Os agentes contratados pela província de Minas Gerais eram, em geral, vinculados a uma Companhia de Navegação. E eram a única fonte de orientação para o candidato a deixar o país. De modo geral, o agente recebia 10 liras por cada emigrante que fazia embarcar e trabalhava intensamente para aumentar o rendimento, divulgando a ideia nos pequenos lugarejos.
Além dos que convencia, havia ainda os que tivessem sido estimulados pelas cartas de parentes ou amigos que já estivessem morando no Brasil e que o procuravam para embarcar com despesas subvencionadas. O que não significa que o candidato ficasse dispensado de inúmeros custos de preparação da viagem.
A disssertação de mestrado de Christiano Eduardo Ferreira, defendida em 2005 na Universidade Estadual de Campinas, permitiu conhecer alguns aspectos do problema da imigração para o Brasil. Além disso, forneceu indicações bibliográficas preciosas que nos fizeram caminhar até o trabalho de Mariano Rocco, do qual extraímos a conclusão de que os agentes de imigração exploravam a ingenuidade, o estado de abatimento moral e a esperança do candidato, levando-o a pagar por serviços que deveriam ser gratuitos. E não são raros os textos que mencionam as péssimas condições oferecidas ao candidato e sua família, nas pensões onde era obrigado a hospedar-se para aguardar o embarque.
Além da divulgação feita pelos agentes de emigração e das cartas recebidas, durante a prestação do serviço militar poderia ser tomada a decisão de deixar o país. Naqueles 18 meses em que era obrigado a viver numa grande cidade, o jovem travava conhecimento com uma realidade até então insuspeita e, naturalmente, sonhava alternativas para melhorar de vida. Adicionalmente, para o bem e para o mal a temporada poderia transformar o soldado num propagandista de um mundo desconhecido entre os seus. Nada muito diferente do que ocorre atualmente. Com a diferença de estarmos tratando de um momento na vida do italiano mais pobre em que quase tudo lhe era inacessível.
No discurso do político nacionalista Enrico Corradini, do início do século XX, há uma passagem exortando os italianos a impedirem que os nacionais, herdeiros dos conquistadores romanos, viessem executar o trabalho servil, substituindo os escravos nas fazendas brasileiras. Não sabemos se o político teve algum sucesso. Por outro lado, sabemos que muitos italianos, já vivendo no Brasil, transformaram-se em um outro tipo de agente: seja por carta ou em viagens à Italia, arregimentavam outros emigrantes em troca de remuneração que lhes pagavam as Companhias de Navegação.