Tema abordado pelo professor Wilton Ferreira de Souza que iniciou a fala citando versões sobre o surgimento do
arraial. Uma delas dá conta de que algumas pessoas chegaram ao local, o alto do
morro, e resolveram erigir uma igreja. Mas havia nas imediações alguns
sesmeiros ou ocupantes do local que de imediato aceitaram a ideia, dizendo que
o terreno não era deles e que a construção não só da capela mas também de casas
de moradia resolveria uma discussão que já vinha ocorrendo, com diversos
moradores querendo a igreja em suas próprias terras.
Entretanto, ressaltou Wilton, a
partir do momento em que se começou a organização do arraial, Estêvão dos Reis
e um sobrinho dele começaram a criar problemas. Alegaram que cederam terreno
próprio, contrariando a conversa anterior. Foram, então, até Ouro Preto e
pediram que o local fosse incorporado à sesmaria deles. E passaram a alegar que
haviam permitido a construção da capela mas não de casas e que se estas fossem
erigidas eles exigiam que o comércio lhes pertencesse.
Para Wilton, a ocorrência foi uma
escaramuça, uma questão de avareza, que o leva a pensar numa outra hipótese
para o surgimento da Igreja Nova: as relações igreja-estado e a nobilitação
procurada pelos então moradores locais. Seriam pessoas em busca de escalada
social.
O palestrante se baseia em
Francisco Eduardo de Andrade, cuja palestra ocorreu mais tarde, para informar
que os memorialistas dizem que a capela era erigida e a partir dela surgia o
arraial. Entretanto, pesquisas detalhadas demonstraram que a capela era
construída em função do que já existia no local, como um entroncamento de
caminhos e o mobiliário urbano que na época fazia parte deles. No caso da
Igreja Nova, ali já existia o Registro e uma vida social e econômica em seu
entorno, como fatos geradores da necessidade de construção de um local para a
prática religiosa, contrariando, desta forma, o que dizem os memorialistas.
No mesmo sentido foi apresentada
uma análise da noção de que os construtores da capela teriam uma espécie de
plano de edificação do povoado. Um dos argumentos é uma carta dirigida pelos
moradores ao Rei, alegando que o local era visitado frequentemente por pessoas
perturbadoras da ordem. Oras, pergunta Wilton, como poderiam querer construir
uma capela em local tão inadequado? E ele mesmo responde que há indícios da
influência da missão pacificadora da Igreja, de ordenar e evangelizar os
moradores locais. Donde o interesse de formação do arraial seria não só da
Igreja como dos potentados da região.
Wilton Ferreira de Souza
ressaltou que o doador de terras para constituição do patrimônio do santo protetor
adquiria alguns direitos, sendo o mais evidente a aproximação com o aparelho da
igreja que era também um aparelho de Estado. Ou seja, o doador
usava desta estratégia para se aproximar do poder. Todos
queriam este acesso. Portanto, doação era uma atitude planejada para a escalada social.
Prosseguindo, foi abordada a
questão denominada ‘economia do dom’, ou seja, quem faz alguma doação é
automaticamente nobilitado. Quem faz mercê à Igreja tem como benefício o acesso
a um novo patamar na sociedade. Naquela época, quem quisesse se nobilitar
deveria, antes de mais nada, viver como nobre. Neste processo, o interessado poderia ser até um oficial mecânico, por
exemplo, mas não poderia viver como tal. Esta seria a razão para os casos de pessoas que construíram fortuna e a perderam no momento em
que passaram a utilizá-la para sustentar uma vida de nobre.
Concluindo sua apresentação, o
professor Wilton reforçou a opinião de que o surgimento de um arraial, e
especialmente da Igreja Nova, teria sido uma questão de negócio, envolvendo de
forma evidente o processo de escalada do poder. Reiterou haver indícios de
que a parcela mais abastada daquela população teria interesses na formação do
povoado, o que coloca em campos opostos a opinião de memorialistas e dos
estudiosos que pesquisaram o tema.