"a cidade pode ser lida como um texto que registra as atitudes de uma sociedade perante os fatos mais elementares de sua existência". (Barros, p.28)
Ao olhar uma cidade nesta perspectiva sugerida por José d'Assunção Barros no livro Cidade e História, publicado pela Editora Vozes em 2007, provavelmente haverá um envolvimento bem diferente daquele cotidiano, quando se atravessam as ruas, ou daquele momento em que se escolhe o melhor ângulo para uma fotografia panorâmica. O mesmo autor, na página 40, cita Roland Barthes, em A Aventura Semiológica:
"A cidade é um discurso, e esse discurso é verdadeiramente uma linguagem: a cidade fala a seus habitantes, falamos nossa cidade, a cidade em que nos encontramos, habitando-a simplesmente, percorrendo-a, olhando-a".
Este livro foi procurado na estante após ouvir uma entrevista realizada com descendente de imigrante que viveu em Leopoldina na primeira década do século XX. Em certo trecho ela declara que seus avós guardavam a melhor roupa para usar em duas situações: para ir à Igreja ou quando iam visitar o padrinho de um dos filhos que morava na principal rua da cidade. Acrescenta que eles gostavam de olhar para as fachadas e os jardins das casas e sonhavam vir a residir na área urbana. Depreende-se que eram raras as "viagens" até Leopoldina, por parte daqueles colonos que viviam a 4 ou 5 km da sede do município. Em outra situação, o neto de um imigrante disse que seu avô guardou, até o fim da vida, uma fotografia da Estação Ferroviária, dado o encantamento que sentiu ao ali desembarcar depois de quase dois meses viajando para estabelecer-se no Brasil.
Não só os imigrantes achavam bonitas as ruas centrais de Leopoldina. Em livros como o Minas Gerais e seus Municípios, de Roberto Capri, publicado pela Pocai Weiss de São Paulo em 1916, observa-se um certo respeito pelas edificações existentes no centro da cidade. Entretanto, José de Assunção Barros lembrou (pag. 41) que os habitantes reescrevem suas cidades e os prédios que demonstravam riqueza e poder num dado momento podem degenerar-se no período seguinte e se transformarem até mesmo em símbolos da marginalidade. Este autor ressalta que a deterioração de um bairro pode significar a mudança do eixo econômico ou cultural.
O que terá acontecido, por exemplo, com as chácaras existentes no bairro do Rosário, mencionadas em jornais do início do século XX como locais de grandes festas? O poder econômico transferiu-se para outros logradouros, deixando-as sem manutenção até não ser mais possível recuperá-las? Nos bairros mais afastados, que ao final do século XIX eram ainda área rural com sedes de grandes fazendas, existe alguma construção preservada? Como está aquela sede de fazenda, no Alto Pirineus, que na década de 1960 era como que uma fronteira entre o urbano e o rural?
São questões a serem pensadas, não só em Leopoldina como em qualquer outra cidade. Vieram à tona, neste momento, em consequência de reflexões suscitadas pela lembrança de descendentes de imigrantes. Eles que foram, muitas vezes, artífices de obras de arte como algumas que ainda podemos ver no cemitério municipal, ou a portada da Catedral.