Cartografia da região de Minas Gerais


Ao iniciar sua intervenção, Antônio Gilberto da Costa manifestou satisfação em falar para um grupo de pessoas que, não estando vinculadas a universidades, fazem esta ponte com ela. Ressaltou que o contato é importante e que, muitas vezes, os acadêmicos se fecham dentro das universidades. Informou que gostaria de falar sobre o Caminho Novo, mas que falaria sobre mapas de uma forma geral, ressaltando que da próxima vez estará no Encontro para tratar do Caminho Novo. A plateia se sentiu lisonjeada e agradecida pela simpática manifestação de Antônio Gilberto da Costa.

Explicou que apresentaria um conjunto de documentos e por meio deles abordaria a formação do estado de Minas Gerais. Em termos territoriais, de certa forma a conformação já era a atual, como apresentado em imagem de satélite. Sem os instrumentos de que dispomos atualmente, há 300 anos foram criados documentos cartográficos que o demonstram.

Antes de falar em Minas Gerais, o palestrante esclareceu que a América Portuguesa estava dividida em duas grandes partes: Estado do Maranhão e Grão Pará e Estado do Brasil. Neste último surgiria a nossa Minas Gerais. Documentos do início do século XVI trazem as primeiras referências ao território sem nenhuma indicação das Minas, apresentando primordialmente a faixa litorânea. Em documento de 1631, época por excelência da produção de mapas, também ainda não há referência ao território mineiro, concentrando-se em informações da linha do litoral. Trabalhando com mapas do século XVII até o início do XVIII, surgem as primeiras indicações do que viria a ser Minas Gerais.

Característica interessante é que até metade do século XVIII os mapas sobre Minas Gerais são segmentados em partes do território. Num borrão feito para a região de Diamantina, aparecem as primeiras anotações sobre cobre. Este rascunho contribuiu para a posterior elaboração de um mapa do Serro Frio.

Outro conjunto documental mencionado foram as Cartas Sertanistas, disponíveis no site da Biblioteca Nacional, bem como os Registros, citados em palestra anterior, com informações no site da Receita Federal. 
Carta Sertanista de 1714, disponível no site da
Biblioteca Nacional: http://bndigital.bn.br/

A primeira Carta Sertanista projetada foi da região de Ouro Preto, Mariana e Serra do Caraça. A Carta seguinte, produzida no início do século XVIII, indica os traçados do Caminho Velho e do Caminho Novo. Considerando que nela há poucas informações do Caminho Velho e diversas do Novo, sugeriu que talvez o primeiro já estivesse, nesta época, meio desativado. 

Até então os documentos traziam muitas informações do litoral e poucas do interior. Tais informações, como fazendas ao longo do território, demonstram a ocupação já existente. No início dos anos 1700 há referências ao longo do Rio São Francisco. 

Discorrendo sobre suas conclusões sobre a época de feitura dos mapas, sobre um deles mencionou a data de óbito do autor e esclareceu que o início da produção pode ter ocorrido uns dez anos antes e que, aos poucos, informações foram sendo acrescentadas, o que se depreende por serem algumas delas posteriores ao falecimento do mesmo. Isto era comum por levar anos para produzir tais documentos, muitas vezes desenhados com base em relatos e não com a visita ao local retratado. 

É possível que um dos mapas projetados, datado de 1709, tenha sido encomendado num momento em que já se previa a separação de Minas e São Paulo. Em seguida foram apresentados documentos de 1714 e 1816, demonstrando que no período de 100 anos o volume de informações sobre o território mineiro ampliou-se consideravelmente.

Chamou a atenção, em toda a fala do professor Gilberto, a simplicidade com que se apresentou e a linguagem acessível a leigos. Citamos, como exemplo, a preocupação em evitar citações peremptórias sobre datas ou anterioridade dos documentos, situação que poderia gerar contestação por parte de quem tenha realizado outros estudos e encontrado outras fontes. Esta humildade conquistou a plateia.

Prosseguindo na apresentação de outros mapas, o palestrante declarou que na segunda metade do século XVII o território de Minas surge de forma mais bem definida. Ao mostrar a obra de José Joaquim da Rocha, citou a hipótese de alguns estudiosos a respeito de uma eventual participação do autor na Inconfidência, tendo incluído no mapa as referências das trilhas percorridas por Tiradentes. 

Ressaltou, ainda, que Minas Gerais fazia divisa com Pernambuco como demonstrado em um mapa onde aparecem, também, as capitanias de Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. Indicou, em outros mapas que seguem o modelo de José Joaquim da Rocha, a presença dos caminhos existentes. 

Apresentou uma curiosidade a respeito daquele que considera como sendo o primeiro Guia 4 Rodas, por envolver todas as capitanias do Brasil com seus caminhos e indicações do tempo gasto para o deslocamento entre as localidades. Esclareceu que cada planta era acompanhada de textos com informações complementares e que no caso em tela o viajante teria um guia muito esclarecedor. 

Em seguida foi projetado um mapa produzido por Eschwege, certamente incluindo cópia de outros mapas e dados acrescidos aos que ele próprio levantou entre 1811 e 1819. O palestrante chamou a atenção para o cuidado necessário na leitura da obra de Eschwege, tendo em vista que ele veio ao Brasil para levantar dados e informações sobre a produção do ouro, com o objetivo de expandi-la. Ressaltou que havia recusa em implantar as técnicas indicadas para evitar o pagamento de mais impostos. Em decorrência, Eschwege tratou os moradores locais de forma pouco amistosa.

A divulgação do mapa de Eschwege no Brasil só ocorreu em 1833, tendo sido inicialmente enviado para Londres e só chegando ao conhecimento dos brasileiros quando o país já se tornara independente de Portugal. 

Sobre a região do Triângulo Mineiro, o palestrante lembrou que pertencera a São Paulo, foi transferida para Goiás e em 1816 foi incorporada, por Dom João VI, a Minas Gerais. A primeira cartografia que apresenta o Triângulo como parte do território de Minas Gerais é de 1855, de Halfeld & Tschudi. 

Outra modificação ocorreu em 1824, por conta da Confederação do Equador, quando Dom Pedro I determinou a incorporação de mais da metade de Pernambuco a Minas Gerais. Desta forma, toda a margem ocidental do São Francisco pertenceu a Minas Gerais até por volta de 1827 ou 28, quando a região passou para a Bahia.

Projetado um mapa do final do século XIX, já com o Triângulo em Minas Gerais, num salto gigantesco pula-se para 2002, demonstrando que a configuração do território mineiro em 1875 ou 1882 é a mesma da atualidade. Antônio Gilberto da Costa ressaltou o valor do trabalho daquelas pessoas que, trabalhando em condições rudimentares, deixaram documentos de grande importância para a nossa história. 

Para encerrar, mostrou imagens de caminhos que interligavam os caminhos Velho e Novo e outras referências de percursos existentes ao tempo em que fomos visitados pelos viajantes estrangeiros, como as serras de São José e da Piedade que, por conter minério de ferro que brilhava à distância, tendo sido conhecida como Serra da Prata. 

ANTERIOR          POSTERIOR