Leopoldina, MG |
61 – As dificuldades de muitos na chegada ao Brasil Posted: 03 Nov 2016 02:32 AM PDT
O Trem de História anterior terminou falando dos confusos cruzamentos das linhas férreas em um pátio de manobras. E comparou estes cruzamentos com os das linhas genealógicas. Hoje, ele vai percorrer uma outra confusão, muito comum entre brasileiros descendentes de portugueses, qual seja a de imaginar que seus antepassados chegaram ao Brasil com capital para iniciar um negócio. E para melhor compreensão das condições da passagem dos açorianos, começamos por citar alguns aspectos que evidenciam as dificuldades pelas quais passaram os portugueses que vieram para o Brasil depois da nossa Independência. Um assunto que tem sido objeto de muitos estudos aqui e em Portugal. Em artigo para o Museu das Migrações e das Comunidades de Fafe, Portugal, por exemplo, Miguel Monteiro(1) declarou que iniciou o estudo sobre o assunto "com a ideia de confirmar a hipótese de que a Migração interna correspondia às classes sociais desfavorecidas e Emigração para o Brasil a indivíduos provenientes da classe média e alta, particularmente até aos finais do século XIX." Entretanto, no decorrer do trabalho, Monteiro constatou que a maioria dos que atravessaram o atlântico entre 1834 e 1926 fugia deste estereótipo. O autor demonstrou que veio um grande número de crianças do sexo masculino entre 13 e 15 anos de idade, que chegavam ao Rio de Janeiro com uma carta de recomendação para algum patrício com quem geralmente se empregavam. As histórias de muitos deles são bons exemplos de como viviam. Um destes jovens declarou que, ao despedir-se do primeiro emprego em dezembro de 1830, recebeu(2) "do resto dos meus salários 6$419 reis. Era esta toda a minha fortuna no fim de 3 anos e 4 meses de sofrimento e provações no Rio de Janeiro!" Para aqueles que acreditam na imensa capacidade de enriquecimento dos portugueses em terras brasileiras, o autor transcreve um trecho do diário de um deles(3):
Parece ter sido esta a sina de Antonio V e Luiz II, os dois jovens da família Botelho Falcão que deixaram a ilha açoriana de São Miguel em torno de 1850. Conforme já ressaltamos, não é possível fazer muitas afirmações sobre a trajetória deles por falta de fontes confiáveis. Um dos primeiros obstáculos que encontramos foi a afirmação de Luiz Eugênio Botelho de que seu pai, aqui denominado Luiz Botelho Falcão IV, teria nascido no dia 10.08.1851, em Leopoldina. Este nascimento não foi encontrado, nem tampouco o casamento dos pais de Luiz Eugênio. Apesar da possibilidade de Luiz Eugênio ter calculado a idade do pai com base em informações orais, aqui o nome do açoriano fica mantido como Luiz Botelho Falcão II e o nome do avô de Luiz Eugênio como Luiz Botelho Falcão III, Quanto ao vínculo do avô de Luiz Eugênio com a família de Manoel Botelho Falcão IV, cuja genealogia foi descrita no início deste ensaio, um indicativo foi a repetição do apadrinhamento nos casamentos dos filhos de Manoel IV, hábito comum nas ilhas atlânticas portuguesas naquela época. Ainda que não tenha sido possível levantar muitas informações sobre a situação econômico-social da família Botelho Falcão em Leopoldina, os casamentos com pessoas de famílias há muito estabelecidas no município parecem indicar um percurso de ascensão social. Embora em 1856 não tenha sido encontrada propriedade em nome de Luiz Botelho Falcão III, em 1859 ele sofreu uma ação contestatória por ter informado um tamanho maior para a chácara que vendera a Lauriano João Celestino Ferreira e em 1896 a família era proprietária de uma edificação urbana recebida por herança de Luiz Botelho Falcão III. O foco da pesquisa segue, a partir de agora, os caminhos dos filhos de Luiz Botelho Falcão III e Ana Cecília: Luiz Botelho Falcão IV e Eugênio Botelho Falcão. Mas por hoje o Trem de história fica por aqui. No próximo mês voltaremos a falar da família Botelho Falcão. Fontes Consultadas: 1 – MONTEIRO, Miguel. Emigração para o Brasil (1834-1926): os números e a autobiografia – sair, viver e regressar na primeira pessoa. Disponível em <http://zip.net/bbtpVB> Acesso 23 jan. 2012 p.1 2 – Idem, p. 11 3 – Idem, p. 9 Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA Publicado no jornal Leopoldinense de 16 de outubro de 2016 |
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