Em História e Memória (4. ed. Campinas: Unicamp, 1996), Jacques Le Goff declara que o passado é possível recuperar duas formas de memória: os monumentos e os documentos. Monumento é o que pode evocar o passado e permitir a recordação do vivido, como estátuas, construções e atos escritos. Assim como os monumentos entendidos nesta acepção, os documentos históricos são também monumentos, produzidos conscientemente para deixar registrado um momento, uma passagem ou uma forma de ordenamento social. O documento escrito é resultado da escolha de quem o produziu, baseado nas concepções vigentes ao seu tempo.
Acrescente-se o ensinamento de Michel de Certeau em A Escrita da História (2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p.81) a respeito da produção de documentos pelo pesquisador. Ao iniciar um trabalho, é necessário separar o material e reordená-lo na forma adequada ao estudo que se pretende. Este movimento é designado como produção de documentos de pesquisa. Portanto, numa pesquisa historiográfica podem ser utilizados documentos históricos (monumentos) para se produzir documentos de pesquisa. O estudioso, segundo Michel de Certeau, não aceita simplesmente os dados, mas combina-os para constituir as fontes sobre as quais atuará.
Sobre este aspecto, lembremo-nos de Carlo Ginsburg em Mitos, emblemas, sinais (São Paulo: Cia das Letras, 1990) quando chama a atenção para o fato de que se deve dar prioridade à fonte original, procurando o que é peculiar e importante para reconstruir um acontecimento do passado de acordo com os objetivos do estudo que se realiza.