Durante a Festa Literária Internacional de Parati - FLIP deste ano, surgiu a vontade de reler Gilberto Freyre. Para além das críticas que alguns fazem a este autor, não podemos deixar de considerá-lo um marco. E não só pela obra mais famosa - Casa Grande & Senzala. Outras como Ingleses no Brasil e Novo Mundo nos Trópicos são também interessantes. Sem contar com aquela que é considerada sua estréia como autor: Vida Social no Brasil nos meados do Século XIX.
Pois relendo este trabalho que o próprio autor considera "um ensaio produzido por um adolescente", pode-se encontrar, no prefácio à primeira edição em língua portuguesa, afirmativas como:
[foi concebido para] "encontrar-se a si mesmo nos seus avós, nos seus antepassados, nos brasileiros de uma época anterior à sua e à dos seus pais." (2008, p.35)
E já no início do trabalho propriamente dito, Freyre declara que
"o Brasil dos meados do século XIX não era só constituído por vários Brasis, regionalmente diversos: também por vários e diversos Brasis quanto ao tempo ou à época vivida por diferentes grupos da população brasileira."
Esta passagem induz a uma reflexão sobre tantos modelos fechados, obras adotadas pelas escolas e que tentavam convencer de que o Brasil era assim ou assado e que as coisas aconteciam sempre da mesma maneira em todo o 'território nacional'. Quantos não se surpreenderam ao perceber que a sua cidade, a sua região ou a sua família não guardava relação alguma com o que declaravam tais obras?
E quantos não consideram ridículos alguns fatos que ouvem de seus avós? Neste aspecto, temos uma declaração no final da tese acadêmica, sugerindo que alguma coisa do passado pode parecer grotesca
"para os pósteros que se voltem para esse aspecto de vida dos seus avós ou bisavós com olhos apenas de turistas no tempo". (p. 115)
Ao contrário, quando buscamos ir um pouco além na tentativa de compreender as motivações de um dado momento, abandonamos os preconceitos e adotamos outra visão não só do passado como de tudo que está ao nosso lado.