Cartografia histórica: arte e técnica dos mapas da América Portuguesa


Márcia Maria Duarte dos Santos apresentou-se manifestando satisfação em estar no Encontro, por julgar que seu tema de estudos combina muito com os objetivos do evento. Trata-se do resultado de uma longa pesquisa sobre Cartografia da América Portuguesa, particularmente de Minas Gerais. Referiu-se à palestra do professor Afonso Alencastro, na parte da manhã, o qual chamou a atenção para uma linha da historiografia moderna que se afasta do estabelecido em obras publicadas para trabalhar diretamente com as fontes originais. No caso do Centro de Estudos de Cartografia Histórica, da UFMG, pode-se estabelecer um paralelo com a fala do professor Afonso.

Explicou, então, que seu trabalho é de divulgação científica e que, de modo geral, boa parte da população considerada culta percebe nos mapas antigos a decoração, a beleza, as iluminuras, o desenho primoroso ou a caligrafia. São, de fato, artefatos culturais de grande beleza. Mas além disto, são fontes primárias nem sempre percebidas como tal. Se o literato se utiliza da língua vernácula, geógrafos se expressam através da cartografia.

Os mapas antigos eram elaborados para corresponder às expectativas do destinatário. Eram geralmente encomendados por alguém de prestígio político, pela administração colonial ou pela nobreza, exigindo cuidado especial na feitura e fino acabamento.

Na época, técnicas de impressão já existiam. Mas no caso da América Portuguesa, eles eram manuscritos. Citou um dos mapas de José Joaquim da Rocha, que se encontra em Portugal, todo debruado com fita de cetim cor de rosa. Mencionou também Albernaz, autor de mapas aquarelados no século XVII que são famosos pela grande beleza. 

Foi projetado um mapa de 1558, ricamente ilustrado e com elementos técnicos como rosa dos ventos para indicar direções e escala de latitude em cores vibrantes, sendo que as tintas eram preparadas com ouro e outros elementos. 

É só isso, ou seja, só a beleza? Ou o mapa tem outras características, perguntou a professora Márcia para então declarar que todos os elementos figurativos, como animais e plantas, não estão ali simplesmente para ilustrar. Na verdade são indicativos das características do lugar. Determinado tipo de vegetação num dos mapas apresentados era a figuração do Pau Brasil, riqueza explorada intensamente pelos portugueses. De forma bastante clara e didática, fez a plateia perceber que os belos elementos dos mapas antigos não são apenas ornamentais, mas instrumentos de comunicação sobre a área mapeada.

Apresentou um mapa de Albernaz para demonstrar que o brasão desenhado no alto foi um meio de comunicação para afirmar a soberania portuguesa sobre o território. Esta forma de figuração, já fora do espaço representado, é uma espécie de idealização com indígenas, o sexo feminino languidamente posicionado e a abundância da natureza tropical a informar sobre o espaço e as informações que sobre ele o cartógrafo possuía.
 
Já no século XVIII os elementos informativos estão nos “cartuchos” dos mapas. Com uma cartografia da região de Pitangui que se tornou promissora quando as minas da região central se exauriam, por ali terem sido descobertos ouro e outros minerais, indicou o cartucho - ou legenda- que chama a atenção para este fato. Sabemos, porém, que a região não foi tão promissora quanto se imaginou na época em que o mapa foi produzido.

Com o desenvolvimento da cartografia, os avanços podem ser analisados sob dois aspetos. Um deles é a necessidade de maior conhecimento do território, resultando em que mesmo um cartógrafo muito bem formado não consegue representar minimamente um espaço geográfico sem visitá-lo. O outro é o profundo conhecimento das operações técnicas da cartografia e dos instrumentos que tornavam possíveis as medições. Os princípios que norteiam a atividade passaram a ser mais cobrados no século XVII e, consequentemente, mais presentes em elementos informativos que prestam esclarecimentos ao estudioso. 

Entre os elementos que começam a aparecer sistematicamente nos mapas estão os títulos que até então não eram incluídos na representação cartográfica. Data, legenda e notas explicativas são outros elementos que passam a fazer parte dos documentos.

Sobretudo a partir do século XIX, mantendo as latitudes que já apareciam desde o século XVI, as longitudes são incluídas através dos indicadores das coordenadas respectivas. Entretanto, como a adesão internacional ao meridiano de Greenwich só ocorreu no final dos anos de 1800, antes as longitudes aqui no Brasil tomavam o Rio de Janeiro como referência. 

Finalizando, Márcia Maria Duarte dos Santos declarou que pretendeu mostrar que, independente da aparência artística da documentação cartográfica e de seu valor estético, os mapas apresentam informações variadas, constituindo-se em fontes particularmente importantes quando se observa que são documentos de interesse do Estado.

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