Freqüentemente recebo mensagens a respeito de alterações ortográficas em nomes e sobrenomes. De modo geral os remetentes se referem a erros cometidos. Como esta não é a minha opinião, hoje vou relatar alguns casos com os quais já me deparei.
Antes, porém, gostaria de lembrar que grandes línguas sofreram reforma ortográfica no século XX, afetando a forma como são escritos nomes e sobrenomes. Além disso, é importante observar que na década de 1940 foi adotado no Brasil o Vocabulário Ortográfico e Ortoépico da Língua Portuguesa, organizado pela Academia Brasileira de Letras de acordo com as normas da Academia de Ciências de Lisboa. Entre outras modificações dele conseqüentes, temos a mudança de Brazil (com z) para Brasil (com s).
Sendo assim, creio ser um tanto precipitado afirmar que foram cometidos erros, já que as normas podem ter sido alteradas após o registro de nascimento da pessoa em análise. A propósito, cito o Manual de Redação do jornal O Estado de São Paulo que indica o respeito pela ortografia original enquanto a pessoa for viva, adequando às normas após o seu falecimento. Exemplo clássico deste procedimento é o nome da escritora Rachel de Queiroz que agora vem como Raquel de Queirós.
Entretanto, quando se trata de estudos genealógicos organizados em banco de dados informatizados, é preciso tomar um cuidado adicional. É necessário adotar procedimentos que permitam localizar os nomes pelo sistema de indexação oferecido pelos softwares. Por exemplo: se lançarmos as variações Rezende e Resende será mais difícil localizar um personagem específico entre milhares de outros. Na minha opinião, cada pesquisador deve escolher seu próprio método.
Em meus estudos sobre os imigrantes que viveram em Leopoldina, encontrei inúmeras alterações de sobrenomes. Uma parte pode ter ocorrido por conta de processos de registro de estrangeiro em que foram obedecidas as normas ortográficas vigentes no Brasil da época. Outros indicam problemas de interpretação. O imigrante era analfabeto e o oficial do cartório ou o padre não conheciam a língua italiana. Como nem sempre eram apresentados documentos probatórios, escreviam o que entendiam da fala do requerente.
Mas encontrei também casos diferentes. Nas respostas que obtive dos Archivi di Stati já recebi indicação de duas variações para o mesmo sobrenome. Um deles o traz escrito com duas letras "z" e com duas letras "c" e explica "ma poi individuato come ..." Consultando uma professora de cultura italiana, ela afirmou que tais diferenças ainda são bastante comuns na Itália, variando a ortografia entre as diversas regiões e até mesmo entre comuni próximas.
Outro. Encontrei uma variação no sobrenome de uma família a respeito da qual localizei três documentos: o passaporto, a lista de embarque na Itália e o Certificato di Famiglia emitido pelo Archivio di Stato. Até hoje não decidi qual grafia adotar porque as três são diferentes e as variações também aparecem em dois Atti di Nascita de descendentes.