A última fala da manhã do dia 19
de agosto foi de Jairo Braga Machado, sobre esta manifestção cultural da qual São João del Rei é uma das referências. Isto ocorre em função da
singularidade que a distingue em relação a outras localidades.
Informou que em 2009 o Conselho do Patrimônio do IPHAN esteve na cidade para o registro
do Toque dos Sinos como bem cultural imaterial.
O palestrante comentou o conceito
de linguagem como sendo um código que determinada parcela de uma comunidade seja
capaz de decodificar. Chamou a atenção para o fato de que não bastaria tombar
o bem se a comunidade dele não se apropriasse. No caso em pauta, as Irmandades
de São João del Rei mantém uma dinâmica extraordinária, representando um dos
pilares fundamentais para a preservação não só da Linguagem dos Sinos como das
edificações antigas, especialmente das igrejas.
Outro destaque foram os meninos e
jovens da cidade que se apropriam dos espaços do fazer cultural da maneira mais
digna possível. O que o leva a reafirmar que o tombamento é importante sim, mas
se não houver o comprometimento da comunidade, o bem ou a prática cultural
estará fadada ao desaparecimento.
Declarando-se preocupado com a
preservação, Jairo Machado alertou para a necessidade de envolver os moradores e que se “Tiradentes, o alferes, é
um espírito em movimento”, o toque dos sinos em São João del Rei desperta a
lembrança de um tempo em que todas as atividades manuais eram exercidas pelos
escravos, legando-nos um patrimônio cultural valiosíssimo.
Os atuais moradores de São João
del Rei, vivendo numa época em que o aparato tecnológico está ao alcance de
todos, não se esquecem do seu passado e se apropriam de instrumentos medievais
de comunicação. Quando os sinos são tocados, sabe-se o que está acontecendo. Se
foi um homem ou mulher quem morreu, a qual Irmandade pertencia, qual era o grau
ocupado dentro da Ordem ou Confraria, e muitas outras informações sobre o fato
são depreendidas da linguagem dos sinos.
No prosseguimento, Jairo Machado
esclareceu que o tombamento do Registro de um bem imaterial é o instrumento
prioritário para garantir-lhe a perpetuação. Investir na manutenção da prática
e dos sinos é papel do Estado. E convidou a plateia
a refletir: o que é importante no toque dos sinos, o sino ou o sineiro? E ele
mesmo respondeu ser o sineiro, acrescentando a vivência dos meninos de São João
del Rei, muitas vezes moradores da periferia, que são capazes de responder aos
cantos em latim do padre, e sabem explicar ao leigo o que está sendo cantado.
Falou de sua
decepção quando, visitando a Torre dos Clérigos, na cidade do Porto, Portugal,
observou que os sinos são tocados através de um interruptor, tirando parte da
magia da prática. Muito diferente do que ocorre em São João del Rei, onde a
comunidade a tem perpetuado pela atuação fundamental do sineiro. Declarou
ter catalogado 29 modalidades de toques, como aviso de incêndio,
chamada do sacristão, aviso de morte e outras.
Ao encerrar sua participação, foi
lembrado, que ao final deste primeiro dia do Encontro a plateia teria
oportunidade de assistir ao vídeo produzido por Jairo Machado, sobre a
Linguagem dos Sinos.