As pesquisadoras Silvia Buttros e Nilza Cantoni levaram ao
Encontro dois exemplos de história local que vêm sendo divulgados, há mais de
um século, como sendo a história oficial dos municípios abordados.
Após apresentar cartografia
localizando Paraguaçu dentro do território de Minas Gerais, Silvia Buttros discorreu
sobre a trajetória de sua pesquisa que resultou no seguinte quadro:
VERSÃO TRADICIONAL: pontos conflitantes
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CORREÇÃO DOCUMENTADA
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Pelo ano de 1790, o paulista Manuel Ferreira do Prado, e o português
Agostinho Fernandes de Lima Barata receberam, cada um, uma sesmaria de três
léguas em quadra.
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Manuel Ferreira do Prado tornou-se sócio de um sesmeiro, e Agostinho
Fernandes Lima herdou terras de seu sogro. Em 1790, as sesmarias eram de meia
légua em quadra.
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As sesmarias estariam localizadas no Sertão de São Sebastião,
freguesia da Campanha.
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As localidades onde se assentaram eram Sertão do Ouvidor e paragem das
Mamonas, ambas na freguesia de Santana do Sapucaí.
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Manuel Ferreira do Prado veio de São Paulo, com toda a sua família,
mais o professor Flávio Secundo de Sales, e instalou-se ao Sul do município.
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Manuel Ferreira do Prado era mineiro, de Santa Bárbara, morador no Rio
de Janeiro, onde se casou, e veio a formar sua família na freguesia de
Santana do Sapucaí. O dito professor era mineiro, de Campanha.
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Agostinho Fernandes de Lima deixou mulher e filhos em Portugal, e
instalou-se ao Norte do município.
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Agostinho Fernandes Lima casou-se, no Brasil, com a filha de José Dias
Palhão, sesmeiro de meia légua em quadra, ao Norte do município.
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Nilza
Cantoni, também após indicar a localização de Leopoldina, mencionou a
metodologia da pesquisa iniciada a partir de um questionamento sobre o que
afirma a história tradicional: por que os deserdados do ouro foram para o Feijão Cru se não há uma só
pista de que em algum momento tenham encontrado ouro por lá? Não seria mais
lógico que, com a queda da mineração, tivessem se dirigido para outras regiões
auríferas?
Discorreu sobre suas buscas em fontes originais como listas nominativas
de habitantes, processos judiciais, registros de terras e assentos paroquiais,
apresentando a seguinte conclusão sobre os povoadores do Feijão Cru:
%
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ORIGEM
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ATIVIDADE ANTERIOR
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41,9
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Desconhecida
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Desconhecida
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16,1
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Bom Jardim de Minas
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Agricultura
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8,1
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Freguesia de Barbacena
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Agricultura
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6,5
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Freguesia de São João del Rei
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Agricultura
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4,8
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Aiuruoca
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Agricultura
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4,8
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Santana do Garambéu
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Agricultura
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3,2
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Freguesia de São João del Rei
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Agricultura / Comércio
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3,2
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Prados
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Agricultura
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1,6
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Bocaina de Minas
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Agricultura
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1,6
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Conceição de Ibitipoca
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Agricultura
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1,6
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Congonhas
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Mineração
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1,6
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Conselheiro Lafaiete
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Agricultura
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1,6
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Ibertioga
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Agricultura
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1,6
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Santa Rita de Ibitipoca
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Agricultura
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1,6
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São João del Rei
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Agricultura / Comércio
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Foi ressaltado que o quadro acima poderá sofrer modificações se forem
encontradas novas fontes sobre o tema e que 22 povoadores ainda não identificados
aparecem na documentação como forros e 3 são mulheres, sem sobrenome ou outra
indicação que permita a investigação.
Portanto, o estágio atual da
investigação demonstra que os povoadores não deixaram minas de ouro esgotadas
para trás. Foram e continuaram sendo agricultores.