na freguesia de Santana do Sapucaí. O dito professor era mineiro, de Campanha.
Agostinho Fernandes de Lima deixou mulher e filhos em Portugal, e instalou-se ao Norte do município.
Agostinho Fernandes Lima casou-se, no Brasil, com a filha de José Dias Palhão, sesmeiro de meia légua em quadra, ao Norte do município.

Nilza Cantoni, também após indicar a localização de Leopoldina, mencionou a metodologia da pesquisa iniciada a partir de um questionamento sobre o que afirma a história tradicional: por que os deserdados do ouro foram para o Feijão Cru se não há uma só pista de que em algum momento tenham encontrado ouro por lá? Não seria mais lógico que, com a queda da mineração, tivessem se dirigido para outras regiões auríferas?

Discorreu sobre suas buscas em fontes originais como listas nominativas de habitantes, processos judiciais, registros de terras e assentos paroquiais, apresentando a seguinte conclusão sobre os povoadores do Feijão Cru:
%
ORIGEM
ATIVIDADE ANTERIOR
41,9
Desconhecida
Desconhecida
16,1
Bom Jardim de Minas
Agricultura
8,1
Freguesia de Barbacena
Agricultura
6,5
Freguesia de São João del Rei
Agricultura
4,8
Aiuruoca
Agricultura
4,8
Santana do Garambéu
Agricultura
3,2
Freguesia de São João del Rei
Agricultura / Comércio
3,2
Prados
Agricultura
1,6
Bocaina de Minas
Agricultura
1,6
Conceição de Ibitipoca
Agricultura
1,6
Congonhas
Mineração
1,6
Conselheiro Lafaiete
Agricultura
1,6
Ibertioga
Agricultura
1,6
Santa Rita de Ibitipoca
Agricultura
1,6
São João del Rei
Agricultura / Comércio

Foi ressaltado que o quadro acima poderá sofrer modificações se forem encontradas novas fontes sobre o tema e que 22 povoadores ainda não identificados aparecem na documentação como forros e 3 são mulheres, sem sobrenome ou outra indicação que permita a investigação.


Portanto, o estágio atual da investigação demonstra que os povoadores não deixaram minas de ouro esgotadas para trás. Foram e continuaram sendo agricultores.


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