Italianizar-se em terra estrangeira

Olhar os nossos colonos apenas como imigrantes, ou seja, como estrangeiros vivendo em nosso país, parece-nos um risco considerável. Acreditamos ser fundamental analisar o contexto em que viveram antes de decidirem deixar a pátria e a família, ou seja, pensá-los como emigrantes. Neste momento em que estamos próximos do Centenário da Colônia Agrícola da Constança, rever capítulos de nossos estudos tem sido nossa forma de comemoração. A releitura nos faz refletir sobre muitas questões que ainda não tinham sido discutidas pelos descendentes dos imigrantes que viveram em nossa cidade.

É sempre oportuno lembrar que, embora a Constança tenha sido oficializada no dia 10 de abril de 1910, a maioria dos colonos já vivia em Leopoldina há bastante tempo. Entre os adquirentes dos lotes, muitos chegaram ao Brasil entre 1888 e 1895. E embora tenha havido uma certa dispersão pelo município, observamos a formação de uma comunidade bastante representativa dentro da população local. Entre outros indicativos para esta conclusão, temos o compadrio que surge nos livros paroquiais. A região onde existiu a Colônia Santo Antônio, e depois a Constança, tornou-se quase uma área urbana em função dos imigrantes que ali viveram.

Conforme temos citado algumas vezes, o sentimento de nacionalidade entre os italianos nasceu da consciência, já no estrangeiro, de que procediam de um mesmo país. Um relatório do Comissariado para a Emigração italiano, de 1926, menciona diversas formas de exploração a que foram submetidos os candidatos a deixarem o país, desde as últimas décadas do século XIX. São citados casos de emigrantes encaminhados para lugar diferente daquele ao qual pretendiam ir, fato de que só tomaram conhecimento quando desembarcaram. E a falta de serviços assistenciais, por parte da Itália, obrigou os emigrantes a se unirem e se organizarem. Ou seja: italianizaram-se em terra estrangeira.