Resposta à reflexão de uma historiadora

Acabo de voltar de uma pequena viagem que fiz a Minas para apresentar-me no Seminário Memória da Imigração em Cataguases. O evento foi de tal forma encantador que talvez eu ainda não tenha me dado conta da grandeza do que ali foi decidido. Afinal, a experiência que tivemos em Leopoldina, no ano do Centenário da Colônia Agrícola da Constança, foi diferente do que acabo de sentir em Cataguases. Notícias do evento serão oportunamente publicadas no blog daquela Colônia.

Quando me preparava para escrever um relato do Seminário, deparei-me com a seguinte matéria:

Brasil: História e Ensino: REFLETINDO SOBRE MEU PAPEL COMO LEOPOLDINENSE: O QUE POSSO FAZER PARA TER UMA LEOPOLDINA MELHOR?

Ao apresentarmos um resumo da pesquisa que estamos realizando, Joana Capella e eu informamos ao público presente que nosso objetivo era convidar os participantes para um esforço conjunto que permitisse, aos atuais moradores do município de Cataguases e Itamarati de Minas, tomarem conhecimento de alguns aspectos da história local que fazem parte da formação da identidade dos cidadãos e, consequentemente, da memória individual e coletiva. Nós acreditamos que, ainda que adormecidos pelo tempo, os acontecimentos de que participaram os imigrantes precisam ser conhecidos pelas atuais gerações. Nós reforçamos a nossa identidade em monumentos e celebrações que muitas vezes tendem a apagar da história as "massas dormentes" de que fala Le Goff. Os "silêncios da história" já foram abordados por diversos historiadores, além de Le Goff, Pierre Nora e Ciro Flamarion Cardoso, para citar apenas alguns. E se nada fizermos, estaremos compactuando com o que decidem os administradores das nossas cidades que, em grande parte dos casos, também não tiveram oportunidade de conhecer o tema.

Por outro lado, todos temos necessidade de investir nosso tempo na busca de uma sobrevivência digna. Muitos dos que estão realizando pesquisas acadêmicas não dispõem de tempo ou recursos para se dedicarem ao voluntariado. E o público que já se afastou há tempos dos bancos escolares talvez nem tenha oportunidade de ler, ouvir ou assistir alguma coisa que lhes diga respeito tão de perto. E assim, ao serem questionados pelas crianças, muitos repetem as lendas que a memória coletiva solidificou.

Os desfiles cívicos, tão caros aos detentores de cargos nas administrações municipais, tiveram seu momento num passado em que não se dava voz ao cidadão comum e, consequentemente, não abria espaço para que o povo refletisse sobre os problemas que afetam qualquer comunidade. Tais celebrações mais não fazem do que reforçar as escolhas de quem, consciente ou inconscientemente, produziu os "lugares de memória" tão bem abordados por Pierre Nora.

Em virtude desta minha crença, e por acreditar que nenhum ser humano é capaz de realizar quaisquer empreendimentos de forma individual, venho dedicando parte do meu tempo a participar de ações que sirvam "para a libertação, e não para a servidão dos homens" (LE GOFF).

É por isto, amiga Natânia, que eu destaco uma das frases de sua postagem de hoje: "Estamos sempre esperando que as pessoas ou os órgãos públicos façam por nós algo que nós poderíamos fazer, mesmo que com muitas limitações".

Suas observações são legítimas e eu sei que você não é como aquele funcionário que se dirige ao chefe para reclamar de um problema do setor. Pelo contrário, você age conforme o que modismo atual classifica na categoria de proatividade.

Sendo assim, republico a sua questão, estendendo-a aos administradores da nossa cidade: "o que podemos fazer para desenvolver nossa Leopoldina, para construir sua história, para preservar suas tradições e cultura, para melhorar o ensino nas escolas, para efetivamente caminhar para um desenvolvimento que não nos foi dado mas que nós conquistamos?"
Esta minha postagem tem por objetivo solidarizar-me com os anseios desta grande leopoldinense, Natânia Nogueira, que muitas tentativas tem feito para usar sua especialidade em prol de nossos conterrâneos. Ainda que eventualmente seus projetos não se realizem a contento, Natânia, tenha a certeza de que você tem aberto inúmeras oportunidades para que todos possam refletir e se reposicionarem no mundo, exercitando um novo olhar e uma outra postura.