Afonso Alencastro Graça Filho iniciou sua apresentação ressaltando que embora seja um tema já ultrapassado na nova historiografia
mineira, ainda há alguns autores resistindo às evidências de que
a Capitania de Minas Gerais, com o declínio da mineração, não viveu um momento
de miséria terrível ou de uma decadência assombrosa.
Lembrou que Celso Furtado, cuja
obra ainda é muito considerada, marcou a geração de uma época
anterior às novas metodologias. Portanto, a visão daquele autor de que Minas teria vivido a maior retração econômica das
Américas, e que só se recuperaria com a introdução do café, na segunda metade
do século XIX, é uma postura tradicional que se perpetuou e que a nova
historiografia de Minas Gerais tem descartado.
Em 1979, Maria Yeda Linhares
publicou palestras que havia feito em Minas Gerais, questionando as evidências
da decadência e sugeriu aos pesquisadores que voltassem seus olhos para a
dinâmica da história econômica, olhando para a economia de abastecimento, ou
seja, a pecuária e a lavoura de alimentos. Estes aspectos tinham sido
desconsiderados pela antiga historiografia. Além disso, a autora se referiu ao
escravismo que teria contribuído para um consumo atrofiado, pela falta de
condições daquela fatia da população. Foi, portanto, um chamado para que as pessoas
fizessem pesquisas mais aprofundadas, observando se o impacto da crise do ouro
havia sido geral em Minas Gerais ou localizado nas áreas mineradoras, e que
levassem em consideração a economia de abastecimento.
Afonso Alencastro prosseguiu
lembrando que alguns autores, como Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado
Júnior, haviam percebido que, mesmo se tivesse ocorrido uma queda consequente
ao ocaso da mineração, uma parte de Minas teria se salvado. No caso, seria o
Sul de Minas que, em tempos remotos, era a Comarca do Rio das Mortes. Sendo
assim, a região de São João del Rei, que foi cabeça da Comarca, é um lugar
privilegiado para se falar da História de Minas Gerais.
Com o alerta de Maria Yeda
Linhares, os estudos começaram a ser redirecionados nos anos de 1980. Muitos
nomes de destaque da historiografia desde então atenderam ao chamado e
passaram a trabalhar em busca da diversidade de atividades econômicas, da
transformação do trabalho e se tornaram referência para a visão de Minas como
exportadora de alimentos para outras capitais. Entre os autores citados, estão
Roberto Martins, Douglas Libby, Robert Slenes e Alcir Lenharo.
O ponto levantado por Roberto
Martins era como Minas teria preservado a maior população de escravos numa
economia em decadência. A partir daí, para responder a esta questão
demográfica, houve um movimento de busca da resposta. Roberto Martins concluiu
que não havia grandes trocas comerciais com outras capitanias. Douglas Libby
demonstrou a grande diversidade de atividades econômicas.
O palestrante mencionou que uma
das hipóteses levantadas para o grande número de escravos é que seria
um resíduo do auge da mineração e que teria havido uma reprodução endógena da
escravaria. Slenes e Lenharo acrescentaram que as relações externas de Minas
Gerais não eram desprezíveis. Com os olhares voltados para as listas
nominativas de habitantes de 1831, os pesquisadores verificaram que a maioria
dos fogos não contava com escravos e, entre os que possuíam escravos, metade
tinha até 5 indivíduos em tal condição. São, portanto, raras as grandes
escravarias.
Lembrando que a consulta às
fontes primárias é fundamental para o trabalho do pesquisador, Afonso
Alencastro mencionou o professor João Fragoso, em cuja tese de 1992 é informado
que, entre 1825 e 1830, 43% dos escravos saídos do Rio de Janeiro foram
direcionados para Minas. Como seria possível se este foi justamente o período
em que a antiga historiografia definiu como o da terrível decadência?
Foi informado que a análise da
economia de mercado é o grande elemento de revisão do funcionamento geral da
economia colonial brasileira, mas que apesar dos caminhos da nova
historiografia, ainda existem resistentes, embora minoritários, que insistem na
visão já ultrapassada. Neste caso, foi citado Wilson Cano, que persiste na
linha da decadência pós-mineração.
Encerrando sua fala, o
palestrante ressaltou que as antigas obras sobre o ciclo do ouro esconderam
outros aspectos da história mineira como, por exemplo, a concessão de cartas de
sesmaria a demonstrar que a mineração conviveu com significativa produção de
alimentos. Exortou a todos para a necessidade de encarar a historiografia com
mais seriedade, realizando pesquisas embasadas em fontes primárias, com a
exploração exaustiva do que dizem tais fontes, para verificar como foi
realmente o passado de Minas Gerais.