Itinerário do Caminho Novo em Conselheiro Lafaiete


Mauricéia Maia declarou que seu objetivo seria demonstrar a situação em que se encontra o trecho do Caminho Novo em Conselheiro Lafaiete.  Iniciou mencionando os dois acervos que utilizou: o Arquivo Antônio Perdigão, na própria cidade, e o Arquivo Forense, em São João del Rei. Ressaltou outras fontes disponíveis, como bancos de dados particulares e o acervo da Academia de Letras de Lafaiete. 

Declarou que a equipe na qual trabalha tem, entre seus objetivos, recompor a sinalização do Caminho no município não só para orientar os que o procuram como também para disseminar informações entre os moradores, os quais desconhecem totalmente o assunto.
Estrada Imperial entre Lafaiete e Ouro Preto.
Imagem disponível no site do Arquivo Público Mineiro.

Segundo a palestrante, o Caminho Novo abriu capilares diversos que acabam se confundindo na história, resultando em que famílias nomeiem trilhas como sendo parte dele por entenderem como importante terem um pedaço de terras da Estrada Real. Portanto, é necessário buscar a veracidade das informações colhidas para evitar a perpetuação dos equívocos e identificar o percurso para subsidiar outros projetos, buscando parcerias. Todos os organismos que possam colaborar com subsídios, como o Instituto Estrada Real, estão sendo procurados.

Ressaltou que a ideia de soberania do município é equivocada e que a parceria com os contribuintes “sérios” é a solução para um bom trabalho de valorização do patrimônio cultural. 

A pesquisa Memorial de Queluz vem demonstrando que a Inconfidência Mineira é um pano de fundo muito interessante e que foi identificada, pelo menos, a participação no movimento de 16 moradores do Arraial dos Carijós. Este fato a história não valorizou, sendo um material muito bom para ser investigado pelos pesquisadores da nova geração.

Já foram erigidos dois monumentos para marcar o início e o final da Estrada Real em Lafaiete e está sendo elaborado o mapeamento físico do percurso. Este movimento tem despertado o imaginário e o sensitivo da população.

Entre 2005 e 2006 o Instituto Estrada Real desenvolveu o trabalho de instalação dos totens na cidade. No perímetro urbano foram seis destes marcos, sendo que três já foram destruídos por vandalismo. Outros dezesseis foram distribuídos às margens da BR-040, da MG-119 e na área rural.

Apresentou diversas fotografias antigas e atuais para demonstrar o que é, atualmente, o Caminho Novo em Lafaiete. Na medida em que as imagens iam sendo projetadas, Mauricéia descrevia a localização e seu entorno. Declarou que há poucos remanescentes da arquitetura colonial principalmente porque os proprietários não colaboram com a preservação. Muitas vezes tem sido necessário acionar a justiça.

Em seguida mencionou os eventos de âmbito local, realizados em um coreto no centro da cidade, ao lado de um trecho do Caminho Novo. São os congados, os encontros de bandas de música e o Mesa de Bar que é um encontro de cantores locais.

A palestrante informou que, nos anos de 1980, a cidade resolveu valorizar a história local. Dos sete monumentos tombados no nível municipal, três foram criados naquela década.

Discorrendo sobre as prováveis causas para o desenvolvimento da cidade no sentido do que se vê atualmente, observou que a localidade, bem como cidades vizinhas, recebeu um impacto significativo em função das atividades das empresas mineradoras nos últimos anos. Isto resultou em mudança da mentalidade da população por conta da presença de empresários estrangeiros, com uma nova posição cultural. Aquilo que é considerado velho, que foi construído pelos avós, perde espaço para as construções modernas. Este interesse dos moradores em se apresentarem como modernos foi um caos para o patrimônio. 

Mencionou empresas mineradoras que deram sustentação financeira e psicológica à mudança das expectativas dos moradores, os quais foram se adaptando às necessidades dos novos moradores que, naturalmente, não tinham a memória cultural daquele lugar. Com o declínio da ferrovia na década de 1980, seus funcionários precisaram buscar outra forma de sustento e muitos deixaram a cidade, alugando seus imóveis que foram, então, dilapidados. 

Na década de 1990, com a recuperação econômica, a cidade volta a sofrer o impacto da demolição dos antigos casarões que ainda se mantinham de pé. A partir de 2000, com as políticas de valorização cultural, houve um apelo para identificar o patrimônio da cidade.

Para falar do momento atual, a palestrante historiou rapidamente alguns momentos do passado, como a instalação da ferrovia em 1873, causando sensíveis modificações no comportamento dos moradores. A destacar a perda da vocação para o trabalho agrícola que resulta em abandono daquela estrada de terra onde passava a boiada e os tropeiros. Até ali o caminho rudimentar era necessário para dar fluxo à produção.  Com a ferrovia, a frequência de uso dos caminhos e sua conservação se tornam muito menores. 

Houve, no início do século XX, uma tentativa de mudança na paisagem urbana, criando espaços de socialização. Uma destas tentativas fez com que desaparecesse um dos entroncamentos do Caminho Novo no centro da cidade. Nos anos de 1950, nova agressão ocorre com o crescimento das periferias sem planejamento de uso do solo.

A parte final da apresentação de Mauricéia trouxe uma série de imagens e comentários sobre como ocorreram as mudanças na paisagem urbana e a relação das localidades que pertenceram a Queluz e hoje constituem 21 municípios no entorno de Conselheiro Lafaiete. A palestrante lembrou que sua apresentação não tratou do Caminho Novo em Queluz, mas na cidade de Conselheiro Lafaiete, uma área bem mais restrita.

Ressaltou que existem diversos mitos em relação à localização da primeira igreja que seriam ‘valores menores’, uma vez que o importante é a compreensão dos valores da época, da mentalidade que produziu aquele momento. Saber quem construiu o quê não é o valor primordial da pesquisa, sendo necessário um trabalho de maior profundidade.

Finalizando, lembrou que a formação de Queluz remonta a 1780, com os povoadores de características bem variadas como paulistas, cariocas, mestiços e indígenas. Em seus primórdios, abastecia com produtos agrícolas a área de mineração. O primeiro sesmeiro foi Pimentel Salgado.
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