Objetivo do Estudo

Frequentemente nos perguntam o motivo pelo qual decidimos estudar a imigração em Leopoldina. E temos respondido que toda pesquisa nasce de um questionamento, de uma pergunta para a qual não temos resposta. Assim é que, durante um levantamento nos livros paroquiais de Leopoldina, observamos o grande número de estrangeiros entre os noivos e os pais das crianças batizadas. Ao procurar publicações a respeito, nada encontramos. A falta de estudos seria decorrente da baixa representatividade da imigração na história da cidade? A esta primeira questão, outras se somaram no início da década de 1990, quando decidimos tentar resgatar a memória daquelas famílias de sobrenome não português.

Num primeiro momento, os estudos resultaram no texto A Imigração em Leopoldina através dos Assentos Paroquias de Matrimônio, só publicado alguns anos depois. Paralelamente, organizamos um projeto de pesquisa que tinha por objetivo identificar as famílias, descobrir seu modo de vida e suas relações econômicas e sociais, colhendo informações que ficariam disponíveis para outros interessados no assunto. Trata-se de um trabalho complexo, com uma tal diversidade de nuances que nos obriga a dividir o tema em vários aspectos.

Em 2010 completam-se 100 anos da criação da Colônia Agrícola da Constança, objeto de nossos estudos atuais. Mas temos certeza de que a imigração deve gerar inúmeras outras questões. E esperamos que outros estudiosos se dediquem ao tema, ampliando o conhecimento sobre este aspecto importante da história de Leopoldina.

Imigrantes Nobres?

Um leitor pergunta sobre brasões dos imigrantes italianos que viveram em Leopoldina. Nada sabemos a respeito, embora alguns sobrenomes constem no Storico Araldica do Istituto Genealogico Italiano. Entretanto, os casos encontrados referem-se a personagens agraciados na período da Unificação, época em que nossos imigrantes mal tinham nascido.

Segundo João Fábio Bertonha, no livro Os Italianos publicado em 2005, "no final do século XIX, mais de 60% da população economicamente ativa da Italia trabalhava no campo, sendo que 80% não possuíam terras". Diversos autores informam que desta população de lavradores saiu a maioria dos que deixaram o país no final daquele século.

Analisando os imigrantes que viveram na Colônia Agrícola da Constança, especialmente através de informações coletadas nas entrevistas com descendentes, conclui-se que eram realmente trabalhadores do campo. E até o momento não encontramos quem tenha sido proprietário antes de passar ao Brasil.

Exposição Fotográfica em Piacatuba

A emigração e a cultura Italiana

O último capítulo de Homens sem Paz, de Constantino Ianni, indicado recentemente por um leitor deste blog, despertou a lembrança de uma experiência pela qual passamos há poucos anos. Participando de um evento que contava com patrocínio de entidades italianas, observamos que algumas pessoas manifestavam um certo desprezo pelas manifestações culturais que tantos brasileiros admiram. Num dos momentos, ouvimos que a Tarantella não representa a cultura italiana, mas tão somente a população mais pobre e que é de gosto duvidoso. Ouvimos também que os brasileiros não conhecem a verdadeira cultura italiana porque ficam presos às antigas óperas. Não cabia intervir mas ficou um gosto amargo.

Se muitos de nós, brasileiros, gostamos da Tarantella e das óperas italianas, pode ser porque nos fazem pensar numa parte importante da nossa identidade, já que o sangue daqueles imigrantes está presente em muitas de nossas famílias. E não acreditamos ser possível fazer distinção entre cultura que seja verdadeira ou não. Se existem práticas, são sempre verdadeiras. Podemos gostar ou não, claro. Mas jamais diminuir-lhes o valor. Se o cinema italiano da década de 1960 não é mais tão cultuado, nem por isto deve ser desmerecido. Teve o seu momento, arrebanhou multidões e cumpriu o papel de disseminar a produção do país. E acreditamos que o povo brasileiro está aberto para novas manifestações que retratem a Itália e outros países da atualidade. Podendo gostar ou não, assimilar ou não, escolher é permanência na pessoa humana. Ou, filosoficamente pensando, a única permanência é a eterna mudança.

Se os "literatos profissionais" de que fala Ianni julgam "heresia misturar emigração com cultura", só temos a lamentar. E agradecemos a este autor por nos trazer letras de antigas canções que se tornaram hinos dos que partiam. E homenageamos os imigrantes que viveram em Leopoldina com uma destas letras (página 242)

Mo me parto da qua per n'altro regno,
passo passo mi vado allontanando;
lascio gli amici miei, lascio gli spassi,
lascio chi tanto bene me volia.
La pietre che scarpiso 'npasso 'npasso
pure hanno pietà del piano mio.

Giovanni e Basilio Anzolin

Parece-nos haver um engano entre os descendentes dos Anzolin. Recebemos pedido para publicar os nomes dos pais de Giovanni Basilio e da mulher Luiza quando, segundo o que pudemos apurar, na Colônia Agrícola da Constança residiram os irmãos Giovanni Ottavio Anzolin e Basilio Anzolin. Conforme se vê abaixo, o primeiro foi casado com Rosa Pasianot e Basilio Anzolin foi casado duas vezes, a primeira com Antonia Ramanzi e a segunda com Luiza Gallito.


Em busca dos Togni

Domingos Togni, do sul de Minas, pergunta por familiares que permanecem em Leopoldina. Diz que seu avô falava no primo Pedro e pede aos descendentes para entrarem em contato. Se você, leitor, é desta família, por favor, deixe um comentário aqui no blog e repassarei para o Domingos.

Homens sem Paz

Livro de Constantino Ianni, publicado pela Civilização Brasileira em 1972, trata-se de uma segunda edição da obra lançada em 1963 por este filho de imigrantes italianos procedentes de Castellabate, província de Salerno. Foi indicado por um leitor deste blog que vem acompanhado os últimos posts. Agradecemos a indicação e confirmamos que realmente muitas obras citadas pelo autor foram utilizadas em nossos estudos. Ler agora serviu também para avaliarmos nossas conclusões anteriores, já que o especialista em Economia Política aborda muitos aspectos incluídos em nosso trabalho.

Embora o livro trate mais especificamente da imigração posterior à época de nosso interesse, ressaltamos que o capítulo VII O Homem como Mercadoria nos permitiu confirmar a impressão que nos marcou desde o início da nossa pesquisa. Enquanto a literatura que consultávamos, no início da década de 1990, primava por uma visão romântica da imigração, nascia o desejo de conhecer o outro lado da história, ou seja, o contexto prévio que mencionamos inúmeras vezes.

Independente de concordarmos ou não com a integralidade do que escreveu Ianni, foi muito bom saber sobre os "riachos de ouro" que se transformaram em "ribeirão", subtítulo Os Riachos de Ouro no citado capítulo. Não conhecemos os Annali e a opinião de Corbino, referida pelo autor. De todo modo, se a economia dos emigrados sustentou o desenvolvimento econômico da Itália, é mais um motivo para reverenciarmos aqueles valentes colonos que cruzaram o oceano para vir construir ou readaptar tantas cidades brasileiras, como é o caso de Leopoldina.

Família de Vittorio Carraro

O sobrenome Carraro é bastante comum em Leopoldina. Alguns usam como Carrara. Recebemos consulta sobre o comprador do lote número 7 da Colônia Agrícola da Constança - Vittorio Carraro, cuja família vai abaixo descrita.

Vittorio era filho de Francesco Eugenio Carraro e Santa Bordin. A esposa, Elisabetta, era filha de Angelo Carraro e Giovanna Cancelliero. Os irmãos de Vittorio e Elisabetta deixaram numerosa descendência em Leopoldina.


Julho de 1910: posse de colonos

A assinatura dos contratos de venda dos lotes da Colônia Agrícola da Constança demonstra que a organização dos lotes não coincide com a numeração. Assim é que, no dia 15 de julho de 1910, tomaram posse os adquirentes dos lotes 2, 3, 16, 17, 18 e 19.
Manoel José dos Passos - 2
Francisco Carneiro de Macedo - 3
Auriel de Rezende Montes - 16
Francisco Antonio Reiff Junior - 17
Jeronimo José da Silva - 18
João Pacheco de Carvalho - 19

No dia 20 do mesmo mês, foi a vez da ocupação dos seguinte lotes:
Jesus Salvador Lomba - 4
Candido Giuliani - 56

Miracema e a Preservação

Com grande prazer atendemos o pedido para divulgar o texto publicado no blog O Vagalume no último dia 20: Miracema é destaque na preservação de seu Centro Histórico.

Referindo-se ao esforço para alavancar a indústria do turismo, Angeline destaca o resgate da memória e da história das cidades, atividade que também reputamos de extrema importância.

Na matéria há um link para entrevista concedida pela Diretora Geral do INEPAC (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural), arquiteta Maria Regina Pontin de Mattos e a Assessora Técnica arquiteta Dina Lerner. O objetivo da entrevista foi esclarecer aos miracemenses a questão do Tombamento. Entre outras informações importantes, as entrevistadas destacam a importância de resgatar e preservar, por exemplo, as práticas culturais dos imigrantes italianos que viveram na cidade.

Há muito mais. Leiam a matéria completa.

Analisar as Fontes

"Todo historiador deve ler os documentos que lhe caem nas mãos, amarrado ao mastro da mais absoluta desconfiança."

Com estas palavras, Plínio José Freire Gomes chama a atenção do estudioso para a necessidade de avaliar as condições em que foram produzidas as fontes utilizadas numa pesquisa. Embora o artigo se refira a investigações sobre a inquisição, sob o título Brincando com o Fogo: o acervo do Santo Ofício como fonte (só) para Historiadores o autor alerta para situações que podem ocorrer em muitas outras circunstâncias. E conclui afirmando que é uma tarefa delicada porque a documentação do Santo Ofício traz em si uma carga muito negativa.

No sentido inverso, um levantamento feito nos jornais de Leopoldina da época em que foi criada a Colônia Agrícola da Constança apresenta uma aura romântica em torno de alguns imigrantes que viviam na cidade. Seja na coluna propriamente social, seja no noticiário, a profusão de adjetivos forma uma visão muito diferente do que transparece nas memórias das famílias de imigrantes. Em um dos casos analisados, o articulista transformou um camponês quase em estadista.

Acreditamos que não é necessário usar de subterfúgios para tratar dos nossos imigrantes. A maioria era gente simples que aceitou o contrato sonhando com a aquisição de terra, situação inviável na pátria natal. Aqui trabalharam com afinco, contribuindo para a expansão da agricultura de subsistência e realizando um bom número de diferentes atividades necessárias ao funcionamento da sociedade. Por isto nós os reverenciamos!

Festival Gastronômico em Piacatuba

Na próxima semana acontecerá o 4º Festival de Gastronomia e Cultura em Piacatuba, este belo distrito de Leopoldina. Veja a programação.

Stefano Casini e a Comunidade Italiana no Brasil

O Comites Belo Horizonte convida para assistir ao programa pela RAI, no dia 29 de julho, quarta-feira da próxima semana, às 8h30 da manhã aqui no Brasil.

Cari tutti,
il giorno 29 Luglio alle 13.30 (ora italiana) andrá in onda su RAITALIA lo speciale "Voci Italiane: Brasile" della durata di 28 minuti. Grazie al vostro sforzo, al vostro aiuto, alla vostra amicizia ho potuto realizzare questo lavoro che mi ha impegnato per molto tempo. Ho tanto amore per il Brasile e per la comunitá italiana che ivi risiede. Siete stati sempre molto cari con me e non lo dimenticheró mai. Dal nostro Ambasciatore Michele Valensise, ai Consoli Generali, ai Direttori di enti, istituzioni o associazioni, insomma tutti, mi avete sempre dato un sorriso e un appoggio e questo è soltanto un umile omaggio (ce ne saranno tanti altri) al vostro lavoro.
Grazie e cordiali saluti a tutti

Stefano Casini

Colônia Agrícola da Constança: primeira posse

No primeiro dia do mês de julho de 1909, João Baptista de Almeida Paula tomou posse do lote número 1 da Colônia. Mas somente no dia 12 de abril do ano seguinte seria assinado o Decreto nº 2801, criando o núcleo e dando-lhe a denominação de Colônia Agrícola da Constança.

A Lei nº 438, de setembro de 1906, em seu parágrafo I estabelecia normas para fundar instituições agrícolas que acolheriam colonos nacionais e estrangeiros, com o objetivo de desenvolver a agricultura. No caso de Leopoldina, observa-se que foram adquiridas partes de fazendas vizinhas à Colônia Santo Antônio, de âmbito municipal, no decorrer da primeira década do século XX.

Segundo notícias publicadas no jornal Gazeta de Leopoldina da época, o primeiro administrador foi o italiano Ferdinando Sellani, que permaneceu no posto até outubro de 1909, quando o governo nomeou Guilherme Prates, que permaneceu no cargo até 16 de maio de 1911.

Sabemos que muitos imigrantes, que chegaram ao Brasil no final dos anos oitocentos, trabalharam na implantação da Colônia Agrícola da Constança. Provavelmente viviam na Santo Antônio e foram absorvidos pelo Estado para os trabalhos de demarcação dos lotes, construção das casas e preparo das áreas agricultáveis. E João Baptista de Almeida Paula foi o primeiro colono a assinar o contrato de compra.

VI Encontro Nacional sobre Migrações

Acontecerá em Belo Horizonte, de 12 a 14 de agosto de 2009, encontro com o tema Migrações e Desenvolvimento Territorial.
Apoio: ABEP/ CEDEPLAR-UFMG/ UNFPA/ CNPq/ FAPEMIG
Confira a programação.


Ancestrais de Antonio Montagna

Leitor de recente coluna no jornal Leopoldinense sobre os Montagna, pede para publicarmos os nomes de seus ancestrais.

Imigração e Colonização no Brasil

Este é o título de um trabalho de José Fernando Domingues Carneiro, publicado pela Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1950. Na abertura o médico e professor esclarece que o trabalho é constituído de "duas aulas": a primeira é um resumo da história da imigração no Brasil e a segunda relata o êxito da colonização europeia no sul do país.

Fernando Carneiro divide a história da imigração em 3 períodos: 1808 a 1886; 1887 a 1930 e 1931 em diante. Caracteriza o primeiro como o da coexistência com o trabalho escravo, o segundo como aquele em que o imigrante veio substituir a mão de obra cativa e no terceiro, segundo esclarece, já não havia mais necessidade de braços para a lavoura. O autor faz críticas às Theses sobre Colonização no Brasil, do conselheiro João Cardoso de Menezes e Souza, publicação de 1875, procurando demonstrar "o homem medíocre que era o conselheiro" (pag. 13). E afirma que as causas para a pequena entrada de imigrantes no país, no primeiro período, foram a existência da escravidão, o clima e a febre amarela.

O trabalho é uma leitura interessante para conhecer as diferentes visões que o assunto imigração despertou nos mais diferentes pensadores. E em tempos de patrulhamento contra a destruição do planeta, torna-se curioso ler que os métodos de abertura das lavouras de café, com derrubada de mata e queimadas, foi a alternativa encontrada para domar a terra. O autor informa que a riqueza do solo foi um obstáculo à aplicação de processos aperfeiçoados na agricultura. Segundo ele, a cana de açúcar plantada em solo rico gerava plantas com muito caldo e pouco açúcar. Para o café, significava obter bela vegetação e maus frutos. Seria esta a razão para que o Senador Vergueiro mandasse derrubar a mata e aproveitar a terra durante alguns anos em outras culturas, deixando posteriormente que crescessem capoeiras para só depois receberem as primeiras mudas de café.

Ao mencionar o assunto, Fernando Carneiro cita Sérgio Buarque de Holanda, em prefácio à obra Memórias de um Colono no Brasil, de Tomaz Davatz, publicada em 1941:
"A agricultura do tipo europeu era sobretudo impraticável nos lugares incultos e remotos, para onde, na míngua de outros, se encaminhariam cada vez mais os imigrantes, na ilusão de que a uberdade do solo compensava as contrariedades da distância."

Família Ceoldo

Descendentes de Camilo Ceoldo, italiano de Padova, que chegou a Leopoldina no dia 4 de novembro de 1888

1 Camillo Ceoldo (1842 - )

+ Maria Baldan (1847 - )

...... 2 Angelina Ceoldo

...... + Giuseppe Estopazzale

...... 2 Domenico Ceoldo (1870 - )

...... 2 Luigia Ceoldo (1870 - 1942)

...... 2 Antonio Ceoldo (1872 - 1942)

...... 2 Filomena Angela Ceoldo (1874 - )

...... 2 Michele Archangelo Ceoldo (1876 - )

...... 2 Rodolfo Domenico Ceoldo (1879 - )

...... + Tereza Righetto (1881 - )

............ 3 Miguel Arcanjo Ceoldo (1905 - )

............ + Joana Carraro (1908 - )

............ 3 João Antonio Ceoldo (1907 - )

............ 3 Alcides Ceoldo (1909 - )

............ 3 Maria Ceoldo (1911 - )

............ 3 Regina Ana Ceoldo (1914 - )

............ 3 Filomena Ceoldo (1925 - )

...... 2 Anna Maria Ceoldo (1881 - )

...... + Luigi Marcatto (1884 - )

............ 3 Antonio Marcatto (1914 - )

...... 2 Teresa Ceoldo (1883 - )

...... + Verginio Meneghetti (1879 - 1942)

............ 3 Domingos Meneghetti (1904 - )

............ 3 Maria do Carmo Meneghetti (1906 - )

............ + Antonio Carlos Fofano (1904 - )

............ 3 Maria Isolina Meneghetti (1908 - )

............ + José Antonio Sangalli (1910 - )

............ 3 Regina Meneghetti (1911 - )

............ + José Fofano (1909 - )

............ 3 Santo Meneghetti (1919 - )

............ 3 Armindo Meneghetti (1924 - )

............ + Santa Bedin

............ 3 Dirceu Meneghetti (1928 - )

............ + Yeda Ferreira

............ 3 Orlando Meneghetti (1929 - )

............ + Jessy Ferreira (1929 - )

...... 2 Regina Margheritta Ceoldo (1886 - )

Sangirolami uniram-se aos Colle e Bonini

Quando publicamos os ancestrais de João Bonini, no dia 10 de julho, não incluímos os pais de Pierina Galasso por não termos outras informações além dos nomes. Hoje aproveitamos o pedido de descendente de José Colle, primo de João Bonini, para completar o quadro ascendente.

Campanha Abrace esta Ideia em andamento

Recebemos o informativo número 09/2009 da Maiss Conhecimento, com uma notícia muito interessante.

COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO DA COLÔNIA CONSTANÇA PODERÁ TER MOSTRA DE CINEMA ITALIANO

Já foram dados os primeiros passos com o objetivo de realizar uma Mostra de Cinema Italiano prevista para acontecer durante as comemorações do centenário da Colônia Constança em abril de 2010, que tem o secretário municipal de Esporte, Lazer e Turismo, Gilberto Toni entre seus organizadores. O consultor da Maiss Conhecimento, Rodolfo Lima, esteve reunido com o produtor cultural Breno Lira Gomes. O encontro foi no Rio de Janeiro, onde Breno, mineiro de Coronel Fabriciano, já desenvolve um trabalho de produção e curadoria de mostras de cinema. Atualmente ele é o responsável pela curadoria e produção de algumas mostras dos seguintes festivais: Montes Claros em Movimento – Festival Nacional de Cinema do Norte de Minas, Curta Cabo Frio e Festival Tambores de Cinema e Vídeo, esse último no Maranhão.

Breno Lira Gomes é jornalista por formação, é editor, mas enveredou pela área cinematográfica, atuando como assessor de imprensa de distribuidoras cariocas, como programador do Cinema Estácio, pertencente a Universidade Estácio de Sá. E atualmente ele é responsável pela programação e promoção do projeto Distribuição Criativa, da Pipa Produções. Em novembro ele irá produzir o primeiro Seminário de Cinema Digital, na Caixa Cultural, também no Rio de Janeiro.

Breno já esta desenvolvendo o projeto para realização da mostra de cinema tendo a Itália como tema. De acordo com o produtor, a idéia é levar para Leopoldina produções tanto italianas quanto brasileiras que mostram o encontro dessas duas culturas. E também apresentar filmes de importantes cineastas italianos que são admirados no Brasil, e diretores brasileiros respeitados na Itália.

Rodolfo acredita que a mostra será uma boa oportunidade para que seja iniciado em Leopoldina um projeto de fomentação de platéia para cinema. E com isso, quem sabe, implantar um plano de criação de uma sala de exibição, com projeção digital, que priorize a exibição de filmes brasileiros. Na próxima semana o projeto será levado pelo consultor Rodolfo Lima ao conhecimento do Secretário Gilberto Toni, que já se prontificou a ajudar na viabilização da Mostra de Cinema.

Saudamos com entusiamo a proposta da Maiss Conhecimento e esperamos que o projeto se realize, transformando-se num jeito marcante de homenagear os colonos italianos que ajudaram a modelar a Leopoldina que temos hoje. Na oportunidade, cumprimentamos o Secretário Gilberto Tony e seu assessor Rodolfo Lima por esta iniciativa.

Desafio ao ouvinte e ao leitor

Numa troca de mensagens com um pesquisador italiano, soubemos de uma situação interessante. Segundo ele, algumas famílias desapareceram de uma determinada cidade do sul da Itália por conta da emigração. Visitando a localidade na década de 1980, o estudioso observou que moradores falavam mais de São Paulo ou Nova Iorque do que de Roma. Isto porque, mesmo quem nunca tenha saído da cidadezinha, tinha parentes emigrados. Viajar a Roma não era uma prática. E concluiu: "não consegui encontrar uma só família que não tenha parentes no continente americano".

No sentido inverso, citamos Leopoldina. Aqui é difícil encontrar uma família que não tenha ligação com imigrantes. Este foi, inclusive, o motivo que nos fez sugerir o Desafio ao Ouvinte para o programa dominical, na Rádio Jornal, apresentado pelo Marcus Vinicius. Passados mais de dois meses, os ouvintes do programa ainda não nos indicaram uma rua da cidade em que não haja parentes de imigrantes. E aqui deixamos o Desafio ao Leitor: se vc conhece famílias radicadas em Leopoldina há bastante tempo, e que não tenham ligação com imigrantes, por favor, entre em contato conosco.

Propriedades pequenas e produtivas

Segundo a Inchiesta Agraria de Jacini, na segunda metade do século XIX as pequenas propriedades eram mais comuns do que o latifúndio na Emilia-Romagna. Em algumas partes da região encontravam-se unidades de 10 a 30 hectares mas o tamanho mais frequente ficava em torno de 9 hectares. Num extrato sobre a Inchiesta Agraria de 1878, Giulio Gatti informa que a propaganda da emigração comparava a diminuta extensão das propriedades rurais na Italia com a possibilidade de adquirir grandes fazendas no Brasil.

Tomando por base o tamanho dos lotes da Colônia Agrícola da Constança, com 25 hectares em média, verifica-se que a realidade encontrada estava longe de confirmar a propaganda que atraíra aqueles imigrantes. Sabemos que antes do estabelecimento daquele núcleo colonial os imigrantes raramente tiveram oportunidade de adquirir uma boa propriedade, que permitisse o rendimento necessário para o sustento de família numerosa. Foi o caso, por exemplo, de Giovanni Casadio. Com a esposa Luigia Martinelli e pelo menos dois filhos, em 1897 Giuseppe foi contratado para uma fazenda no então distrito de Leopoldina chamado Rio Pardo, hoje o município de Argirita. Em 1910, o filho Giovanni Casadio adquiriu o lote número 35 da Constança, no qual também viveram seus pais. Assim como tantos outros, os Casadio foram bastante operosos e conseguiram uma boa condição de vida.

Outros imigrantes da mesma região, como os Minelli de Bologna, radicaram-se no distrito de Ribeiro Junqueira. Já os Conti, de Marzabotto, tornaram-se proprietários na localidade de São Lourenço, também no município de Leopoldina. Ao que se sabe, estes e os demais imigrantes estão entre os numerosos colonos que transformaram pequenos lotes em exemplo de produtividade.

Remessas para a Italia

Frequentemente encontramos referências ao dinheiro que os imigrantes remetiam para a Italia. Infelizmente não conseguimos reunir informações consistentes sobre tal prática entre os que viveram em Leopoldina. Talvez não tenha ocorrido ou, o que é bem provável, a "tenacidade com que os emigrados permanecem ligados às tradições italianas", mencionada em Relatório de um parlamentar em 1911, tenha sido praticada aqui através das festas religiosas.

Para períodos posteriores, encontramos publicações que mencionam os diversos motivos por trás das remessas que os nossos imigrantes faziam: desde o pagamento de um empréstimo obtido com a própria família, passando pela promessa que fizeram de continuar ajudando-os até as doações para a paróquia na qual nasceram. É possível que a devoção dos emigrados tenha se transferido para o padroeiro local, como parece indicar a compra do terreno e a construção da Igreja de Santo Antonio de Pádua, atualmente mais conhecida como Igreja da Onça. Segundo Constantino Ianni, no livro Homens sem Paz, o interesse do Vaticano na emigração esteve ligado à poupança daqueles trabalhadores que poderia ser remetida para a Igreja.

No caso de Leopoldina, levantamos a hipótese de tal poupança ter sido direcionada, pelos padres do município, para as Igrejas que passaram a frequentar. Só não podemos nos manifestar sobre uma informação Comissariado da Emigração de 1908, dando conta de que "o padre italiano passa a vida no meio de uma riqueza invejável, promovida pelo caráter eminentemente religioso dos colonos". A este respeito, não encontramos indícios.

Campana e Campagna são famílias distintas

Conforme publicamos em novembro de 2008 no jornal Leopoldinense, colunas 45 e 46, em Leopoldina viveram os Campana e os Campagna. Recebemos consulta sobre Agostinho, filho de Angelo, mas o sobrenome veio invertido. Abaixo os ancestrais de Agostinho de Oliveira Campana que viveram em Leopoldina.

Italianizar-se em terra estrangeira

Olhar os nossos colonos apenas como imigrantes, ou seja, como estrangeiros vivendo em nosso país, parece-nos um risco considerável. Acreditamos ser fundamental analisar o contexto em que viveram antes de decidirem deixar a pátria e a família, ou seja, pensá-los como emigrantes. Neste momento em que estamos próximos do Centenário da Colônia Agrícola da Constança, rever capítulos de nossos estudos tem sido nossa forma de comemoração. A releitura nos faz refletir sobre muitas questões que ainda não tinham sido discutidas pelos descendentes dos imigrantes que viveram em nossa cidade.

É sempre oportuno lembrar que, embora a Constança tenha sido oficializada no dia 10 de abril de 1910, a maioria dos colonos já vivia em Leopoldina há bastante tempo. Entre os adquirentes dos lotes, muitos chegaram ao Brasil entre 1888 e 1895. E embora tenha havido uma certa dispersão pelo município, observamos a formação de uma comunidade bastante representativa dentro da população local. Entre outros indicativos para esta conclusão, temos o compadrio que surge nos livros paroquiais. A região onde existiu a Colônia Santo Antônio, e depois a Constança, tornou-se quase uma área urbana em função dos imigrantes que ali viveram.

Conforme temos citado algumas vezes, o sentimento de nacionalidade entre os italianos nasceu da consciência, já no estrangeiro, de que procediam de um mesmo país. Um relatório do Comissariado para a Emigração italiano, de 1926, menciona diversas formas de exploração a que foram submetidos os candidatos a deixarem o país, desde as últimas décadas do século XIX. São citados casos de emigrantes encaminhados para lugar diferente daquele ao qual pretendiam ir, fato de que só tomaram conhecimento quando desembarcaram. E a falta de serviços assistenciais, por parte da Itália, obrigou os emigrantes a se unirem e se organizarem. Ou seja: italianizaram-se em terra estrangeira.

Nostalgia do pequeno paese

Della emigrazione e del pauperismo, obra de Ernesto Comucci publicada em 1885, é citada por diversos autores como referência para o efeito da nostalgia na saúde mental do emigrante que, sentindo-se solitário em terra estrangeira, vê o sonho de prosperidade se diluir na dura realidade. Se para alguns isto resultou em profunda mágoa da terra natal, por considerarem-se expulsos, em outros casos o desequilíbrio mental foi muito grave, extraindo-o completamente do convívio social. Há relatos, pelo interior do Brasil, de inadaptação de "nostálgicos" mesmo quando vivendo próximo a outros italianos. E aí está o segundo problema.

Sabe-se que os camponeses que emigraram no final do século XIX não eram propriamente italianos como entendemos hoje. Nos primeiros tempos após a unificação, só uma pequena parcela da população - a elite, estendeu o sentimento de nacionalidade para além do território do estado a que pertenceu até então. Os demais continuaram se sentido calabreses, lombardos ou sicilianos muito mais do que italianos. Antigos jornais mencionam um político que teria declarado que a "Italia foi construída e agora precisamos construir os italianos".

Ainda seguindo opiniões populares, do Piemonte teria sido irradiada a "italianização" que não atingiu os camponeses porque logo emigraram. Donde os nossos imigrantes não se reconheciam como parte de uma comunidade nativa, quando instalados em colônias onde viviam naturais de outras regiões da sua terra natal.

Abordamos ligeiramente o assunto no texto O Sentimento de Nacionalidade Italiana publicado em janeiro de 2007. Sem, contudo, mencionar o desabafo de um descendente sobre a tristeza de seus avós por conviverem com pessoas de hábitos culturais diferentes, embora todos provenientes do "mezzogiorno". Para o informante, o desequilíbrio mental de um parente próximo seria "hereditário" e acrescentou que seus tios também sentiam profunda saudade do "paese" onde nasceram.

Bolzoni, da Lombardia

Em 1897, pelo vapor Les Alpes, chegou a família de Luigi Bolzoni, procedente da Lombardia. Seus filhos Pietro, Carolina, Angelo e Grazia casaram-se e tiveram filhos Leopoldina. Em 1942, pelo menos a família de Pietro Bolzoni vivia Colônia Agrícola da Constança.

Condições de vida do italiano no exterior

O livro The Italian Emigration of our times, de Robert Foerster, publicado em Cambridge em 1919, traz algumas informações sobre a vida dos italianos no Brasil, nos capítulos XV e XVI. Embora mencione algumas colônias brasileiras, não há dados específicos sobre Minas Gerais. De todo modo, é uma obra importante para conhecer a visão de estudiosos do início do século XX sobre o assunto.

É de Foerster a informação a respeito da diminuição do número de proprietários na Basilicata, Calabria e Sicilia entre 1882 e 1901, época em que os pequenos vendiam seu patrimônio para buscar melhores condições no exterior. Esta informação está presente na memória familiar dos Lamarca, Lammoglia e Schettini que vieram para Leopoldina.

De igual modo, o desconhecimento da língua como causa de dificuldades variadas é perceptível em nossos estudos. Mas não podemos afirmar, como fez Foerster, que seria a causa do rebaixamento das condições sociais dos imigrantes italianos e de inúmeros acidentes de trabalho.

Diga-se, aliás, que o Documenti di Vita Italiana, publicado em Roma na década de 1950 pela Presidenza del Consiglio dei Ministri, relaciona os países que repatriaram imigrantes italianos por problemas de saúde, incluindo o Brasil. Para períodos mais remotos, temos informação de procedimento desta natureza anteriores a 1927, segundo Estatística do Comissariado, que inclui os números daqueles que foram rejeitados nos portos de desembarque. Em nossas buscas nos livros da Hospedaria Horta Barbosa, encontramos sim, repatriações, mas não por problemas de saúde. Os poucos casos ali registrados referem-se a "desordeiros", sem especificar que tipo de tumulto teriam causado.

Bonini e Colle, duas famílias da Constança

Temos recebido pedidos para publicar os nomes de antepassados imigrantes aqui no blog. Pedimos que nos informem o tipo de vínculo, por conta de alguns homônimos. Sempre que os tivermos no banco de dados, publicaremos.

O quadro abaixo responde a consulta sobre a filiação de João Bonin, filho de Jacinto e neto de Fortunato Bonini, que adquiriu o lote número 23 da Colônia Agrícola da Constança.

Ascetismo da Poupança

Expressão utilizada em alguns estudos, parece ter sido importada dos Estados Unidos onde foi utilizada para condenar o comportamento dos imigrantes italianos que, ao retornarem para seu país, estavam em boas condições econômicas e extremamente debilitados fisicamente.

De fato não são poucas as referências, nas entrevistas que realizamos, à dureza imposta pelos imigrantes a si e à família, tendo em vista amealhar uma poupança que permitisse adquirir um pedaço de terra. Conforme já mencionamos, no início poderiam pensar em voltar para a Italia e se estabelecerem em melhores condições, a partir da poupança feita aqui no Brasil. Entretanto, não temos dados que nos permitam abordar o decréscimo da condição física em função dos sacrifícios a que se submeteram. Sabemos, sim, de perda de visão ou de algum membro. Entretanto, desconhecemos a causa e por isto não podemos imputar o fato a determinada prática ou comportamento.

Lemos referências a óbitos causados pela mesma situação, ou seja, determinados pelo excesso de trabalho em condições adversas. No que toca a Leopoldina, temos um caso de óbito considerado como resultado de trabalho no brejo, cultivando arroz. Entretanto, analisando a trajetória do falecido, descobrimos que no final de todas as tardes ele se dirigia para a "venda", um estabelecimento comercial próximo do local de residência. Ali o imigrante passava muitas horas bebendo, indo para casa já com noite fechada. Quase sempre chegava com o vestuário bastante úmido pelo sereno. E, bêbado, não cuidava de trocar a vestimenta e aquecer-se adequadamente. Tampouco permitia que a mulher interferisse. Nos primeiros tempos, quando ela insistia em fazê-lo trocar de roupa e tomar um chá quente, o imigrante costumava agredi-la verbal e fisicamente.

Passados alguns anos, este imigrante começou a apresentar características de tuberculose mas não buscou tratar-se. Pelo contrário, mudou-se para o sítio do sogro onde foi plantar arroz. Ao fim de 10 anos de casado, foi a óbito. Na memória familiar, ficou a informação de que a causa foi o trabalho no brejo.

Estimular a Emigração

Descendente de Luigi Barbaglio e Rosa Bertini, que fez o caminho de volta e vive há bastante tempo na Toscana, há alguns anos Maria Angela presenteou-nos com um texto muito interessante. Havíamos pedido ajuda sobre a região, interessados que estávamos em contextualizar a história da família Prosperi, originária de Lucca, e dos Pierotti, de Firenze. Segundo ela, Ernesto Comucci, em 1885, publicou um livro denominado Della emigrazione e del pauperismo, della riforma agraria e tributaria, no qual consta o seguinte comentário:
Criar a miséria pública é estimular a emigração, um recurso abominável que impede o desenvolvimento da força e da coragem para combater as causas dos problemas locais.
E Maria Angela informa que a classe dirigente estimulava a emigração por ser um instrumento que permitiria manter a ordem social, abalada na década de 1880. A reforma tributária de Crispi não teria tido por objetivo eliminar a miséria, mas impulsionar a saída do "excesso de contingente" que traria prosperidade ao país, especialmente através das remessas em dinheiro que fariam.

Nem todo colono era agricultor na Italia

Simplificações são sempre arriscadas. Uma delas, encontrável em alguns autores, é a que se refere ao trabalho de nossos colonos antes de decidirem vir para o Brasil, muitas vezes afirmando que todos eram agricultores. Já tivemos oportunidade de discutir o assunto numa coluna do jornal Leopoldinense. Além daqueles que vieram antes do período da Grande Imigração, ou seja, entre 1888 e 1898, temos referência a outros imigrantes que não trabalhavam na lavoura. Entre estes, podemos citar os Moroni e Zanetti.

Procedentes de Bergamo, na Lombardia, os Moroni chegaram em 1899 e foram trabalhar numa fazenda do distrito de Abaíba. Três filhos do casal Giuseppe Moroni e Lucia Filipoli casaram-se com filhas de Giovanni Lupatini e Maria Zanetti, grupo que chegara em 1895 e também trabalhava em fazenda do mesmo distrito de Leopoldina. Os Lupatini provinham de Castrezzato, Lombardia. Na época dos casamentos, o casal Lupatini já se vinculava à Colônia Agrícola da Constança, da qual Giovanni adquiriu os lotes números 30 e 39. Acredita-se que o financiamento de duas unidades para um mesmo colono seja fruto de acordo entre ele e seus agregados, de modo a reunir os requisitos exigidos pelo governo para a venda.

Mas um dos novos casais não residiu na Constança. Giuseppe Abramo Moroni e Giulia Francesca Lupatini haviam se casado em janeiro de 1908 e em julho do ano seguinte tiveram a filha Maria Assunta. Provavelmente no mesmo ano resolveram voltar para a Italia. Giulia faleceu na Brescia em 1967. Buscando informações sobre a trajetória do casal, descobrimos que os Zanetti faziam parte da Camera di Commercio e Industria di Brescia, entre eles havendo diretores daquela instituição entre 1910 e 1920. Já na família Moroni havia técnicos e engenheiros radicados em Milão, e alguns familiares de Giuseppe Abramo Moroni eram proprietários de uma Tipografia que publicava jornais sobre o assunto desde o final do século anterior. Sendo assim, Giuseppe Abramo decidiu retornar e seus descendentes seguiram a trajetória das duas famílias, trabalhando no comércio, na indústria e em tipografia.

Industrialização e Técnicas de Adubação

A industrialização do norte da Itália é mencionada de forma contrastante em algumas fontes. De um lado o processo é visto como ampliação do mercado de trabalho, absorvendo a mão de obra ociosa dos jovens provenientes das lides agrícolas. Por outro lado, é considerada como estímulo à emigração por retrair o mercado, já que a mecanização diminui a necessidade do emprego de muitos braços antes necessários em algumas tarefas.

Buscando publicações a respeito, encontramos referência a uma revista quinzenal publicada em Milão na última década do século XIX. Teria sido criada como órgão de informação no meio industrial, sob o título L'industriale. No único número que tivemos oportunidade de ver, há publicidade de máquinas e equipamentos aparentemente rudimentares, além de um comentário sobre uma nova técnica de aplicação de adubos. Seria interessante encontrar outras fontes a respeito, já que a adulteração de produtos agrícolas e adubos é citada, em Notizie intorno alle condizione della agricoltura, publicada em 1886, como uma das preocupações no Ministero di Agricoltura, Indústria e Commercio naquele momento.

O diretor da mencionada revista era Carlo Gobbi e este nome chamou a atenção. Isto porque em Leopoldina viveu Amalia Luigia Gobbi, nascida por volta de 1848 em Mantova. Era casada com Agostino Cosini com quem passou ao Brasil em 1888. Uma das filhas do casal - Maria Augusta, casou-se com José Matola de Miranda e foi mãe de Ranulfo Matola, personagem de destaque em Leopoldina, sendo homenageado em nome de rua no bairro São Luiz, nas proximidades da Colônia Agrícola da Constança. E Maria Augusta era cunhada de Carlo Cosini, que até 1942 vivia na Colônia Agrícola da Constança e é referido por alguns entrevistados como especialista na aplicação de adubos.

Sonhar com a Propriedade

A obra Delle Colonie e delle Emigrazioni, de Leone Carpi, publicada em 1874 em Milão, é fonte de consulta obrigatória. Entre outros, é citada no trabalho de Ercole Choate numa referência à carta do cônsul italiano do Rio, em 1872, relatando que a tendência do emigrante italiano era ficar no Brasil por um período entre 3 e 6 anos, acumulando uma poupança que permitisse voltar à terra natal e lá adquirir seu próprio pedaço de terra.

No texto O Sonho de ser Proprietário, em nossa coluna no jornal Leopoldinense, abordamos a tradução do sentimento dos colonos italianos de obter a liberdade através da compra de um lote. Parece que, chegando aqui com a ideia de retornar no período indicado pelo cônsul mencionado por Carpi, outros fatores os tenham convencido de que seria melhor adotar o Brasil como pátria de seus descendentes. Encontramos poucos casos de colonos que voltaram para a Italia. A maioria aqui permaneceu e faz parte da história familiar de inúmeros moradores de Leopoldina.

Atração para Emigrar

Os agentes contratados pela província de Minas Gerais eram, em geral, vinculados a uma Companhia de Navegação. E eram a única fonte de orientação para o candidato a deixar o país. De modo geral, o agente recebia 10 liras por cada emigrante que fazia embarcar e trabalhava intensamente para aumentar o rendimento, divulgando a ideia nos pequenos lugarejos.

Além dos que convencia, havia ainda os que tivessem sido estimulados pelas cartas de parentes ou amigos que já estivessem morando no Brasil e que o procuravam para embarcar com despesas subvencionadas. O que não significa que o candidato ficasse dispensado de inúmeros custos de preparação da viagem.

A disssertação de mestrado de Christiano Eduardo Ferreira, defendida em 2005 na Universidade Estadual de Campinas, permitiu conhecer alguns aspectos do problema da imigração para o Brasil. Além disso, forneceu indicações bibliográficas preciosas que nos fizeram caminhar até o trabalho de Mariano Rocco, do qual extraímos a conclusão de que os agentes de imigração exploravam a ingenuidade, o estado de abatimento moral e a esperança do candidato, levando-o a pagar por serviços que deveriam ser gratuitos. E não são raros os textos que mencionam as péssimas condições oferecidas ao candidato e sua família, nas pensões onde era obrigado a hospedar-se para aguardar o embarque.

Além da divulgação feita pelos agentes de emigração e das cartas recebidas, durante a prestação do serviço militar poderia ser tomada a decisão de deixar o país. Naqueles 18 meses em que era obrigado a viver numa grande cidade, o jovem travava conhecimento com uma realidade até então insuspeita e, naturalmente, sonhava alternativas para melhorar de vida. Adicionalmente, para o bem e para o mal a temporada poderia transformar o soldado num propagandista de um mundo desconhecido entre os seus. Nada muito diferente do que ocorre atualmente. Com a diferença de estarmos tratando de um momento na vida do italiano mais pobre em que quase tudo lhe era inacessível.

No discurso do político nacionalista Enrico Corradini, do início do século XX, há uma passagem exortando os italianos a impedirem que os nacionais, herdeiros dos conquistadores romanos, viessem executar o trabalho servil, substituindo os escravos nas fazendas brasileiras. Não sabemos se o político teve algum sucesso. Por outro lado, sabemos que muitos italianos, já vivendo no Brasil, transformaram-se em um outro tipo de agente: seja por carta ou em viagens à Italia, arregimentavam outros emigrantes em troca de remuneração que lhes pagavam as Companhias de Navegação.

Lupatini, da Lombardia

Atendendo pedido de um descendente de Giuseppe Lupatini e Maria Letícia, apresentamos as informações que pudemos apurar.
O patriarca Giovanni, procedente da Lombardia, viajou com a família pelo vapor Barmida, em 1895. Da Hospedaria Horta Barbosa o grupo saiu no dia 25 de novembro, com destino ao distrito de Abaíba, naquela época denominado Santa Isabel. Em 1911 tomaram posse dos lotes 30 e 39 da Colônia Agrícola da Constança.

Rendimentos do trabalhador Agrícola

Na Revista de Antropologia número 43, Eva Alterman Blay analisa uma publicação da Edusp no ano de 2000 - Imigração ou os paradoxos da alteridade, de Abdelmalek Sayad.

Logo de início a autora informa que são recentes as publicações sociológicas sobre a questão da imigração e mais adiante comenta que
"Sayad desmistifica o uso das biografias, das histórias de vida, método que ele considera importante mas que não se deve tomar de forma incauta. Mostra que histórias de vida, biografias constituem uma fonte — um artifício — para superar a indigência resultante da falta de arquivos, documentos, dados sociais que permitam comparações. Além disso, não basta ao analista simplesmente explicar o significado de uma ou outra palavra mas situar a biografia no conjunto das condições históricas e sociais das quais ela emerge."
Apesar de leigos, muito cedo sentimos a necessidade de buscar autores com uma boa análise contextual para que pudéssemos entender a trajetória dos imigrantes que viveram em Leopoldina. Impossibilitados de consultar pessoalmente muitas fontes primárias, a alternativa que encontramos foi a leitura de especialistas. Entre eles, falta nos faz conhecer a obra de Claude Woog, um francês que teria informado, a respeito do salário dos trabalhadores agrícolas da Calábria, que o valor de 1900 era o mesmo de 1790.

Seria esta a razão para a vinda dos Cosenza e Longo, que viveram em Leopoldina entre 1910 e 1942? Embora não referido nos relatórios da Colônia Agrícola da Constança, Luigi Cosenza residiu naquele núcleo, segundo consta de seu processo de registro de estrangeiro. Teria encontrado, no Brasil, um rendimento mais adequado para seu trabalho?

Resultado da enquete desta semana

Aos poucos vamos conhecendo melhor os visitantes do blog.

As estatísticas de visitação demonstram que 10% dos leitores deixam comentários. Lembramos que nem todos são publicados junto ao post inicial, já que muitos geram um novo post. Depois das duas enquetes publicadas, observamos que o mesmo índice representa o número de leitores que responderam à pesquisa.

Dos que responderam à enquete desta semana, todos informaram descender de imigrantes. E 35% deles fazem pesquisa sobre imigração.

Com os nossos agradecimentos, informamos que estamos preparando uma nova consulta.

O Turismo e a Migração

Foi extremamente importante a adesão do Secretário de Turismo, Esportes e Lazer de Leopoldina à campanha Abrace esta Ideia. Gilberto Tony, também ele descendente de imigrantes, se comprometeu a montar um projeto para realizar o evento comemorativo do Centenário da Colônia Agrícola da Constança em abril de 2010. Ao lado de outras adesões de igual importância, a atuação da Secretaria de Turismo nos remete ao destaque que tem sido dado ao rendimento que a Italia obtém através do turismo. Segundo diversos autores, o emigrado que visita a terra natal é uma grande fonte de recursos.

Desde que começamos a publicar a coluna comemorativa do Centenário, em 2006, sempre recebemos mensagens perguntando sobre a programação do evento. A todos temos explicado que não podemos organizá-lo, porque não residimos em Leopoldina nem podemos ir até lá com a frequência que seria necessária. Sendo assim, optamos por comemorar através da publicação de nossos estudos.

Nos últimos meses, aumentou significativamente o número destas mensagens. O que nos faz concluir que o leopoldinense ausente vê no Centenário da Colônia Agrícola da Constança uma oportunidade de rever a cidade natal, os parentes e amigos. E que muitos descendentes de famílias leopoldinenses, mesmo não conhecendo a cidade de seus antepassados, sentem-se atraídos pelo evento.

A todos vocês, que nos escrevem perguntando como será comemorado o Centenário, pedimos que aguardem notícias que certamente virão dos organizadores, à frente o Secretário de Turismo, Esportes e Lazer.

Marinato, do Veneto

Rodrigo Marinato, neto de Gustavo, pergunta sobre seus antepassados. Sabemos que o chefe da família que passou ao Brasil foi Otaviano Marinato, procedente de Pianiga, no Veneto. Em outubro de 1888 foram registrados na Hospedaria Horta Barbosa, em Juiz de Fora, de onde saíram contratados pela Câmara Municipal de Leopoldina. No mesmo vapor veio Luigia, irmã de Otaviano, casada com Giuseppe Modesto Meneghetti. Em 1896 chegou Felicia, esposa de Giacinto Marcatto.

Família Pazzaglia

A família Pazzaglia chegou a Leopoldina em 1897, tendo sido contratada para trabalhar numa fazenda em São Martinho, distrito de Providência. O sobrenome da Matriarca aparece em algumas fontes como Cappi e em outras como Lucchi.

Os Meloni, da Sardegna

Com a colaboração do descendente Raphael Meloni foi possível identificar esta família radicada em São João Nepomuceno, com pelo menos um descendente em Leopoldina.

De volta à Questione Meridionale

A opinião de que os resultados da economia agrícola do sul da Italia foram direcionados para o norte é compartilhada por inúmeros autores que estudaram o assunto. Entre eles, há os que defendem o argumento de que a ação estatal, privilegiando algumas classes e regiões, criou e sustentou as condições que aceleraram a emigração. E relatam que, ao se instalarem em países como Brasil, Argentina e Estados Unidos, aqueles italianos abriam novos mercados para produtos que ainda não faziam parte da cesta de consumo local, resultando em uma das bases de prosperidade da economia italiana.

Considerando com alguns destes autores que 25 de cada mil habitantes do Reino emigraram em 1913, pode-se imaginar a representatividade destas comunidades no exterior para o país que deixaram. E também compreender melhor um relato do jornalista Emilio Sereni, incluído no livro Il Capitalismo nelle Campagne e mencionado por diversos autores. Trata-se de resposta dada por contadini da Lombardia a um ministro que tentava convencê-los a não deixar o país. Eles teriam dito ao ministro:
O que entendes por nação? É a massa dos infelizes? Sendo assim, somos uma nação. Plantamos e colhemos o trigo mas jamais provamos um pão branco. Cultivamos a videira e não bebemos vinho. Criamos animais e não podemos comer carne. É uma pátria a terra em que não se consegue viver do próprio trabalho?
Percebe-se, assim, que de norte a sul da Italia a emigração era vista como solução pelo trabalhador rural.

Farinazzo em Leopoldina

Anelisa Batista pergunta quem foram os avós de Madalena Farinazzo, nascida em Leopoldina. Aí está o que conseguimos apurar.

Nossa forma de Comemorar

A criação do blog, em abril de 2007, teve por objetivo abrir um canal de comunicação mais rápida com quantos se interessassem pelo estudo da imigração em Leopoldina. Embora exista no site uma seção destinada a publicar nossos textos sobre a Colônia Agrícola da Constança, apenas uma parte da pesquisa vem sendo adaptada para a coluna que mantemos no jornal Leopoldinense. Outros aspectos ficam apenas em nossos arquivos e precisamos consultá-los, com frequência, para atender consultas dos leitores. Publicar estas respostas no blog foi uma decisão que vem se mostrando bastante interessante.

Continuaremos convidando os moradores de Leopoldina a comemorarem o Centenário da Colônia Agrícola da Constança. Que cada um realize o que julgar adequado para marcar a data! De nossa parte, fica a certeza de que estudar a vida daqueles imigrantes nos fez sentir a necessidade de reverenciá-los. E optamos por fazê-lo publicando os escritos que produzimos durante estes 15 anos de pesquisas.