Geraldo Barroso de Carvalho nasceu em Cipotânea,
cidade cortada por uma linha reta imaginária que vai do Rio de Janeiro a Ouro
Preto. Entrevistando antigos tropeiros,
teve a curiosidade despertada pela expressão ‘caminhos de dentro’ e passou a
estudar o assunto. Observou que o Caminho Novo representava um desvio
significativo para oeste, podendo indicar que o percurso teria sido definido
para beneficiar proprietários ou para atingir São João del Rei. Por outro lado,
no leste a mata era fechada e havia por ali tribos de indígenas rebeldes.
Os moradores da região a leste do
Caminho Novo cuidaram de buscar alternativas. Na altura de Simão Pereira,
começaram a abrir trilhas no sentido que lhes seria útil: Mar de Espanha, Rio
Novo, Rio Pomba, Mercês, Cipotânea, Lamin, Catas Altas, Lamin e Ouro Preto. O
nome que se deu a tal percurso foi exatamente Caminho de Dentro, denominação utilizada para outros caminhos próximos.
Entretanto, a Coroa proibiu que
se abrissem trilhas do lado leste do Caminho Novo, por receio da evasão do
ouro. Observa-se, entretanto, que os tropeiros não obedeceram à legislação e
começaram a abrir trilhas e construir pontes para facilitar o acesso. Tais
trajetos passaram a ser chamados de Descaminhos do Ouro. Aos poucos as trilhas
foram se unindo e criou-se uma estrada muito mais retilínea do que o Caminho
Novo.
Dr. Geraldo Barroso concentrou-se
na região do Alto Rio Doce por ter ali encontrado fontes orais bastante
coerentes. Observou que por ali existiu um pequeno desvio para oeste, cujo
objetivo parece ter sido contornar uma serra de difícil transposição, que
separa Mercês de Alto Rio Doce. Neste local nascem afluentes do Rio Paraíba do
Sul como o Rio Pomba e do outro lado, afluentes do Rio Doce, como o Xopotó.
Aos poucos foram surgindo outros
‘caminhos de dentro’ que foram mostrados em cartografia, comprovando que a
Coroa tinha razão porque estas vias tornavam relativamente simples para os contrabandistas
se desviarem do Caminho Novo antes do Registro, e o retomarem mais adiante. Ressaltou,
porém, que os caminhos foram abertos para tornar viável o escoamento da
produção local como o mel, a cachaça e o açúcar.
Foram apresentadas imagens da
bacia do Xopotó, onde algumas variantes foram abertas. A seguir, através de latitude e longitude das localidades abrangidas pelos
Caminhos de Dentro, foi
demonstrada a distância em que estavam do Caminho Novo.
Projetada a imagem de uma tropa,
o palestrante discorreu sobre a composição e função dos que escoavam a produção
local e traziam de volta os produtos necessários aos moradores. Lembrou da
preocupação dos tropeiros em fugir dos assaltos que eram frequentemente
relatados e citou um destes assaltantes, um padre, preso em Ouro Preto e dali
evadido em pouco tempo, sendo posteriormente assassinado em Além Paraíba. Este
padre era capelão até 1825, quando passou à deplorável prática no Caminho Novo.
Quando surgiram as ferrovias, os
Caminhos de Dentro facilitaram o acesso às estações daquela região. Saindo de
Cipotânea, os tropeiros pernoitavam em Alto Rio Doce e no dia seguinte atingiam
Mercês.
A seguir foram mencionados dois
viajantes estrangeiros que deixaram relatos sobre sua passagem pela região
estudada: George Gardner e Herman Burmeister.
Geraldo Barroso encerrou sua
participação contando uma curiosidade. Um tropeiro adquiriu dez burros novos e os batizou com nomes que começavam
com a letra“P”: Penacho, Peixão, Passo-Preto (Pássaro-Preto?), Pirante, Paraná,
Piraí, Panorama, Piano, Pensamento e “Paixonado” (Apaixonado).